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Mariana Corrêa

RIO – Mariana Corrêa, gerente da ONG Entre Amigas, fala sobre a instituição dedicada a trabalhar a autoestima da mulher.

Rodolfo Targino: Mariana, como surgiu a ideia da criação da ONG entre amigas?

Mariana Corrêa: A ONG foi fundada pela jornalista Márcia Peltier. Ela tinha um programa que se chamava Clube das Mulheres. Ela percebeu nesse programa que ela ajudava uma mulher em cada exibição. Ela percebeu que existiam muitas mulheres que se inscreviam e ela não podia ajudar. Daí surgiu essa vontade de ter um projeto voltado para mulher. Daí começamos a trabalhar com cursos porque acreditamos que a mulher é o pilar da família, a base. Então a gente teria que colocar cursos profissionalizantes. Começamos com parcerias com o Copacabana Palace; com o Werner [Coiffeur], com curso de cabeleireiro; atendimento psicológico; ioga e tudo voltado para o bem-estar da mulher.

R. T.: Além de trabalhar em prol do resgate da autoestima da mulher, quais são as outras atividades desenvolvidas pela ONG?

M. C.: Além dos cursos profissionalizantes, nós estamos sempre buscando palestras sobre saúde da mulher, sobre comportamento, temos a ioga, atendimento psicológico e estamos sempre buscando algo que possa melhorar a vida da mulher.

R. T.: Vocês possuem uma biblioteca aqui na ONG com o acervo voltado para o público feminino e sabemos que a organização se deu com a parceria da ONG Esquina do Livro. Como foi essa parceria, a aceitação do público com essa biblioteca, como é esse contato?

M. C.: A ONG Esquina do Livro, localiza-se no Campinho [bairro da Zona Oeste do Rio] é voltada para o público infantil. Só que a diretora, a Titi de Lamare, recebia muita doação de livros adultos, livros diversos que não se encaixariam no programa. Ela é amiga da Márcia e quando a Márcia comentou que havia uma ONG voltada pra mulher foi a deixa pra pegar um espacinho e botar esses livros que ela não podia utilizar lá com as crianças. A aceitação no começo, eu sinceramente achei que não teria muita procura, porque o público que atendemos aqui não tem muita essa cultura, essa vontade de ler. Eu estava totalmente enganada, porque por semana temos mais ou menos uns cinquenta empréstimos e isso só aumenta e inclusive de homens porque eles podem pegar livros aqui. Tem muitos homens buscando, dando sugestões de livros. Falam qual livro que mais gostaram. É uma aceitação bacana. Me surpreendendo até mais do que eu esperava.

R. T.: Em relação ao público de vocês, as mulheres são oriundas somente da cidade do Rio de Janeiro ou tem de outros municípios?

M. C.: Não, no começo quando fizemos a inauguração da ONG era só voltada para funcionários do Metrô Rio que é o nosso maior parceiro e parentes dos funcionários. Só que vimos que podíamos expandir. Aí colocamos na internet e agora tem gente de São Gonçalo, Niterói, Barra de Guaratiba, Cachoeira de Macacu. Então é bem amplo. Atendemos a muitas comunidades e tem bastante mulher aqui [risos].

R. T.: Você falou das parcerias. Como é mantida a instituição Entre Amigas?

M. C. : A gente tem as parcerias e essas parcerias cedem seus profissionais pra dar os cursos aqui. É o caso do Werner e do Copacabana Palace. Nós temos o Metrô que é o nosso maior patrocinador que cede todo o espaço, toda infraestrutura. Outros professores de ioga, artesanato são voluntários e temos algumas doadoras que colaboram. A gente tem umas trinta mulheres que fazem doações, mas o maior patrocinador é o Metrô.

R. T.: E nesses poucos mais de dois anos de existência da ONG quais os resultados que vocês podem nos apresentar?

M. C.: Em dois anos… Eu fiz o balanço no começo agora de janeiro.  Até dezembro de 2010 a gente tinha ajudado, capacitado, com ajuda psicológica mais ou menos 900 mulheres que passaram por aqui que concluíram cursos, que ficaram na terapia, que fizeram ioga. E agora esse ano temos a pretensão de aumentar muito mais. Como tem a cozinha industrial, que nós estamos montando, vamos ter mais ou menos uns dez cursos de culinária. Então acredito que tenha um público ai bem grande na metade do ano. Até ao fim do ano acho que a gente consegue capacitar mais umas trezentas mulheres.

R. T.: Você está na ONG desde o início?

M. C.: Desde quando ela era uma criança; desde quando ela estava nascendo.

R. T.: Você por estar trabalhando desde o início do projeto, o que representa esse projeto para você? Qual a lição de vida você tira dessa experiência? Você tem uma história marcante para contar?

M. C.: Histórias eu tenho mil [risos]. Quando eu vim pra cá, minha formação é em Letras, eu achei que tinha muito a ver. Disse assim: “vou lá, ver o que é; é ligada a mulher”. Então eu achei interessante. Falei: “vamos ver o que vai dar”. Ai eu percebi que era importante eu ter feito Letras, porque todos os projetos que nós fazemos, tem que ser muito bem escrito. Isso me ajudou muito. Acho que sou privilegiada por trabalhar num projeto social e poder ajudar outras pessoas. Dessas novecentas mulheres que passaram por aqui, oitocentas e noventa e nove me contaram todos os seus dramas, sua vida; das suas alegrias. Então eu já faço parte um pouco das suas vidas. Marcante, teve uma mulher que veio fazer um curso de cabelereiro e ela já tinha feito seis cirurgias cardíacas. Um problema super difícil. Ela terminou o curso e uma filha, ela tem gêmeas, tem o mesmo problema que ela. Ela chegava aqui às vezes e ela não tinha dinheiro da passagem. Ela vinha andando do São Carlos [comunidade da região Central do Rio] até aqui pra fazer o curso com a menina doente. Essa força de vontade dela de estar aqui, de fazer o curso foi bem marcante. No dia da formatura, no final de cada curso nós fazemos uma cerimônia, quando ela recebeu o diploma, ela me abraçou. Eu fico até emocionada. Ela disse: “metade desse diploma é seu!”. Porque ela vinha sempre chorando, passando mal. Esse é um dos milhões de casos, mas esse é foi marcante. E hoje ela trabalha num salão na casa dela. Tá ganhando dinheiro.

R. T.: Das mulheres que passam por aqui, vocês fazem algum tipo de mapeamento?

M. C.: Geralmente. Nosso propósito aqui… Porque quando nossos parceiros se dispõe a mandar seus funcionários pra cá, eles querem formar os profissionais pra eles. Isso já é uma forma de nós sabermos… O Copacabana Palace já contratou seis meninas da governança. O Werner já tem umas três trabalhando com ele. Isso a gente já sabe, mas sempre a cada quatro meses eu ligo para as turmas que se formaram pra saber o que elas estão fazendo. A maioria trabalha por conta própria, mas tá ganhando; tem sua renda por conta de um curso que elas fizeram aqui. Tem muita menina que faz artesanato e vende e faz em feirinha. Elas conseguem ter um lucro que elas nem imaginariam que iam ter. Tem uma certa independência financeira.

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