Em carta endereçada a autores, editores e livreiros, Luiz Schwarcz, presidente do Grupo Editorial Companhia das Letras, tece duras críticas ao candidato à presidência da República pelo PSL, Jair Bolsonaro, e pede voto para Fernando Haddad (PT). O documentos foi enviado a colaboradores nesta terça-feira (16) mas acabou vazando e circulando na internet.
Na carta, Schwarcz diz que não costumo se manifestar publicamente e que nunca pediu ou sugeriu voto em qualquer candidato, mas conclama os seus colegas editores que prezam pela liberdade de expressão a votarem Fernando Haddad, “se posicionando contra o discurso difusamente preconceituoso, contra o autoritarismo e a intolerância, símbolos do outro polo que se anuncia como alternativa no segundo turno desta eleição”.
“Posicionei a linha editorial do Grupo Companhia das Letras com independência em relação às minhas opções políticas, mas com ênfase clara em causas justas, publicando livros de apoio a minorias, que refletem a pluralidade e são contra a discriminação racial e a favor da liberdade de expressão”, diz o editor.
Schwarcz diz ter uma visão pouco positiva sobre parte importante do legado dos anos do PT no poder, entretanto, segundo ele, espera que Haddad mostre que a esquerda é capaz de fazer autocrítica e que em eventual volta do Partido ao poder seja embasada no reconhecimento de erros pregressos, “oriundos da associação a formas viciadas e incorretas da prática política no Brasil, em proporções inimagináveis e contrárias à origem e vocação de um verdadeiro partido dos trabalhadores”.
“Fernando Haddad se destacou nessa área [da educação] como ministro, o que também o qualifica para contar com o voto da classe editorial. Além disso, ele coloca a educação entre as prioridades do país, e não podemos aceitar menos que isso de nenhum candidato. Seu perfil moderado dentro do Partido nos permite viver a esperança de que os inúmeros equívocos do PT, em várias áreas, não se repitam e que o Partido volte aos compromissos que marcaram sua origem”, projeta o empresário.
Além Schwarcz, outros profissionais da área editorial se manifestaram nesta quarta-feira (17) a favor da candidatura de Haddad por meio de um manifesto. Estão entre os signatários do documento Frei Betto, Galeno Amorim, Gregório Duvivier, Eric Nepomuceno, entre outros profissionais.
De acordo com o manifesto, o apoio a Haddad se justifica em função do seu “compromisso claro com valores que são essenciais para a vida intelectual e literária de um país democrático: a promoção do letramento e da democratização da vida escolar, a defesa intransigente da liberdade de opinião e a busca pela igualdade de vozes no debate político, cultural e pedagógico”.
“Não podemos deixar de registrar, também, o risco de retrocessos que a candidatura opositora representa, ao apoiar projetos como o Escola sem Partido, que, a pretexto de instituir uma educação “neutra” – ficção em qualquer país do mundo -, visa a doutrinar os alunos com o que há de mais retrógrado e a introduzir a delação na atividade docente” destaca o documento que se mantem aberto a novas assinaturas.
Leia abaixo a integra dos documentos:
Carta aos autores, editores e livreiros – Luiz Schwarcz
“Não costumo me manifestar publicamente e nunca pedi voto ou sugeri votar em qualquer candidato. Posicionei a linha editorial do Grupo Companhia das Letras com independência em relação às minhas opções políticas, mas com ênfase clara em causas justas, publicando livros de apoio a minorias, que refletem a pluralidade e são contra a discriminação racial e a favor da liberdade de expressão.
Tenho uma visão pouco positiva sobre parte importante do legado dos anos do PT no poder, e espero que Fernando Haddad ainda mostre que a esquerda é capaz de fazer autocrítica, que a volta do partido ao poder seria embasada no reconhecimento de erros pregressos, oriundos da associação a formas viciadas e incorretas da prática política no Brasil, em proporções inimagináveis e contrárias à origem e vocação de um verdadeiro partido dos trabalhadores.
Por acreditar na possibilidade de que um PT renovado se apresente numa nova gestão nacional, se comprometendo, por exemplo, com políticas de equilíbrio fiscal, sugiro a todos os colegas editores que prezam a liberdade de expressão que votem em Fernando Haddad, se posicionando contra o discurso difusamente preconceituoso, contra o autoritarismo e a intolerância, símbolos do outro polo que se anuncia como alternativa no segundo turno desta eleição. A candidatura de Bolsonaro é falsamente nova e é irmã de tempos tenebrosos de nossa vida política e cultural.
Construímos nas últimas décadas um mercado editorial vigoroso, tivemos governos comprometidos com a educação e especificamente com a formação de leitores e de bibliotecas públicas, que levaram o livro a quem não pode comprá-lo devido ao histórico fosso social de nosso país. Isso foi feito de maneira criativa e inédita por governos como o de Fernando Henrique Cardoso e o de Lula, que acreditavam na educação.
Fernando Haddad se destacou nessa área como ministro, o que também o qualifica para contar com o voto da classe editorial. Além disso, ele coloca a educação entre as prioridades do país, e não podemos aceitar menos que isso de nenhum candidato. Seu perfil moderado dentro do partido nos permite viver a esperança de que os inúmeros equívocos do PT, em várias áreas, não se repitam e que o partido volte aos compromissos que marcaram sua origem.
Autores, editores e livreiros têm força para pedir a todos que prezam a democracia que contribuam, criticamente, se unindo em favor da tolerância e da liberdade de expressão, que estão ameaçadas. Falta um gesto mais claro do PT em busca de um governo de coalização, mas os futuros danos à democracia têm sido verbalizados pelos seguidores do PSL continuamente e são graves.
Temos que afastar o grande risco de retroceder décadas em aspectos fundamentais da nossa vida pessoal e profissional.
Desejo um bom voto a todos.
Luiz.”
Manifesto do Livro
“Nós, escritores, editores, livreiros e trabalhadores da indústria editorial, declaramos nosso apoio à candidatura de Fernando Haddad para a Presidência da República. Professor, pesquisador, ministro da Educação e prefeito de São Paulo, Haddad demonstrou compromisso claro com valores que são essenciais para a vida intelectual e literária de um país democrático: a promoção do letramento e da democratização da vida escolar, a defesa intransigente da liberdade de opinião e a busca pela igualdade de vozes no debate político, cultural e pedagógico.
Essa postura se traduziu em avanço na escolarização, na diversidade nas escolas – como a inclusão de pessoas com deficiência – e na ampliação do acesso à universidade. Seu programa de governo promete aprofundar essas mudanças essenciais para a democracia e a bibliodiversidade. Não podemos deixar de registrar, também, o risco de retrocessos que a candidatura opositora representa, ao apoiar projetos como o Escola sem Partido, que, a pretexto de instituir uma educação “neutra” – ficção em qualquer país do mundo -, visa a doutrinar os alunos com o que há de mais retrógrado e a introduzir a delação na atividade docente.
Repelimos, ainda, a difusão incessante pelos meios digitais, especialmente o WhatsApp, de mentiras sobre Fernando Haddad e Manuela d’Ávila e a defesa da censura de livros e das restrições à liberdade de pensamento. Sendo assim, em favor da democracia duramente conquistada e de um paísmelhor e menos desigual, nosso voto não poderia ser outro.”
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