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Instituições e intelectuais criticam entrega da Medalha Ordem do Mérito do Livro a Daniel Silveira.

O deputado federal Daniel Silveira (PTB-RJ) foi agraciado com a medalha de Ordem do Mérito do Livro em cerimônia realizada na tarde de 01 de julho na Fundação Biblioteca Nacional. Ele foi colocado na lista de agraciados pelo presidente da Biblioteca Nacional, Luiz Carlos Ramiro Junior. A homenagem já foi outorgada a acadêmicos e intelectuais que contribuíram para a literatura nacional, nomes como Carlos Drummond de Andrade e Gilberto Freire.

Silveira foi condenado pelo Supremo Tribunal Federal em abril e chegou a ser detido. Ele foi condenado a oito anos e nove meses por crimes de coação e ameaça ao estado democrático de Direito. Daniel Silveira ficou famoso em 2018 por quebrar e rasgar uma placa de rua em homenagem a Marielle Franco, assassinada em 2018 juntamente com seu motorista, Anderson Gomes.

Em seu histórico na vida pública e política, o então deputado Daniel Silveira não tem nenhuma contribuição e também não desenvolveu nenhum projeto direcionado às áreas do livro, leitura, literatura e bibliotecas. Pelo contrário, ele representa tudo aquilo que é contrário ao universo dos livros, da lúdico, da leitura e da democracia.

Instituições e intelectuais se posicionaram contrários a indicação

Imortais da Academia Brasileira de Letras recusaram medalha após o anúncio de que o deputado Daniel Silveira iria receber honraria. Em seu Twitter, Marco Luchesi, poeta e tradutor, criticou a indicação de Silveira. “Se eu aceitasse a medalha seria referendar Bolsonaro, que disse preferir um clube ou estande de tiro a uma biblioteca”, afirmou o intelectual.

Ao blog do jornalista Ancelmo Gois, o professor emérito da UFRJ, Antonio Carlos Secchin, também repudiou a concessão da honraria, Secchin justificou a recusa dizendo que a cerimônia “se constituirá na celebração de uma única diretriz política, agraciando pessoas sem relação com livros, biblioteca e cultura”.

A historiadora Mary Del Priore também utilizou as redes sociais para se posicionar. Segundo ela, apesar de “muito sensibilizada por ter sido agraciada com a Medalha de Honra ao Mérito do Livro, sou obriga a recusá-la pois um dos agraciados é o senhor Daniel Silveira”, publicou a escritora em seu Facebook.

A família do escritor Carlos Drummond de Andrade classificou como deboche a honraria concedida à Silveira. De acordo com a família do poeta, quando ele ganhou a honraria, “o Brasil era outro, com autoridades que se faziam merecedoras de respeito pela dignidade, pelo decoro e pela conduta ética, mandatários que, diferentemente de hoje, não nos envergonhavam como povo e não nos apequenavam como nação”, disse em relatos publicados na coluna da jornalista Mônica Bergamo.

A Federação Brasileira de Associações de Bibliotecários, Cientistas da Informação e Instituições (FEBAB) publicou um comunicado oficial em seu perfil do Facebook, confira nota na íntegra:

“No início desta semana, recebemos a notícia de que seríamos agraciados com a Medalha da Ordem do Mérito do Livro, a ser entregue hoje pela Fundação Biblioteca Nacional. Em um primeiro momento nos sentimos honrados pela lembrança de nossa entidade.

Mas, entre tantas instituições, iniciativas, intelectuais e profissionais que arduamente trabalham em prol do livro em nosso país, lamentavelmente soubemos da entrega da mesma medalha ao Sr. Daniel Silveira.

Trabalhar com livro, cultura, literatura e bibliotecas em nosso país de tão poucas políticas públicas para este segmento, não é somente um trabalho árduo, mas de respeito, empatia e amor para algo que transforma vidas e enaltece uma de nossas melhores características: nossa cultura.

Por não compactuarmos com essa entrega ao ex-deputado, entendendo-a inclusive como uma afronta ao árduo trabalho de quem realmente se dedica ao tema, viemos a público declinar da Medalha da Ordem do Mérito do Livro”.

O Conselho Federal de Biblioteconomia (CFB), orgão máximo de representação da classe bibliotecária brasileira também manifestou seu repúdio e classificou a Ordem do Mérito do Livro como uma das mais importantes honrarias do Brasil. De acordo com o CFB, a concessão a Daniel Silveira viola os preceitos universais de sua finalidade por inexistir contribuições relevantes dele para o pleno desenvolvimento da literatura brasileira, bem como por constituir em desprestígio e agravo àqueles(as) que, de fato, colaboraram, colaboram e colaborarão com a cultura brasileira. Confira a nota na íntegra:

O Conselho Federal de Biblioteconomia (CFB), órgão máximo representativo da classe bibliotecária brasileira, cuja missão é garantir o pleno exercício da Biblioteconomia no Brasil, torna pública sua insatisfação com a indicação do deputado federal Daniel Silveira para receber homenagem da Biblioteca Nacional.
A Medalha da Ordem do Mérito do Livro condecora intelectuais, autoridades, acadêmicos e personalidades do Brasil e do exterior cuja trajetória pública contribui notoriamente para o desenvolvimento da literatura, a difusão do livro e da leitura e das bibliotecas brasileiras, desde 1984.
Para o CFB, um país aparelhado com bibliotecas contribui para a formação de cidadãos esclarecidos, críticos e participativos, condição sine qua non para o progresso de uma nação.
A comenda em questão se constitui como uma das mais importantes honrarias do Brasil e sua concessão a Daniel Silveira viola os preceitos universais de sua finalidade, uma vez que é incompatível com a conduta de constantes ataques ao Estado Democrático de Direito que rege nosso país, por inexistir contribuições relevantes deste senhor para o pleno desenvolvimento da literatura brasileira, bem como por constituir em desprestígio e agravo àqueles(as) que, de fato, colaboraram, colaboram e colaborarão com a cultura brasileira.

A Revista Biblioo repudia com veemência a entrega da Medalha Ordem do Mérito do Livro a Daniel Silveira por entender que tal indicação e concessão não condiz com uma pessoa digna de receber tal honraria, uma vez que o livro, a leitura e as bibliotecas são pilares fundamentais para garantia e efetivação da cidadania e da democracia. Como uma publicação da área do livro, leitura, literatura e bibliotecas, repudiamos qualquer postura que não se coaduna com os valores democráticos, de justiça, de igualdade, de diversidade e de acesso às bibliotecas, livros, leitura e literatura.

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