“Na minha escola tem uma sala com livros, mas quase nunca vamos lá”, diz com ar de desânimo.
Penso que o episódio serve para ilustrar o nosso quadro de ignorância em relação ao importante instrumento de difusão cultural que a biblioteca é (ou pelo menos deveria ser), mas que historicamente renegamos. Amanda não tem culpa disso. Nasceu num país em que as bibliotecas não são uma realidade, mesmo num lugar que se notabilizou por realizar a festa literária mais importante do Brasil e uma das mais importantes do mundo.
Apesar do fato, Paraty esbanja alegria e beleza. “Nem sempre é assim”, me diz uma garçonete argentina enquanto me serve uma cerveja. Com ar antipático, a “hermana” destoa das outras pessoas que conheci naquele lugar, em geral simpáticas e atenciosas.
Entre um tropeço e outro nas pedras do calçamento irregular, a estética colonial salta-me os olhos. São anos e anos de história que seriam muito bem contados caso aquelas ruas falassem.
A festa literária se desenrola com desenvoltura. Entretanto, percebo pouca participação dos habitantes locais. “Sei que é uma festa dos livros, dos poetas”, me diz seu Manoel, morador de uma comunidade próxima ao dividir comigo um espaço apertado numa Van.
Não fui à Paraty com a intenção de participar da festa literária, entretanto me senti envolvido com toda aquela dinâmica da leitura. Sinto apenas pelo fato de não ser uma atividade democrática e do seu impacto ser muito concentrado.
Quisera que o Brasil pudesse conhecer outras festas literárias, inclusivas, desconcentradas e que não só livros e autores tivessem espaço, mas que as bibliotecas se apresentassem como uma referência. Quem sabe um dia?!
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