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Livro traz as histórias de 30 bares inesquecíveis do Rio de Janeiro

Por Josy Fischberg de O Globo.

Dizem que a história aconteceu nos anos 1970, no Antonio’s, saudoso bar que ficava na esquina da Bartolomeu Mitre com a Ataulfo de Paiva. Num fim de noite, quando os últimos clientes tomavam a saideira, bandidos invadiram o local e prenderam todos no banheiro. De lá, alguém gritou: “Levem as penduras!”. Nessa hora, Manolo, o proprietário, se desesperou: podia até perder o dinheiro do dia, mas nunca o débito dos biriteiros.

O causo é contado no recém-lançado “Memória afetiva do botequim carioca” (editora José Olympio), que faz parte da Biblioteca Rio450, dos jornalistas Paulo Thiago de Mello e Zé Octávio Sebadelhe, ao lado das histórias de 30 botequins que marcaram o Rio de maneira indelével. Estão lá, por exemplo, o Bar 20 de novembro (o mais antigo de Ipanema, do final do século XIX), o Zicartola (boteco de Dona Zica e Cartola, de 1963) e o Barbas (que tinha dois ex-presos políticos entre seus sócios, de 1981).

A Tendinha Águia de Ouro, que ficava na Rua General Câmara com a Praça General Osório, que deram lugar à Avenida Presidente Vargas – Divulgação/MIS/Coleção Augusto Malta

Até a Guarda Velha, primeira fábrica de cerveja carioca, inaugurada em 1863, faz parte da lista. Contam os autores que o dono do empreendimento, Bartholomeu Correia da Silva, já tinha alma de marqueteiro e resolveu abrir um parque pitoresco com mesas e cadeiras ao lado da fábrica, com divertimentos que iam de bailes de dança a apresentações de circo.

– Mais do que um livro sobre botequins, ele trata da história da boemia e da cidade. A nossa boemia fez um circuito conforme o Rio foi passando por reformas urbanas e mudanças políticas – diz Paulo Thiago.

O caminho percorrido pelos botequins e pela boemia, explica Paulo Thiago, sai do Centro, passa pela Lapa e chega a Copacabana na década de 1950. Ali aparecem os bares com portas fechadas, que assistem ao nascimento da bossa nova. Depois, com a ditadura em 1964, vem o desbunde, o tropicalismo, a Banda de Ipanema… E é para esse bairro que seguem os boêmios. Em destaque, bares como o Veloso, que depois viria a se transformar no Garota de Ipanema. Já nos anos 1980, com o rock brasileiro em alta, é no Leblon que a boemia passa a se encontrar. Não é à toa que Cazuza e seus amigos estavam sempre por ali.

Na verdade, a partir do Centro, a boemia encontra o caminho tanto da Zona Sul quanto da Zona Norte, assim como a própria expansão da cidade – afirma Paulo Thiago.

                                                            A Casa Pardellas, que ficava no Centro do Rio – Arquivo O Globo

O trabalho de pesquisa foi extenso e trouxe surpresas como a foto que ilustra sua capa. A imagem de um antigo botequim na Usina, o Bar Santa Carolina, foi encontrada na internet, conta Sebadelhe. Resultado: foram todos até a Tijuca atrás de mais informações sobre o bar, a foto e a família que detinha seus direitos.

– Encontramos a criancinha que aparece no colo da mãe. É a dona Maria Preciosa, que hoje tem uns 90 anos – diz o autor. – Ela esteve inclusive no lançamento do livro, acredita?

O “Memória afetiva do botequim carioca” ainda vai contar com uma série de visitas guiadas, homenagens e entrega de placas a bares. O primeiro evento acontece nesta sexta, com uma homenagem especial à Casa Villarino e ao Bar Luiz. Informações pelo e-mail memoriabotequim@gmail.com ou pelo telefone: 2579-6736.

 

Memória afetiva do botequim carioca

Autores: Paulo Thiago de Mello e Zé Octávio Sebadelhe

Editora: José Olympio

Páginas: 256

Preço: R$ 65

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