A população de Pedro Leopoldo, município de cerca de 63 mil habitantes localizada à 46 km de Belo Horizonte (MG), está revoltada após a Prefeitura local decidir fechar a Biblioteca Pública e transferir o seu acervo para bibliotecas escolares da região e para outros espaços.
Criada pela Lei nº Lei nº 1.385 de 1985, a Biblioteca atendia cerca de 600 leitores por mês, sendo muito valorizada pela comunidade. Uma petição pública, que já conta com mais de 2 mil assinaturas, foi criada para tentar mobilizar a população, que hoje conta com poucos espaços como este na cidade.
Além disso, foi realizado um ato pela reabertura da Biblioteca (que ocupa um prédio histórico onde antes funcionava a estação ferroviária da cidade), bem como houve a tentativa de realização de uma audiência pública na Câmara dos Vereadores para discutir a questão, o que acabou não ocorrendo.
O “S.O.S. Biblioteca”, um movimento popular composto por cidadãos de Pedro Leopoldo com o objetivo de preservar a Biblioteca Pública Municipal, considera que não devem ser confundidas ou misturadas as funções e naturezas da biblioteca pública, das escolares e dos centros comunitários.
“Os três tipos [de bibliotecas] devem receber investimentos específicos e incentivo de frequência públicos para o benefício da comunidade”, defendem os integrantes do grupo formado por bibliotecários, professores, profissionais de saúde, entre outros.
O movimento entende que o melhor local para a Biblioteca é a Praça da Estação, defendendo sua revitalização para acomodar o acervo de livros, os espaços de estudo, o Arquivo Geraldo Leão, ponto de informações turísticas e atividades culturais, mediante um projeto bem estruturado, que potencialize o espaço e contemple as necessidades e direitos da população.
O Plano Diretor da cidade prevê a estruturação adequada da Biblioteca Pública Municipal, chamada de Dona Sinhazinha Caldas e que conta com um acervo de cerca de 7 mil títulos, além de apontar a obrigação do poder público em ampliar o número de bibliotecas existentes, instituindo uma política de incentivo à leitura.
Nas redes sociais os usuários também reclamaram da medida considerada arbitrária. “Qualquer pessoa que já leu um livro tem obrigação moral de lutar contra essa tragédia da prefeitura de acabar com a biblioteca pública na Praça da Estação”, disse Matheus Utsch, um dos integrantes do “S.O.S. Biblioteca” no Facebook. Na última sexta-feira (22) o prefeito da cidade, Cristiano Elias dos Reis Costa, anunciou a proposta de alocar a Biblioteca na Secretaria Municipal de Educação enquanto fossem feitas obras de reparo no prédio.
“Estamos tentando negociar que após a reforma a biblioteca volte ao seu local de origem”, disse à Biblioo Maria Luiza Diniz, que também integra o “S.O.S. Biblioteca”.
Maria Luiza Diniz foi bibliotecária por 31 na Biblioteca Pública de Pedro Leopoldo, mas se aposentou em 2017. Desde então a Prefeitura não contratou novos bibliotecários que são os únicos profissionais habilitados legalmente para dirigir este tipo de instituição.
A Biblioo procurou a Prefeitura que informou que a Biblioteca Pública não foi fechada, mas sim que fechou o prédio onde ela estava localizada para a realização de reformas na sua estrutura, pois no local funcionará o Arquivo Histórico Geraldo Leão e o Centro de Apoio ao Turismo.
A Prefeitura também rebateu a informação de que o acervo seria distribuído entre as bibliotecas escolares do município. Segundo a administração, todo o acervo será centralizado na nova Biblioteca Municipal, que passará a funcionar na Secretaria Municipal de Educação, localizada no mesmo complexo histórico da casa da estação, endereço anterior.
“O local faz parte do patrimônio histórico da cidade e trata-se de um imóvel próprio da Prefeitura, além de ser mais amplo e arejado. O local está passando por adaptações para receber o acervo. Dentre elas, reparos no telhado para que não haja umidade no local, a modernização do espaço com bancadas para computadores para acesso à internet, implantação da brinquedoteca (biblioteca para crianças), sala exclusiva para estudos e novas prateleiras para o acervo. A biblioteca municipal Dona Sinhazinha Caldas permanecerá com o mesmo nome, porém, será ampliada e modernizada”, informou a Prefeitura.
Questionada sobre as críticas que dizem que a decisão foi arbitrária por não ter havido diálogo com a população, a gestão municipal disse que “toda mudança gera receio”, mas que acredita “que este novo projeto, que teve grande aceitação popular, será o melhor para a ampliação e modernização da biblioteca e, consequentemente, o incentivo à leitura e preservação do patrimônio de Pedro Leopoldo”.
Sobre contratar um novo(a) bibliotecário(a), único profissional legalmente habilitado para dirigir este tipo de instituição, a Prefeitura informou que o projeto já está em fase de elaboração pela Secretaria Municipal de Educação e, em breve, será publicado o processo seletivo para a contratação do profissional.
*Esta reportagem foi atualizada às 14h do dia 28 de março para acrescentar a posição da Prefeitura de Pedro Leopoldo