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Letramento informacional

No ambiente universitário a informação é essencial às pesquisas desenvolvidas no processo de construção do conhecimento. Dessa forma, é imprescindível à comunidade universitária aprender a usar da melhor forma possível as tecnologias de informação e comunicação (TIC) e as fontes de informação na realização de suas atividades, adquirindo letramento informacional. Na nossa sociedade, a informação se tornou um insumo valioso e seu uso eficaz tem exigido tais novas competências, de modo a permitir que, tanto as pessoas quanto as empresas e organizações a utilizem para tomada de decisões, seja de âmbito pessoal ou profissional.

O letramento informacional se ocupa com as fontes de informação referenciadas: periódicos científicos, livros, patentes e outras publicações científicas. Em uma abordagem mais ampla, o letramento informacional é compreendido como aprendizado necessário para lidar com a quantidade de informação disponível em todas as áreas do conhecimento, incluindo questões políticas e sociais, ampliando, portanto, a educação de usuários.

A dificuldade de localizar a informação deve ser reduzida ao mínimo, de modo que todos os usuários possam utilizar a rede e satisfazer sua necessidade informacional, portanto, os bibliotecários precisam de capacitação e atualização diferenciada para atender a demanda do meio acadêmico por informações. No processo de produção do conhecimento, a produção científica é um dos principais componentes. Análises comparativas sobre a produção de pesquisa têm sido desenvolvidas nas diversas áreas do conhecimento, permitindo que possíveis limitações possam ser identificadas.

A metodologia Capes

Há diferentes maneiras de se avaliar a produção científica, sendo a publicação de artigos, por parte dos pesquisadores, um resultado de grande visibilidade. Apesar disso, a avaliação científica é tarefa complexa, pois diferentes áreas do conhecimento estruturam diferentes problemas e metodologias de pesquisa. No Brasil, a Coordenação de Aperfeiçoamento de Pessoal de Nível Superior (CAPES) conduz o processo de avaliação, através de indicadores quantitativos e qualitativos, dos quais se destaca o processo de avaliação de qualidade das revistas publicadas: Qualis Periódicos.

Este trabalho buscou verificar, considerando a produção científica nacional de publicações em periódicos, qual o estágio de visibilidade do tema, letramento e competência informacional, no Brasil. Como metodologia, o processo de busca bibliográfica de publicações brasileiras foi realizado em dezembro de 2012, no sistema Web Qualis. Os documentos utilizados como fontes de dados foram os periódicos nacionais classificados como QUALIS A1, A2, B1 e B2, nas áreas de Educação e de Ciências Sociais Aplicadas, do início de suas atividades até o término de 2012.

A busca foi feita no Portal Capes através do ISSN. Cento e trinta e duas revistas não puderam ser exibidas devido a algum problema técnico, mesmo que temporário. Os descritores e/ou palavras-chaves utilizados para a pesquisa foram: Letramento informacional, Competência informacional, Dispositivos móveis, Tablets e Notebooks. Os artigos ainda foram analisados pelos resumos, e as revistas tiveram seus sumários revisados, em busca de possíveis artigos que contemplassem o objetivo da pesquisa e que pudessem não ser alcançados pelos descritores e palavras-chaves escolhidos. Após a identificação dos artigos, leitura e análise, foram estabelecidas algumas categorias. Também se buscou classificar a produção de acordo com o ano de publicação. A revisão, realizada nas 48 bases de dados selecionadas pelo Portal Capes para a área de educação, não alterou o resultado encontrado.

Alguns resultados

A pesquisa ainda se direcionou para os Diretórios de Grupos de Pesquisa do CNPQ. Há quatorze sobre Competência informacional: UNB, UEL, UFSC (2), USP, IF-Catarinense, FIOCRUZ, MACKENZIE, UFMG (2), UFS, UNESP, UFC, UFPB. Ainda, um grupo sobre Competência midiática: UFSM. Cinco sobre Letramento informacional: UNB, IF-Catarinense, UFMG, UFSCAR, UFC, e sessenta e quatro grupos sobre Dispositivos móveis, dos quais, a maior parte está ligada à área de Ciência da Computação, que não pertence ao escopo deste trabalho.

