Aprendi com Maria Firmina dos Reis e Maria Aragão, duas mulheres pretas maranhenses, que “a mente ninguém pode escravizar” e que “devemos ser CATALISADORES das lutas do povo”. A partir destes ensinamentos, aceitei o desafio de ser candidata a vereadora em São Luís pelo PSOL/MA. Sou bibliotecária, doutora em Serviço Social e atuei na Rede Leitora Ilha Literária, e há quase 10 anos sou professora universitária formando futuros bibliotecários/as, dei aula na UFRJ e na UFMA.
Não sei se todos/as sabem, mas fui IMPEDIDA de assumir cargo de professora efetiva na UFMA, mesmo tendo passado em primeiro lugar no concurso em 2018, sofri assédio moral no Conselho da área, fui criminalizada por feministas neocoloniais e neoliberais que “permanecem do nosso lado” na luta, fingindo amizade e preocupação com a questão racial e das mulheres negras, tudo porque decidi abrir um processo judicial para garantir direito de posse no cargo.
Malcon X nos ensinou que ser amigo e amigável são coisas diferentes. Existem muitos brancos liberais, que diferente dos brancos conservadores, agem amigavelmente com negros para manter seus privilégios. Aqueles usam a máquina política da Casa Grande para se beneficiar dos votos de negros assimilados.
Já o movimento negro hegemônico e seus “lideres” são apenas bonecos colocados a frente da comunidade negra pelos liberais brancos. Líderes negros não silenciam frente a casos de racismo, a menos que estejam com a Casa Grande. Eles até gostariam que algumas concessões fossem feitas, mas na configuração geral, têm um pouco mais de bens materiais e privilégios que pobretões negros.
Assim, se identificam com a estrutura de poder e veem seus interesses como interesses da estrutura de poder quando, na verdade, ela é contrária aos seus/nossos interesses, enquanto quem ousa denunciar abertamente os problemas raciais dessa cidade é considerado racista, mentiroso, briguento, autoritário e antidemocrático. Essas pessoas amigáveis hoje seguem ocupando espaços políticos e de poder, posando de amigas de luta, falando de educação para relações de gênero e étnico-racial, sororidade etc.
Assumamos, ainda existe uma negligência em relação aos problemas da mulher negra e do povo negro em geral nessa cidade. Em 2019, para combater uma depressão decorrente do impedimento “legal” e tendo que manter dois filhos menores de idade, abri a livraria e sebo Lekti, a única volta para as relações raciais e de gênero no estado do Maranhão.
Em conversa com amigas, decidi me candidatar a vereadora pelo PSOL, um cargo importante de decisão sobre os recursos que serão investidos na cidade, tão importante que a vida de uma das vereadoras pretas mais votadas da cidade do Rio de Janeiro foi brutalmente interrompida para encobrir mandos e desmandos de milicianos daquele estado.
Falo de Marielle Franco, que teve mais que o dobro de votos que os 34 dos 51 vereadores eleitos em 2016, cujo cargo acabaria no final desse ano de 2020. Assim, como uma das sementes de Marielle, estou aqui neste enorme desafio. As dificuldades são inúmeras, a contar com a falta de recursos financeiros, a corrida para uma mulher mãe solo cuidar dos filhos e estar na rua em campanha, ser afro empreendedora e não poder parar de trabalhar, ter que normalizar trabalhos acadêmicos para pagar aluguel e comprar comida, etc.
Enquanto isso, essas mesmas feministas liberais “amigáveis” estão lançando suas candidaturas em hotel de luxo da cidade e nós candidatas negras, de partido pequeno como PSOL, ainda não temos nem sequer material de campanha. Estamos contando com apoio daquelas e daqueles que acreditam nessa luta. Gratidão!
Na nossa cidade permanecem os mesmos problemas de décadas atrás, cada vez mais desigual, racista, patriarcal e violenta, mães, pais e filhos sem esperança na política e na vida. A Fila no Sine, creches, hospitais etc. só aumentam, assim como a desocupação de casas, quilombos urbanos, assaltos a ônibus e mortes de motoristas, estamos todas cansadas dessa realidade desvelada pela pandemia de Covid-19, com governo federal e prefeito que desprezam a vida do povo.
No meu bairro, tivemos que encerrar a campanha de doação de alimentos durante a pandemia por falta de apoio, mesmo com grande demanda, mas sabemos que nosso povo (incluindo professores, médicos e bibliotecários) precisa mesmo é de emprego com garantia de direitos, coisa cada vez mais difícil com mais essa crise do capitalismo.
A pandemia aprofundou a concentração de lucros por donos de supermercados na cidade, afetando pequenos comerciantes e empreendedores. Protestos contra o racismo nos EUA repercutiram a luta antirracista por aqui, enquanto em São Luís continuamos a quimera de uma democracia racial. A barbárie se alastra nas nossas costas e vendo que quem ganha as eleições é quem tem dinheiro e serve a Casa Grande. Causa aflição imaginar quem poderá ocupar a prefeitura e a câmara municipal.
Não acho que o povo deve ser enganado com promessas, os candidatos prometem a mesma coisa, e ao assumir a câmara o povo não tem nenhum ganho real. O Estado, o sistema de justiça não nos garante direitos e liberdade de FATO, porque o RACISMO os sabota, a nossa cultura virou um balcão de negócios de privilegiados e impulsiona todo mundo à compra e venda nessa sociedade do TER não do SER.
O sistema não pode ser reformado, negros nunca chegaram a ser classe nesse país. É preciso se horrorizar com corpos negros jogados todos os dias na ruas das cidades. Voto ANTIRRACISTA é voto no movimento negro e de mulheres negras ANTICAPITALISTAS!, NÃO em pessoas negras. Rostos negros em cargos de poder tornaram-se acomodados ao capitalismo. Estamos cansados de ser enganados. É preciso ter o controle POPULAR da POLÍTICA institucional a fim de impulsionar e acelerar a queda das ruínas desta barbárie.
Temos soluções para esses problemas, e elas serão colocadas em uso. Vamos EDUCAR pela PRÁTICA. Somos por todos aqueles que são pelo avanço do interesse do povo pobre desta cidade. Não somos controlados pelos partidos, sindicatos, academia e grupos feministas brancos, nem pela “burguesia negra”. Temos uma mente própria.
O futuro da nossa cidade depende de como nós respondemos ao legado de Negro Cosme, Maria Firmina, Maria Aragão, Magno Cruz e Professor Luizão. O que vamos fazer para combater o racismo, não somente sobre o negro, mas sobre os indígenas, quilombolas, comunidades tradicionais e os trabalhadores brancos dessa cidade?
Nossos sonhos não cabem nas urnas, entretanto, caso não ocupemos também este lugar, ele continuará sendo dono dos nossos pesadelos. Temos a consciência de que é a VIDA que está em jogo e devemos lutar por qualquer meio necessário, por isso peço seu VOTO, para dizer que ninguém será impedido de trabalhar e estudar e na câmara faremos nosso PAPEL PEDAGÓGICO de lutar por políticas públicas para nossa cidade e mostrar os limites dessa institucionalidade que só mantém as desigualdades e opressões.
O que temos que fazer como catalizadores da luta do povo é corrigir tudo isso pela prática. Seremos os negros da plantação, não os da Casa Grande. Venha somar com a gente nessa campanha para DESCOLONIZAR São Luís, vamos nos engajar na prática e fazer com que o povo leia nossa literatura preta, conheça nossas candidatas pretas revolucionárias que estão em defesa da vida e pela mulher preta no poder.
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