RIO – Quem passa pela Praça da República no Centro de Niterói/RJ, pode visualizar a renovação e a beleza da arquitetura do prédio da Biblioteca Pública de Niterói, uma das mais importantes bibliotecas do Estado do Rio de Janeiro, com um acervo em torno de 70 mil obras, incluindo a coleção História Fluminense. A Revista Biblioo foi até lá conhecer um pouco mais sobre a modernização desse espaço. Fomos recebidos pela diretora da Biblioteca, Glória Blauth, que há trinta anos exerce a profissão. Ela nos revelou como está sendo a realidade da biblioteca depois da aplicação dos investimentos públicos na restauração e reformulação do espaço.
Rodolfo Targino: Qual era a realidade da Biblioteca Pública de Niterói antes das reformas de modernização?
Glória Blauth: A realidade está explícita quando você entra aqui na biblioteca. Toda climatizada, com acervo atualizado, com mobiliário novo, salas e setores novos. Nós temos a ludoteca, nós não trabalhávamos com criança, então esse é um espaço muito interessante. Temos computadores e a parte da ludoteca propriamente dita com acervo infantil especializado. Ainda na ludoteca foi criado um jardim de leitura, em um dia bonito como o de hoje, por exemplo [fazia muito sol em Niterói no dia da entrevista], a atividade de contação de história vai ser realizada no jardim de leitura. Uma outra novidade que temos é a sala de audiovisual, onde você pode escolher o filme que quer assistir aqui na biblioteca ou se preferir pode levar emprestado. Outra novidade é que você pode ser sócio da biblioteca; basta apresentar foto, carteira de identidade e comprovante de residência. Em dois minutos passa a ser sócio podendo levar dois livros e um DVD no período de quinze dias com possibilidade de ser renovado por mais quinze. A autoestima dos funcionários fez com que os leitores se aproximassem mais da biblioteca porque, antes da restauração, era comum que o leitor chegasse à biblioteca para fazer apenas a pesquisa que o professor pediu, não entravam na biblioteca pelo simples fato do lazer, de conhecer esse espaço cultural que a cidade de Niterói ganhou. A realidade física e estrutural é visível: a biblioteca está toda bonita. Antes era escura, os livros eram velhos, a maioria deles eram doados. Hoje todo começo de ano recebemos livros novos. A Secretaria de Cultura [do estado] tem a política de compras de livros. Nesse Governo atual, todo ano são comprados livros novos.
R. T.: Você e os outros bibliotecários da equipe tiveram participação na decisão das reformas?
G. B.: Durante a restauração… Eu nem chamo de reforma, chamo de restauração. Como o prédio é tombado pelo Instituto Estadual do Patrimônio Cultural (INEPAC), ele foi restaurado. Reforma é quando você passa uma pintura – como era feito antes – faz um conserto… Dessa vez foi uma restauração. A biblioteca ficou fechada, mas todas as reuniões de tomada de decisões eram realizadas aqui mesmo. Toda reunião eu estava presente junto com o engenheiro, o arquiteto, o pessoal do INEPAC e outras bibliotecárias. Nós não entravamos no mérito da engenharia, mas opinávamos com a nossa experiência. Em relação à iluminação eles perguntavam se a biblioteca era muito escura: “precisamos de uma biblioteca iluminada”. Participamos bastante das tomadas de decisões. Uma coisa que era inédita, perguntar para o bibliotecário o que ele quer mudar na sua biblioteca, tecnicamente falando.
R. T.: Como é a interação do público com a biblioteca após a modernização?
G. B.: Posso citar o seu exemplo, Rodolfo. Os que não conheciam o que chamo de “ex bem” da Biblioteca Pública de Niterói, nós fazemos visitas guiadas com escolas e com os leitores e visitantes. Todos eles dizem que estamos no primeiro mundo, “que lugar bonito! que lugar acolhedor!” e a Secretaria de Cultura, o governo e a equipe da biblioteca recebem vários elogios pela autoestima do leitor. Você imagina entrar em um espaço lindo desse, todo climatizado e encontrar um acervo que corresponde a toda a faixa etária, abrangendo todo conhecimento? Você vem para lazer e para assistir a um filme. Realmente eles saem emocionados. Muitos choravam e, como você, ficam arrepiado de ver o antes e o depois.
R. T.: Atualmente quais os serviços que a biblioteca disponibiliza?
G. B.: Todos os serviços que uma biblioteca pública tem que oferecer, nós oferecemos mais ainda. Vou acrescentar o setor de empréstimos, o audiovisual, a ludoteca. Uma característica desse novo conceito de biblioteca pública é que hoje não tem, como era antigamente, o setor de leitura, o setor de empréstimos, setor de referência. Hoje tem salas e espaços temáticos. Agora nós estamos no espaço de artes de arquitetura, temos o espaço de ciência, dos pensadores, de biografias. Isso faz com que o leitor se sinta mais livre de escolher o livro e conhecer melhor o acervo. Ele pode tocar e manusear o livro aqui onde estamos, pode levar lá para baixo, pode levar o livro que pretende ler para qualquer espaço da biblioteca. A biblioteca toda é um grande salão de leitura e empréstimo. Só não emprestamos obras de referência porque isso é uma norma técnica. Também não emprestamos as obras raras. Temos a História Fluminense, que em sua maioria são livros antigos da história do Rio de Janeiro. Como são obras raras é somente para pesquisa. Um serviço novo aqui na biblioteca é um espaço que foi criado para periódicos, jornais e revistas. Temos internet grátis, com computadores e notebooks para uso do leitor. Caso você queira fazer uma pesquisa na internet e não tenha laptop, a biblioteca disponibiliza. Temos um espaço que é utilizado para eventos culturais que chamamos de Café Paris. Ele foi criado em 1920 por poetas aqui de Niterói. Eles eram boêmios, faziam poesias nos bares e andavam até o bairro de São Francisco recitando poesias. Foi um movimento muito interessante e na reinauguração da biblioteca nós revivemos esse momento no Café Paris.
R. T.: Como você avalia os investimentos públicos em relação às bibliotecas no estado do Rio de Janeiro?
G. B.: Eu trabalho há trinta anos aqui na biblioteca. Me aposentei e fui convidada a voltar a trabalhar. É a primeira vez que vejo investimentos maciços na cultura, como na biblioteca de Manguinhos; a da Rocinha vai ser inaugurada e quero muito conhecer; a biblioteca pública do estado do Rio de Janeiro (BPERJ) está ficando belíssima. Eu conheci e fui muitas vezes à BPERJ. Também vai ser muito mais que uma biblioteca. A primeira vez que, como funcionária, vejo investimento de tal maneira e muito bem aplicado. Além de tudo isso mencionado que a Biblioteca Pública de Niterói oferece, acrescento também o amor e carinho da equipe, que é fundamental, isso é notório com quem chega e frequenta diariamente esse espaço. Os funcionários estão felizes em trabalhar na biblioteca pública de Niterói. Isso é um item que gosto de falar bastante porque é notório, depois você faz uma visita e constata.
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