Nós não nascemos leitores(as). Nós nos tornamos leitores(as) por convívio e por contato com livros, leitores e leituras. Como todo processo educativo, é na mediação e no encontro com outro ser humano que desenvolvemos o gosto, a competência e o comportamento leitor.
Há importantes referências mostrando que o comportamento leitor depende de uma diversidade de fatores, sendo um deles o acesso gratuito aos livros por meio de bibliotecas em escolas.
Ocorre que a simples presença dos livros não é suficiente: é preciso que nas bibliotecas sejam promovidas práticas leitoras dirigidas e diversificadas, planejadas e realizadas por bibliotecárias(os) e professoras(es), nas próprias bibliotecas e fora delas, que componham com o projeto político-pedagógico da escola e proponham outras leituras formativas. Igualmente é super bem-vindo o incentivo à criação de Clubes de Leitura.
Mas, apesar da importância da biblioteca na escola, 55% das escolas públicas não têm uma biblioteca ou sala de leitura, totalizando 80.173 escolas, como aponta pesquisa do Observatório do Plano Nacional de Educação.
Por esta razão, em 2012 foi criada a Campanha Eu Quero Minha Biblioteca, na esteira da Lei 12.244/10, que determina que todas as escolas do país, públicas e privadas, devem ter biblioteca.Nós focamos na produção e divulgação – presencial e a distância – de argumentos para defender a importância da biblioteca da escola, preferencialmente aberta à comunidade, informações sobre recursos públicos que podem ser acessados para viabilizá-las e caminhos de incidência da sociedade civil junto ao poder público no chão em que se pisa.
Os conteúdos que organizamos, produzidos sob a coordenação do professor de administração pública da Fundação Getúlio Vargas, Fernando Burgos, são pensados para:
1) A sociedade civil: trata da importância de existir uma boa biblioteca nas escolas, os recursos públicos que podem ser utilizados e como participar da iniciativa, acessadas por meio do site, que traz um passo a passo orientando quais ações podem ser realizadas para interagir com as escolas e o poder público em prol de bibliotecas;
2) Os gestores públicos: o Guia sobre como implantar e manter bibliotecas com recursos públicos informa sobre as fontes de recursos públicos existentes que podem ser acessadas para a implantação de bibliotecas em escolas, e chama a atenção para a importância em incluir a criação e manutenção delas no orçamento do município.
A Campanha Eu Quero Minha Biblioteca desenvolve uma agenda institucional e governamental visando promover e contribuir com debates sobre a transversalidade da leitura na educação, para a formação intelectual e sensível dos(as) estudantes, e compartilhar informações com a sociedade civil sobre a importância de seu engajamento e os cuidados e preparativos necessários para este trabalho de advocacy local por política pública de leitura e biblioteca.
A iniciativa também chama a atenção para a importância de existirem bibliotecas em escolas abertas à comunidade, seja porque a participação da família é muito importante na formação leitora de crianças e jovens, como apontam as pesquisas (Inaf e Retratos da Leitura do Brasil), seja porque em muitas localidades Brasil adentro, mesmo em grandes centros urbanos, a escola é o único equipamento de acesso à cultura e à educação.
O mundo ideal é haver uma boa conexão entre as bibliotecas da escola com as bibliotecas públicas e as bibliotecas comunitárias, formando uma rede de apoio e interlocução de experiências para somar esforços na oferta de livros e leituras e construção de comportamento leitor. As bibliotecas com livros e leituras devem estar onde leitores(as) estão.
Na pauta da Campanha, estão:
1) Agenda governamental e institucional: realizamos monitoramento de projetos de lei relacionados à biblioteca em escola em tramitação na Câmara e no Senado em Brasília; produzimos, encaminhamos pleitos e/ou informações e agendamos audiências com parlamentares envolvidas(os) visando contribuir para que a redação dos projetos de lei contemplem parâmetros de qualidade relacionados à biblioteca em escola; buscamos estar em audiências públicas sobre o tema e marcando presença em Seminários, Bienal do Livro etc., compartilhando informações e reflexões.
2) Instrumentalização para a mobilização da sociedade civil: produção e disseminação de conteúdos de referência em diversas mídias. Também estamos no Facebook e no Instagram, e te convidamos a fazer parte dessa comunidade virtual.
No site www.euquerominhabiblioteca.org.br é possível baixar e compartilhar gratuitamente os conteúdos produzidos. Na área interativa chamada MOBILIZE-SE, cada qual se inscreve indicando onde quer uma biblioteca na escola, contribuindo para a construção de um amplo painel de demanda por política pública de biblioteca em escola – afinal toda política pública é resultado de demanda da sociedade – e rede de contatos para envio de informações.
Nossa fanpage é um lugar de encontro com informações sobre recursos públicos e agenda de incidência com parlamentares e gestão pública, partilha de experiências entre quem já atua ou quer atuar pela garantia dessa política pública, solução de dúvidas etc. Dá para falar com a gente em comentários dos posts ou inbox. Quem cuida direto das nossas redes sociais e dessa prosa é a jornalista Ana Luisa D’Maschio, uma articuladora nata.
Estamos sempre no ar com campanhas específicas para apoiar a sociedade civil a buscar junto à gestão pública e parlamentares a inclusão anual de recursos para bibliotecas no orçamento dos estados e municípios. Falamos sobre políticas federais existentes, como de distribuição anual e gratuita de livros de literatura para as escolas (PNLD Literário, que antes se chamava PNBE, Programa Nacional Biblioteca na Escola), sobre Projetos de Lei em tramitação na Câmara e no Senado para que as pessoas possam saber e influir para sua aprovação, pleitos em momentos de eleições para que eleitoras(es) peçam para suas(seus) candidatos incluírem a universalização de bibliotecas em escolas em seus planos de governo e de mandato – veja link aqui).
Nossos parceiros
Em 2017, o Instituto de Corresponsabilidade Pela Educação (ICE Brasil) assumiu a liderança da Campanha, lançada em 2012 pelo Instituto Ecofuturo, à qual se uniu desde o princípio. E eu, Christine Fontelles, sigo na coordenação.
A Campanha conta com apoio de divulgação de organizações que desenvolvem trabalho de referência nas áreas de educação, leitura, literatura e biblioteca: Instituto Ecofuturo, Academia Brasileira de Letras, Conselho Federal de Biblioteconomia, Fundação Nacional do Livro Infantil e Juvenil, Instituto Ayrton Senna, Todos pela Educação. E agora também contamos com a Biblioo.
Entre e participe desta rede que não descansará até que todas as escolas do País tenham uma biblioteca na escola como um lugar de encontro entre livros, leituras e leitoras(es), pulsando ideias em favor da vida que a gente quer e merece, íntegra e de qualidade para todas(os), de “uma educação desde o berço até o túmulo, inconformada e reflexiva, que nos inspire um novo modo de pensar e nos incite a descobrir quem somos em uma sociedade que se queira mais e melhor a si mesma”, como preconiza Gabriel García Marquez.
*Este é o primeiro artigo da equipe da Campanha Eu Quero Minha Biblioteca a partir da parceria firmada com a Biblioo.