Por Leonardo Cazes de O Globo
Após mais de duas décadas, Helena Severo está de volta à Fundação Biblioteca Nacional (FBN). Ex-secretária de Cultura do município e do estado e ex-presidente da Fundação Theatro Municipal, Helena é servidora de carreira da casa e, nos últimos 12 anos, esteve cedida ao Tribunal de Contas do Município (TCM). Em sua primeira entrevista no cargo, ela afirma que sua prioridade será a recuperação completa da sede na Cinelândia. A situação estrutural do edifício atormentou os últimos presidentes, com vazamentos em dias de chuvas e um calor infernal nos dias de verão. Para a nova presidente, é preciso um projeto que pense o todo, e não apenas as partes. A reforma, afirma ela, é uma prioridade do ministro da Cultura Marcelo Calero, que quer entregar a Biblioteca completamente renovada ao final de sua gestão.
Helena garante que as iniciativas de digitalização e difusão do acervo, começadas na gestão de Renato Lessa, serão mantidas, assim como o programa de bolsas de tradução de autores brasileiros. Anunciada para o cargo em maio, mas com a posse publicada no Diário Oficial apenas em agosto, ela diz que a demora foi uma questão burocrática e não tem relação com o processo que responde na Justiça do Rio de Janeiro, por sua gestão à frente da Secretaria estadual de Cultura.
— O presidente da Funarte foi nomeado junto comigo, o presidente do Ibram, também. É um rito que está demorando mesmo. Não teve nada a ver com isso que levantaram (o caso foi revelado pela Folha de S.Paulo). Esse processo é de 2001, já tem 15 anos. (A demora) Foi uma questão burocrática, de demanda da Casa Civil.
Como você recebeu o convite para assumir a Biblioteca Nacional?
Sou funcionária de carreira da Biblioteca Nacional e recebi com muita alegria esse convite para voltar para a minha casa, afinal. Há uma determinação muito clara do ministro Calero de ter uma gestão muito focada no servidor público. Todas as nomeações têm seguido esse critério.
Qual sua avaliação da biblioteca hoje e quais são os planos da sua gestão?
A biblioteca funciona, é uma das maiores instituições culturais do Brasil. Eu gostaria de imprimir algumas marcas nessa minha passagem pela presidência, em acordo com o ministro Calero. Uma delas é recuperar totalmente esse prédio e entregá-lo, ao fim da nossa gestão, inteiramente restaurado. Estou trabalhando arduamente nesse sentido, em ter um projeto que não veja pedaços, não veja só a recuperação das fachadas, ou da parte elétrica, ou da parte hidráulica, mas a totalidade. De modo que ele possa ser entregue completamente recuperado.
O prédio já passa por intervenções, não?
Sim, existem intervenções pontuais. A cúpula e o telhado passaram por uma obra, já existe um projeto e uma empresa licitada para fazer a recuperação das fachadas. Também está em curso uma obra de recuperação da parte elétrica. Mas agora vamos montar um grande projeto que considere o que já está em curso, naturalmente, mas veja a totalidade do prédio. Por exemplo, funcionamos aqui sem alvará do Corpo de Bombeiros. É uma questão séria que depende da conclusão da obra na parte elétrica. E a instalação da refrigeração, que é uma questão dramática, depende da reforma elétrica. No verão, sofrem os servidores que trabalham aqui e também o acervo da biblioteca, que fica comprometido com isso. É preciso partir para um projeto de refrigeração que leve em conta a climatização do acervo, o grande patrimônio da casa.
E o projeto da nova sede na zona portuária?
Na minha avaliação preliminar, creio que é um projeto demasiadamente ambicioso para esse momento. Para você ter uma ideia, o projeto está orçado em R$ 200 milhões. Devemos ter uma escala de prioridade. A minha prioridade, e a do ministério, é recuperar esse prédio e recuperar o galpão (também no porto), de modo que ele receba uma parte do acervo daqui. Depois a gente pensará no resto. O galpão também sofre com problemas de infraestrutura muito sérios.
Os presidentes da biblioteca sempre sofreram com a falta de verbas. Há garantia do ministério que as verbas virão?
A recuperação do prédio é uma prioridade do ministério também. Tenho a impressão que se nós tivermos um projeto em condições, conseguiremos os recursos.
Como ficam as iniciativas de digitalização e difusão do acervo?
O projeto de digitalização e os acordos internacionais feitos pelo Renato Lessa são importantíssimos e vamos dar prosseguimento. Ele fez um acordo muito relevante com a Biblioteca de Portugal. É importante que a gestão que chegue considere o que veio antes. A gestão pública, quando é exitosa, é uma história de continuidade, manter o que está dando certo.
O programa de bolsas de tradução continua? Qual a sua avaliação?
A Maria Eduarda Marques está assumindo o Centro de Difusão e Coooperação (no lugar de Moema Salgado, exonerada no fim de julho). Vamos dar prosseguimento, e na medida do possível, ampliar este apoio. E isso vale para as bolsas de tradução e também para as bolsas de pesquisa, que são importantíssimas.
A senhora planeja novas exposições?
Estamos com duas exposições, parte da programação cultural olímpica: a do fotógrafo Alair Gomes, cujo acervo pertence à biblioteca, e a de obras raras da instituição. Este ano são os 200 anos da Missão Artística Francesa, mas optamos por fazer, até o final do ano, uma exposição sobre o Saint Hilaire, que veio na missão científica. Tem um acervo muito importante dele aqui e no Jardim Botânico. Já conversei com o Sérgio Besserman (presidente do Jardim Botânico) para fazermos uma exposição com acervos daqui e de lá.
A senhora foi bem recebida pelos servidores? Qual a situação atual do quadro?
Cheguei há pouco tempo e me senti bem recebida. O meu propósito é de abrir um diálogo permanente com os servidores. Tem uma questão aqui que é o envelhecimento dos servidores, as aposentadorias. É preciso pensar no médio prazo em novos concursos.
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