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Na biblioteca de Darwin

Por Cinthia Rodrigues, do Carta Educação.

“Quando a bordo do HMS Beagle, como naturalista, fiquei muito impressionado com certos fatos.” Assim, na primeira frase da primeira página de A Origem das Espécies, Charles Darwin não deixa dúvida da importância que teve a viagem de cinco anos que fez com o navio da Marinha Britânica ao redor do mundo e que terminou com as ideias revolucionárias sobre evolução e seleção natural.

Além das observações de campo, inspiraram Darwin as obras da biblioteca da embarcação, que agora estão disponíveis gratuitamente na internet no site Darwin Online.

Apesar de inicialmente planejar uma viagem de dois anos, o jovem cientista de 22 anos levou com ele 181 livros quando partiu da Inglaterra em 27 de dezembro de 1831. Instalados na parede de trás de sua cabine, eles eram sua ocupação principal no navio. A maior parte (36%) era de viagem, depois história natural (33%), geologia (15%), atlas (7%), literatura (4%), obras de referência (3%) e história (2%). No retorno, em 1836, o acervo havia dobrado de tamanho com os escritos do naturalista e do capitão Robert FitzRoy, um dos pioneiros em meteorologia.

No Diário do Beagle, ao descrever as intenções da viagem, Darwin detalhou seu plano de leitura: “Os principais objetivos são coleta de observação e leitura de todos os ramos de história natural que eu puder administrar, observação de meteorologia, francês, espanhol, matemática e um pouco de literatura clássica. Talvez não mais que o Testamento Grego aos domingos. Eu espero geralmente ter um livro em mãos para meu divertimento exclusivamente relacionado aos temas mencionados”.

Tanto leu, que as obras eram mencionadas no meio de suas anotações. Foi a partir do estudo do material produzido durante a expedição que surgiu para os pesquisadores do Darwin Project, que mantém o site, a necessidade de conhecer a biblioteca do Beagle. Em 1980, eles haviam, reconstruído 132 trabalhos feitos durante a viagem, a partir das evidências coletadas durante as paradas em Cabo Verde, em todo o contorno da América do Sul, Austrália e África do Sul, além das paradas nas Ilhas Malvinas, Galápagos, Maurício e Keeling.

Em alguns dos manuscritos havia referências muito rápidas e que dificilmente podiam ser entendidas sozinhas como “Ellis história do cavalo”, anotado em um texto sobre possíveis antepassados anfíbios. Com a análise da biblioteca do Beagle, o atalho foi identificado como uma lembrança do livro do missionário William Ellis, que descreveu um cavalo que pulou no mar no Taiti em 1817.

O acervo da biblioteca Beagle no site é totalmente digital e permite a busca por qualquer palavra que conste nas obras. Nos resultados, além dos textos reproduzidos, há um quadro com as informações da obra e, em alguns casos, imagens digitalizadas. Também foram incluídas imagens fantásticas da comparação entre espécies encontradas em diferentes destinos da viagem que foram decisivas para suas conclusões sobre a origem comuns e a evolução adaptativa.

Do total, 125 títulos estão em inglês, 38 em francês, 9 em espanhol, 7 em alemão, 1 em latim e 1 em grego. A biblioteca do Beagle soma-se a outros 20 mil itens sobre o trabalho de Darwin, compartilhados pelo site gratuitamente, que geram mais de 100 mil imagens digitalizadas, incluindo o primeiro rascunho de A Origem das Espécies.

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