RIO – Para quem gosta de cinema e acha que os preços de uma sessão estão caros, o projeto Domingo é dia de Cinema é uma ótima opção para assistir filmes com uma abordagem crítica a respeito de temáticas que cercam a sociedade brasileira e gastando pouco. Idealizado pelo professor Leon Diniz, o projeto que está completando onze anos de existência, atende em sua grande maioria alunos de pré-vestibulares comunitários do Rio de Janeiro e adjacências que muitas vezes não podem pagar uma sessão que custa em torno de quatorze reais num domingo nas salas dos shoppings centers. As sessões acontecem no primeiro domingo de cada mês, às 9h no Odeon, localizado na Cinelândia, região central da cidade do Rio de Janeiro. As sessões são populares, com ingressos custando R$ 2,00. Após o término da sessão é realizado um debate a respeito da temática escolhida.
Incentivando a criação de cinéfilos
Segundo Leon, um dos objetivos do projeto é criar público para o cinema, o que acaba por ser uma tarefa árdua, uma vez que faltam políticas públicas que incentivem esse tipo de ação. “Temos dificuldade em criar um público maior, porque na verdade não há uma política governamental de criação de público”, destaca Leon. Os preços dos ingressos e a falta de cinemas nas regiões periféricas da cidade dificultam ainda mais o incentivo e a criação de público. Mesmo com essas dificuldades, Leon Diniz se mantém a frente do projeto nesses onze anos e com muito orgulho afirma que só faltou uma única sessão devido a problemas de saúde.
Para o professor André Tinoco, que acompanha o projeto desde a época de aluno, o Domingo é dia de Cinema é fundamental pelo fato de debater temas que são pouco frequentes na mídia. Essas discussões propiciam para os alunos uma visão mais crítica e longe do senso comum, ou seja, o aluno pensa e não reproduz. Para Tinoco, o pré-vestibulando consegue aplicar nos alunos esse conhecimento adquirido nos filmes e nos debates quando estes ingressam na universidade.
Temas polêmicos em debate
A revista biblioo esteve presente na última sessão, realizada no dia 10 de julho, com a exibição do filme Cortina de Fumaça, cujo foco é um tema bastante polêmico: a legalização das drogas. Para isso foram convidados para o debate, o compositor Marcelo Yuka, o sociólogo Renato Cinco e o diretor do filme Rodrigo Mac Nivem. Renato Cinco, ativista em prol da legalização da maconha, ressaltou que debater sobre a legalização das drogas não é simples. As resistências da sociedade dificultam a realização do debate sendo preciso coragem para pautar esse tema.
Mesmo com a apresentação de um tema polêmico, o debate se deu em alto nível, com contribuições do Yuka, Cinco e principalmente de Rodrigo que comentou a respeito dos bastidores e da ideia de criar o documentário que fora exibido na ocasião. O público participou de forma ativa no decorrer do debate, trazendo questionamentos para os debatedores, e até mesmo, sugestões para o diretor do filme.
Tanto Leon Diniz como André Tinoco, concordam que discutir esse tema dentro de sala de aula ainda é um tabu. Para ambos, existe uma dificuldade em debater e sempre aparecem polêmicas agregado ao discurso da televisão e da religião. A aluna Diana Pazzini do pré-vestibular Oficina do Saber da Universidade Federal Fluminense (UFF), afirma que o projeto amplia a sua perspectiva. Em relação à temática da legalização das drogas, ela comenta que é apresentada somente a proibição e muitas informações colocadas no debate não eram do seu conhecimento.
Nesses onze anos de atuação o Domingo é dia de Cinema tem se expandido. A ideia também foi implantada no campus de São Gonçalo da Universidade Estadual do Rio de Janeiro (UERJ) com o Sábado é dia de Cinema. Lá a exibição do filme tem inicio às 14h em um sábado de cada mês. De acordo com Leon, é importante estar com o público de São Gonçalo que também sofre com a falta de acesso ao cinema.
A próxima sessão do Domingo é dia de Cinema será realizada no mês de agosto, um ótimo programa para uma manhã de domingo. Vale a pena conhecer o projeto e ter a oportunidade de assistir filmes e documentários que nem sempre estão em cartaz nos grandes circuitos.
Clique aqui e leia integralmente a entrevista de Leon Diniz que compôs essa reportagem.
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