Foram pesquisadas 369 produções científicas nacionais na área de Educação e 117, na área de Ciências Sociais Aplicadas, em um total de 486 títulos. O gráfico 1 apresenta a quantidade de artigos, sobre Competência Informacional, encontrados nas revistas.

O gráfico 2 mostra os artigos discriminados por ano/Qualis/área:

Como pode ser observado pelos dados, o tema tem igual importância nas áreas de educação e ciências sociais aplicadas, e sua distribuição cresceu, progressivamente, até 2010, quando se percebe uma queda no número de artigos sobre competência informacional.

Utilizando a análise de conteúdo de Bardin, foi realizada uma categorização, que indicou cinco grupos de desenvolvimento do assunto. A categorização proposta abrange as temáticas que se destacaram nos artigos pesquisados, sendo essas: formação de professores (A); papel dos bibliotecários (B); mudanças na educação (C); inclusão social/digital (D) e dispositivos móveis e outros (E).

Ganharam destaque as análises sobre o trabalho bibliotecário no desenvolvimento do letramento informacional dos usuários como parte de um processo que se constrói conjuntamente com os educadores e com as instituições de ensino, através de cursos e/ou treinamentos ou como inserção em currículos escolares sobre a temática durante os períodos de formação educacional, com a função de estimular o aprendizado baseado em recursos, na resolução de problemas e no desenvolvimento do pensamento crítico e reflexivo.

 

A responsabilidade social do bibliotecário

Portanto, o número maior de textos nesta categoria – formação de bibliotecários – vem de encontro com as reflexões produzidas sobre a responsabilidade social destes profissionais na capacitação/aquisição de competências informacionais ao auxiliar os usuários das bibliotecas na constituição de uma estrutura que lhes possibilite aprender de forma contínua, tanto por meio de suas carreiras profissionais como no seu papel de cidadãos informados e membros das comunidades.

A Declaração de Alexandria, de 2005, declara que a competência informacional e aprendizagem ao longo da vida são os requisitos indispensáveis da sociedade de informação e que estas são determinantes para o desenvolvimento, a prosperidade e a liberdade. A escola preocupa-se em dotar os estudantes de competências variadas, que os preparem para um eficiente desempenho profissional. O trabalho conjunto de professores e bibliotecários pode elencar competências em áreas como criatividade e inovação; comunicação e colaboração; investigação e fluência da informação; pensamento crítico, resolução de problemas e tomada de decisões; cidadania digital (inclusão digital/social) e operações tecnológicas e conceitos.

O desafio das bibliotecas atuais é manter a sua missão que é a de subsidiar a construção do conhecimento e a formação qualificada de recursos humanos, através da promoção do acesso e do uso das fontes de informação, atendendo às necessidades dos usuários para o aprendizado dos novos saberes informacionais – aquisição de letramento informacional. A busca pelo desenvolvimento dessa tarefa, como mediadora, tem incluído produção de tutoriais em diversos suportes; integração com disciplinas, treinamentos intensivos ou regulares, de forma presencial ou à distância.

Esta mediação tem como principal finalidade capacitar o usuário a ser eficiente no processo de busca, tornar eficaz a recuperação da informação, enfim, torná-lo autônomo na utilização dos recursos informacionais. No entanto, o ambiente virtual tem sido subutilizado para tal mediação, e, portanto, ele deveria ser mais explorado para este propósito de capacitação. Desta forma, as bibliotecas universitárias se veem desafiadas a explorar não somente as tecnologias disponíveis, mas em fazê-las dialogar com o projeto institucional na qual estão inseridas ao mesmo tempo em que promovem inovação nos serviços oferecidos.

Diferentes concepções de competência informacional se ligam à informação, ao conhecimento e ao aprendizado: a mediação bibliotecária perpassa cada uma delas. Sua ação quanto aos processos relacionados ao letramento informacional, obviamente, tem seu locus nas bibliotecas, espaços educativos onde circulam informações, e que necessita da gestão do conhecimento para potencializar os processos de apropriação da informação e do aprendizado dos usuários.

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