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“Falar sobre a cultura drag é falar sobre diversidade e respeito”

José Roberto da Silva Júnior. Foto: arquivo pessoal

A cultura drag queen tem relevância não só artística, mas também histórica, política, cientifica e principalmente humanista. Pensando nisso, o bibliotecário José Roberto da Silva Júnior se lança ao desafio de debater um tema ainda bastante marginal e marginalizado na/pela academia brasileira, principalmente no universo da biblioteconomia e da ciência da informação.

No livro “Fontes de Informação da Cultura Drag Queen”, publicado pela Agência Biblioo, José Roberto destaca que a essência da cultura drag sempre esteve vinculada à arte teatral, sendo que a partir de determinado momento esses artistas começaram a ser associados com as questões de gênero e sexualidade, porém pouco se fala sobre isso e a produção de fontes de informação acerca deste assunto está começando a se expandir.

Originado do seu trabalho de conclusão de curso (TCC) quando estudante de biblioteconomia do Centro Universitário Assunção (UNIFAI) em São Paulo, “Fontes de Informação da Cultura Drag Queen” concentra sua atenção nas fontes de informação existentes sobre o movimento das drag queens e os tipos de acesso que a comunidade tem a essas fontes.

A obra ainda aponta as fontes de informação mais predominantes do movimento, de modo que possa ser compreendida a dimensão desta cultura, valorizando a trajetória dos artistas transformistas e desmistificando os preconceitos que cercam este movimento.

Na entrevista que se segue, José Roberto, que se “montou” para a realizar a apresentação do seu TCC sobre fontes de informação da cultura drag queen, fala sobre as origens do seu interesse pelo tema, as relações que podem ser estabelecidas entre a cultura drag e as fontes de informação, a inserção do assunto na universidade, especialmente no universo da biblioteconomia e da ciência da informação, entre outras questões.

Como surgiu seu interesse pela cultura Drag Queen?

Tudo começou quando eu assisti pela primeira vez o filme Priscila – A rainha do deserto, acho que em 2013, toda a performance do elenco deste filme me fascinou bastante e a partir daí comecei a pesquisar mais sobre o que é uma Drag Queen e fui atrás de mais filmes sobre o assunto já que na época eu não conseguia encontrar livros sobre isso.

Quanto mais eu pesquisava sobre Drag Queens, mais eu me interessava porque é uma arte com um leque de possibilidades infinitas de atuação e isso é sensacional. Já me questionei muito se algum dia eu construiria a minha Drag, apesar de me montar algumas vezes assim como eu me montei para apresentação do meu TCC, é algo que eu não oficializei para mim, mas continuar pesquisando sobre isso e acompanhar a carreira de Drag Queens que estão em alta na cultura pop hoje em dia é o que me empolga.

Que relações podem ser estabelecidas entre a cultura Drag Queen e as fontes de informação?

A própria Drag já é uma fonte de informação, toda a sua caracterização e performance proporciona diversas reflexões, tudo vai depender de como cada artista se apresenta e o que ele realmente quer passar para o seu público e quando falamos de fontes de informação, independente se for primária, secundária ou terciária, o objetivo é exatamente esse, transmitir algo ou algum conhecimento.

Como você enxerga a inserção deste tema na universidade, especialmente no universo da biblioteconomia e da ciência da informação?

Eu sei que existia pesquisas sobre a arte Drag no meio acadêmico, mas não dentro da área da biblioteconomia e ciência da informação, as pesquisas que eu li estavam voltadas mais para a questão de identidade de gênero e como a Drag Queen acaba sendo colocada nesse meio, mesmo não tendo relação com gênero.

Ainda é uma cultura que precisa de mais pesquisas para ser desmistificada. São poucas as referências que ainda temos no meio acadêmico e isso precisa ser ampliado. A arte Drag está ai crescendo e ocupando lugares que antes não eram possíveis, e a biblioteconomia é a área perfeita para explorar esse universo e todo conteúdo que é produzido sobre ele.

José Roberto da Silva Júnior defendeu seu TCC “montado” de drag queen. Foto: arquivo pessoal

Nesses tempos de intolerância, como você vê a tentativa de inserir o tema da cultura Drag Queen não só nos debates acadêmicos, mas na sociedade como um todo?

É um tema muito censurado, além do preconceito. Quando eu me propus a debater o assunto na minha pesquisa, eu recebi todo o apoio da professora Cristina [Palhares, da UNIFAI], que abraçou o tema junto comigo e todos os outros professores também se empolgaram, mas sabemos que esse tema não é bem recebido em todos os lugares apesar da Drag Queen já marcar presença em muitos deles.

Podemos perceber vendo as grandes cantoras e drags Pabllo Vittar e Gloria Groove, que crescem cada vez mais, todos ouvem ou já ouviram as músicas delas, mas nem todos compreendem a arte Drag, então já temos aí uma necessidade de informação.

Especificamente sobre o seu livro, a que conclusões você chegou?

Falar sobre a cultura Drag é falar sobre diversidade e respeito. Eu fui atrás das fontes que disseminam essa cultura e todas elas se propõe a mostrar exatamente isso. As Drag Queens carregam uma história de muita luta e resistência para ocupar o espaço que elas têm hoje, além de serem um símbolo para a comunidade LGBTQIA+.

Título: Fontes de Informação da Cultura Drag Queen

Autor: José Roberto da Silva Júnior

ISBN: 978-65-994579-0-6.

Páginas: 82.

Editora: Agência Biblioo.

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