Nos últimos anos o Teatro Popular Oscar Niemeyer, localizado às margens da Baía de Guanabara, tornou-se um espaço não apenas para espetáculos teatrais. Outros segmentos tem encontrado acolhimento em uma das mais belas construções projetadas pelo ícone da arquitetura, que dá nome ao complexo.
Desde sua inauguração em 2007, além das tradicionais artes cênicas, já passaram pelo local bandas de rock como Barão Vermelho e Capital Inicial, o reggae do Natiruts, entre outras atrações. No mês de junho foram os livros que entraram em cena. Com a missão de “oferecer um grande leque de possibilidades através do contato com as linguagens humanas, estimulando o leitor a desenvolver um olhar crítico sobre o Livro”, o 4º Salão da Leitura de Niterói foi realizado entre os dias 31 de maio e 08 de junho, reunindo mais de 40 expositores.
Shows musicais, palestras e participações de autores consagrados na literatura brasileira animaram os nove dias da feira . De acordo com o site do evento, foi criada para esta edição uma moeda social, o “Lobato”, distribuída a estudantes da rede municipal de educação. Cada aluno recebeu um Lobato (L$ 1), correspondente ao valor de R$ 10,00 (dez reais) para troca por livros nos estandes. O sucesso de público (as edições anteriores chegaram a alcançar 45.000 visitantes) se justifica com o amplo espaço, atividades diversificadas, e uma excelente vista.
A especialista em Literatura e tradutora Thallyta Alvaregna analisa a importância do Salão: “Um evento como esse tem um grande peso até mesmo pela falta de informações sobre as relações políticas e as questões que o país vem enfrentando. Acredito que a leitura é um bom caminho para o entendimento sobre aquilo que se vive e o que acontece no país. Antes de criticarmos é importante entender”.
Outro aspecto abordado pela especialista é a necessidade de outros encontros que estejam focados na promoção da leitura. “É necessário levar eventos como esse a outros pontos e com mais divulgação, pois as pessoas tendem a achar que não existe interesse pela leitura. Percebemos que há um público sedento por cultura, querendo aprender. Vale a pena experimentar e fazer a sua parte, mostrando que através de uma literatura básica se desenvolve um gosto”, comenta.
Thallyta critica ainda a escassez de bibliotecas no Brasil: “Faltam bibliotecas, principalmente dentro das Universidades”, destaca, não esquecendo de citar a falta das bibliotecas públicas.
Em meio ao debate sobre as tendências na esfera da informação digital, a tradutora defende sua preferência, lembrando a importância da intimidade entre o leitor e o livro impresso: “É um embate que tenho com as amigas de Pós-graduação. Eu, particularmente, gosto do livro em papel, do cheiro, de fazer minhas próprias anotações. As formas devem coexistir, pois o livro impresso é uma marca de identidade. O livro também tem uma história: onde você comprou, com quem você estava, o que você estava fazendo. Olhamos para o livro além das interpretações que podemos tirar”, finaliza.
A possibilidade de amplo alcance a diferentes públicos foi um ponto forte do Salão na opinião da visitante Natália Menezes, graduada em Letras pela UERJ. Ela apontou suas impressões sobre o evento, destacanto a diversidade de atrações: “Achei o Salão de Leitura um evento bastante interessante. Voltado para todos os públicos, com foco não somente na literatura, contou com apresentações musicais de excelente qualidade, organização dos espaços, bem como ornamentação bastante atraente, além de localizar-se num dos cenários naturais mais belos do estado”, destaca.
Para Natália, o Salão da Leitura é extremamente importante para a difusão, em Niterói e regiões vizinhas, da literatura, arte, e outras formas culturais, uma vez que o evento “ofereceu recursos para aproximá-las do público, como as peças teatrais voltadas às crianças, os sarais homenageando grandes poetas, palestras e discussões, shows com artistas nacionais e internacionais”, enumera.
O ponto a ser melhorado, de acordo com visitantes, ficou por conta da divulgação. O que se notou a caminho do Salão foram algumas placas instaladas no Centro de Niterói e no Terminal Rodoviário da cidade, porém de forma tímida. Detalhes importantes, mas que não apagaram o brilho da festa literária.
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