Por ser uma festa popular e altamente difundida culturalmente, o carnaval desperta o interesse não apenas de foliões, mas de estudiosos do tema. O Rio, por ser o berço do samba, talvez seja a cidade, ao lado de Salvador e Recife, que mais atraia visibilidade neste período em função principalmente dos desfiles das escolas de samba. A Biblioo pediu ao bibliotecário e jornalista, Vagner Amaro, a indicação de cinco livros que, ao seu julgamento, são fundamentais para entender a festa mais popular do Brasil sob a perspectiva carioca.
Amaro já se dedica ao estudo do tema há algum tempo. Em 2005 apresentou o trabalho de conclusão de curso (TCC) “Os desfiles das Escolas de Samba do Rio de Janeiro como espetáculo”, que analisava as tensões entre tradição e a indústria cultural do carnaval. No mesmo ano, como trabalho de uma disciplina de documentários no curso de jornalismo, produzi o curta (documentário) “As rosas falam”, com mulheres integrantes das Escolas de Samba do Rio de Janeiro.
A produção dava espaço para que estas mulheres falassem da dedicação para estarem nas agremiações, como eram vistas em um espaço ainda com resquícios de machismo e como elas pensavam a presença feminana no universo das escolas de samba. Em 2014 Amaro organizou o livro “A [re]configuração do discurso do samba” (Editora CRV), fruto da tese do professor Antônio Henrique de Castilho Gomes, sobre as diversas estratégias utilizadas pelo samba de se reconfigurar, mantendo-se hegemônico no cenário cultural brasileiro.
Ele também organizou, nas bibliotecas em que trabalhou, outras atividades culturais voltadas ao tema e desfilou pela Escola de Samba Estácio de Sá.
Abaixo a lista bibliográfica indica pelo bibliotecário:
1) “Carnaval: para tudo acabar na quarta-feira”
De Raquel Valença (Editora Relume Dumará). “Raquel, que participa do documentário citado, comenta sobre a história do carnaval carioca, descrevendo as manifestações da cultura popular que disputavam espaço na folia carioca antes do apogeu das Escolas de Samba”, explica Amaro. A autora relançou este ano o livro “Serra, Serrinha, Serrano: Império do Samba”, revisão histórica do livro lançado em 1981.
2) “As escolas de samba do Rio de Janeiro”
De Sérgio Cabral (o pai) (Editora Lazuli).
“Trata-se de uma obra de grande referência para conhecer a histórias das escolas de samba do Rio de Janeiro. Depois de uma pequena introdução o livro acompanha as histórias das escolas de samba desde a Deixa falar (1928) até 1995, além de apresentar entrevistas com grandes nomes do samba e um histórico com o resultado dos desfiles, de 1932 a 1995”, esclarece o bibliotecário.
3) “Sambeabá: o samba que se aprende na escola”
De Nei Lopes (Editora Casa da Palavra).
“Nei Lopes é um dos maiores conhecedores da cultura negra brasileira. Além da história do samba/escolas de samba, o livro apresenta um breve vocabulário do mundo do samba e pequenos perfis de figuras ilustres e ainda conta com desenhos de Cássio Loredano, homenageando grandes sambistas e um bonito projeto gráfico que torna o livro muito agradável de ler. Destaque para a parte em que o autor trata da Escola de Samba Quilombo, do sambista-ativista-militante, Candeia (Antônio Candeia Filho, 1935-1978)”, revela Amaro.
4) “Carnaval carioca: dos bastidores ao desfile”
De Maria Laura Viveiros de Castro Cavalcanti (Editora UFRJ).
Amaro explica que o “livro é interessante para se pensar a questão tão debatida da tradição nas escolas de Samba”. A autora, segundo ele, aponta que “nunca houve uma forma de escola pronta, que tivesse sua natureza originalmente instituída e, a partir de então, modificada por elementos exógenos.”
5) “Tia Ciata e a pequena África no Rio de Janeiro”
De Roberto Moura (Editora Funart).
“O livro relata as mudanças ocorridas no Brasil no final do século XIX e início do século XX, com foco no fluxo de parte da população negra da Bahia para o Rio de Janeiro, com o advento da abolição. Essa população foi morar na região Saúde e cais do porto. O livro tem a importância de mostrar como as novas sínteses de cultura negra que neste período foram forjadas são as grandes referências da cultura brasileira, com destaque para a festa carnavalesca”, diz Amaro, defendendo que o livro esgotado merece ser relançado.
Segundo ele, são as escolas de samba que trazem um caráter menos violento e mais agregador para o carnaval carioca, “visto que ao buscarem sua legitimação ante ao poder público se ‘estruturam’ de foram a absorver as outras manifestações, assim como, todo tipo de público. Talvez, originalmente, a mais democrática e agregadora das manifestações culturais brasileiras.”
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