O discurso enviesado e muitas vezes preconceito sobre os trabalhadores, comunidades populares e suas práticas estimulou a criação em 1994 do Núcleo Piratininga de Comunicação (NPC), cuja principal atribuição tem sido a de formar comunicadores populares que deem conta de contrabalancear o abordagem da mídia hegemônica.
Após realizar centenas de cursos e outras atividades ao longo de mais de duas décadas, o NPC se lançou hoje (25) a mais um projeto: o 1° Festival da Comunicação Sindical e Popular.
Ao longo do dia foram expostas diversas publicações populares e sindicais na Cinelândia, Centro do Rio. Aulas públicas e palestras foram realizadas com o intuito de chamar a atenção da sociedade para as possibilidades de abordagem discursiva que extrapolam o expediente cotidiano dos veículos da grande mídia, quase sempre muito tendenciosos ao apelo mercadológico.
Dentre as experiências apresentadas estava a da TV Tagarela, projeto audiovisual desenvolvido na Favela da Rocinha, Zona Sul da cidade, desde a década de 1990. Conforme explicou Arley Macedo, membro do coletivo que toca a TV, uma das principais contribuições do projeto é trazer para a comunidade uma abordagem diferenciada em relação à forma de abordagem da mídia tradicional, mostrando que existem outras formas de produzir notícias.
“O discurso que as pessoas estão acostumadas a receber da mídia hegemônica é de que a favela é violenta, a favela é o problema, o favelado precisa ser assistido e nosso discurso é diferente: a favela tem problemas, o favelado precisa se apropriar do papel que ele tem na sociedade e a partir dessa apropriação promover a transformação”, defende Arley.
Na Cidade de Deus, na Zona Oeste, o desejo de desenvolver um projeto coletivo levou à criação do Jornal Abaixo Assinado. A publicação é um desdobramento de uma série de atividades culturais nas áreas do teatro e das artes plásticas que desde a década de 1980 vem buscando valorizar as iniciativas locais, conforme explica Roberto Sena, um dos fumadores do Jornal.
“Na década de 1980 nós fizemos uma peça chamada ‘É fanático?’, em referência ao Fantástico da Globo, na qual questionavamos a forma de abordagem da grande mídia, de como a comunidade era retratada”, explica Roberto.
Sobre o Festival propriamente dito, Cláudia Santiago Giannoti, coordenadora do NPC, avalia como sendo um grande desafio dada as dificuldades para sua realização, sobretudo no que se refere ao aspecto financeiro.
“Nós fizemos esse festival porque nós acreditamos muito na comunicação sindical e popular como ferramentas indispensáveis para um mundo justo e solidário. Por isso nós nos metemos a organizar um festival como esse, o dia inteiro na Cinelândia, que ficou o tempo todo lotada”, orgulha-se Cláudia.
Sobre as dificuldades de se fazer comunicação sindical e popular nos dias de hoje, Cláudia explicar que são diferentes para os dois modelos: enquanto a comunicação popular enfrenta basicamente problemas de ordem financeira para se manter, a comunicação sindical acaba por enfrentar resistência, pois nem sempre a direção sindical consegue entender a importância da comunicação para a luta que a categoria na busca dos seus direitos .
“Como fazer a direção do sindicato entender a importância da comunicação para a atividade fim da instituição, que é a luta pelos direitos da categoria e como fazer essa categoria entender o papel da comunicação para a luta geral da classe?”, indaga Cláudia. Segundo ela, é preciso superar este excesso de controle, além da falta de investimento, uma vez que na seara sindical o dinheiro existe, mas nem sempre é destinado à comunicação da entidade, enfraquecendo a luta pelos direitos.
Abaixo algumas imagens do evento:
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