Enquanto alguns bibliotecários e entidades representativas da classe se preocuparam em responder ao jornalista Luis Antônio Giron, que causou polêmica e indignação no meio biblioteconômico com o artigo intitulado Dê adeus às bibliotecas, publicado pela Revista Época na edição do dia 15/05, as condições de funcionamento e estrutura das Bibliotecas Públicas Brasileiras não correspondem a uma realidade ideal e o descaso do poder público é uma barreira que dificulta a garantia de manutenção e criação desses espaços.
Na edição de comemoração do Dia do Bibliotecário desse ano, a Revista Biblioo publicou uma matéria de capa sobre as Bibliotecas que Mais Receberam Investimento no País, mas na prática a realidade das Bibliotecas Públicas brasileiras é bem diferente dos três exemplos apontados pela nossa reportagem.
O primeiro Censo Nacional das Bibliotecas Públicas Municipais, em pesquisa encomendada pelo Ministério da Cultura (Minc) e realizada pela Fundação Getúlio Vargas (FGV) no ano de 2009, revelou que em 420 municípios do país as Bibliotecas Públicas Municipais foram extintas, fechadas ou nunca existiram, e, além disso, menos de 10% das Bibliotecas Municipais visitadas oferecem os padrões de acessibilidade necessários às pessoas com deficiência.
O início do movimento
Frente à problemática da questão, alguns indivíduos começam a se movimentar visando a reversão deste quadro. Uma prova clara disso é a criação do movimento Abre Biblioteca, que reivindica a reabertura da Biblioteca Pública do Amazonas. Fechada há cinco anos para reformas, esse espaço não vem sendo tratado como uma prioridade pelo poder público local.
A Secretaria de Cultura do Estado já prometeu reabrir a biblioteca pela terceira vez, mas até agora nada foi feito.
O movimento Abre Biblioteca nasceu durante a realização da Primeira Bienal do Livro do Amazonas (ocorrida entre os dias 27 de abril a 06 de maio de 2012), inspirados no Marea Amarilla (Maré Amarela), movimento criado em prol da luta pelas Bibliotecas Públicas da Espanha. As bibliotecárias Soraia Magalhães, Katty Anne Nunes, o estudante de Biblioteconomia Thiago Siqueira e a design Evany Nascimento decidiram criar uma mobilização para garantir a reabertura deste espaço há muito esquecido pelo governo.
Através da movimentação e das atividades desenvolvidas na Bienal do Livro do Amazonas – como a contação de histórias, as rodas de leitura e a conversa com autores – os idealizadores do movimento perceberam como o povo amazonense é carente em relação ao acesso aos serviços informacionais e o quanto seria importante para a cidade se a Biblioteca Pública fosse reaberta, oferecendo essas atividades para a população não apenas em eventos esporádicos.
O primeiro passo foi dado no dia 09 de maio através da criação de uma petição pública em formato digital e impresso. Em apenas 11 dias, 892 pessoas assinaram a petição online e a impressa já atingiu a marca de 600 assinaturas. Além da petição, foi criado um grupo de discussão no facebook com 3.427 seguidores até o momento. A população local, artistas amazonenses e estudantes de Biblioteconomia estão apoiando o movimento.
A resposta do poder público aconteceu no dia 15 de maio, quando o secretário de cultura do estado, Robério Braga, em depoimento a um jornal local, determinou a reabertura da biblioteca no prazo máximo a 60 dias, e, além disso, se predispôs a assinar a petição pública.
De acordo com Soraia Magalhães, uma das idealizadoras do movimento, “o que buscamos com essa mobilização é possibilitar a população acesso ao uso do livro e da biblioteca, sendo a segunda premissa a mais importante, por compreendermos que se torna mais fácil promover incentivo à leitura quando temos um pólo gerador, um espaço representativo, onde se pode ir, onde se pode experimentar e viver várias formas de leituras”.
O fim das bibliotecas é a solução?
O Brasil é um país com um déficit de leitura muito grande. De acordo com a pesquisa Retratos da Leitura no Brasil encomendada ao Ibope pelo Instituto Pró-Livro, 77 milhões de brasileiros não leem livros regularmente, quantidade que representa 92% da população brasileira. A pesquisa também revela que a frequência a biblioteca está ligada à classe social: enquanto 43% dos entrevistados da classe A usam as bibliotecas frequentemente, a porcentagem cai para 35% na classe B, 24% na classe C e 14 nas classes D e E.
As diferenças sociais são gritantes em nosso país e grande parte da população ainda não tem acesso aos meios informacionais e muito menos condições de adquirir as novas tecnologias oferecidas como salvação pelo mercado. O movimento Abre Biblioteca representa a luta pela garantia da manutenção e criação de Bibliotecas Públicas. Esses espaços são de suma importância na luta pela democratização da leitura no Brasil.
Será que dando um adeus as bibliotecas vamos reverter esse quadro?
Clique aqui para ler integralmente a entrevista de Soraia Magalhães que compôs essa reportagem.
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