Atualmente o Museu da Maré passa por uma situação complicada que pode resultar em seu fechamento. Com o intuito de mostrar a riqueza e importância desse espaço, a Revista Biblioo conversou com Marilene Nunes da Silva, coordenadora da Biblioteca Comunitária Elias José que integra o Museu. Ela contou um pouco do processo de criação da biblioteca e das atividades desenvolvidas junto a crianças e jovens da localidade.
Como se deu o processo de Criação da Biblioteca Comunitária Elias José?
Desde a época da Rede Memória da Maré, que desenvolvia o trabalho de contação de histórias, havia o desejo da criação de uma biblioteca voltada para os públicos infantil e juvenil. Esse desejo ficou ainda mais forte com a publicação do livro “Contos e Lendas da Maré” e com a inauguração do Museu da Maré. Em 2008, o Centro de Estudos e Ações Solidárias da Maré (CEASM), Organização Não Governamental (ONG) gestora do Museu, participou de um edital do instituto C&A, tendo sido contemplado. A partir disso, nasceu a Biblioteca Elias José (BEJ). O nome foi escolhido pelas crianças após terem tido seu primeiro contato com os livros do escritor Elias José, da coleção Patati-Patatá. Desde 2009, a biblioteca faz parte de uma rede de bibliotecas comunitárias chamada Polo Conexão Leitura, que agrega as seguintes bibliotecas comunitárias, além da BEJ: Ateliê das Palavras, na Mangueira; Esquina do Livro, no Engenho Novo; Plantando o Futuro, em Rio das Pedras.
Qual o papel da biblioteca no projeto do Museu da Maré?
Integração. O público que frequenta a biblioteca também participa de outros projetos desenvolvidos pelo Museu. O adulto traz o filho para alguma atividade das oficinas culturais, por exemplo, e acaba aguardando-o na BEJ, ela é uma porta de entrada no Museu.
Como é formada a equipe da Biblioteca?
A equipe é formada por quatro pessoas: Marilene Nunes (coordenadora); Terezinha Normandes (Mediadora/ Atividades com crianças); Sandra Martins (Mediadora/ Catalogação do acervo) e Cláudia Rose (Gestora Institucional).
Quais os assuntos contemplados pelo acervo?
O acervo é bem diversificado por gêneros literários. Temos contos, fábulas, romance, crônica, poesia, ficção, terror, suspense, gibi, teatro, arte, religião. Apesar de ser uma biblioteca literária, possui uma pequena quantidade de livros didáticos, por conta de crianças e jovens procurarem a BEJ para fazer pesquisa escolar.
De que forma os moradores da localidade utilizam os produtos e serviços oferecidos pela biblioteca?
Todos os leitores/frequentadores têm uma ficha de inscrição com seus dados e uma carteira para o empréstimo de livros. Além disso, duas vezes na semana um grupo fixo de crianças participa das atividades de incentivo à leitura e contação de histórias.
Como você enxerga a importância da biblioteca para a Maré?
A biblioteca é importante em qualquer lugar por contribuir para ampliar o acesso ao livro e à leitura de crianças e jovens, que são a maioria dos frequentadores. Em alguns casos, o primeiro contato com o livro e o prazer pela leitura acontecem na biblioteca.
A Biblioteca já foi contemplada por algum edital público ou vocês recebem algum tipo de apoio financeiro?
Sim. Com um prêmio do edital da Secretaria de Cultura para os pontos de leituras. Além disso, o Instituto C&A apoia financeiramente parte das ações realizadas pela BEJ.
Como você recebeu a notícia de um possível despejo do Museu da Maré? Quais são as perspectivas para a continuidade do trabalho desenvolvido pela Biblioteca após esse caso?
Recebi a noticia com muita tristeza e surpresa, pois não esperava que fossem pedir para desmontar tudo num tempo tão curto e guardar em algum lugar. O Museu não é qualquer coisinha, é um espaço cheio de histórias, é um guardador das memórias do povo da Maré, é um lugar onde o povo entra e se não tiver ninguém para mediar, os objetos e as fotos dialogam com os visitantes, os próprios moradores que visitam o Museu são os mediadores da exposição. O trabalho poderá ser desenvolvido nas praças, nas escolas, nas creches, nas portas das casas das crianças, em qualquer lugar. Temos livros/acervos de boa qualidade e pessoas comprometidas com a leitura também, só faltará um lugar para guardar tantos livros.
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