Emilia Sandrinelli: Cinco de janeiro de 2012, eu estou aqui com a Elizabeth Catoia Varela e com a Verônica de Sá Ferreira e elas vão falar da área de convergência entre a área de Artes e a área de Biblioteconomia na atuação delas no MAM RJ. Para começar eu queria que vocês falassem um pouco onde ocorre essa interseção das duas áreas na atuação de vocês?
Elizabeth Varela: Em relação a nossa atuação no MAM RJ, e como se dá a convergência entre Arte e Biblioteconomia, isso vem muito da própria estrutura do MAM RJ. Ele é divido em três grandes núcleos: o primeiro é o de artes visuais, no qual existe um curador que é o Luiz Camillo Osorio. Neste núcleo, é pensado a programação de exposições do MAM RJ e existe toda uma equipe para realizar essas proposições e idéias – de que exposição fazer ou que exposição o Museu vai receber. O segundo grande núcleo é a Cinemateca que propõe a agenda das exibições. Então, existe um curador da área que faz a seleção e propõe uma programação mensal. E o terceiro núcleo é o de Pesquisa e Documentação. E qual é a idéia da Pesquisa e Documentação? É que seja um núcleo de teor intelectual, que tenha consciência histórica e que exista para manter nossa memória. Além de guardar a memória, envolve a pesquisa, ou seja, alguém que desenvolve alguma coisa e sana dúvidas internas e externas. Consequentemente, dentro da Pesquisa e Documentação, nós temos três focos, o primeiro é a pesquisa, ocupando esse cargo está um historiador da arte e para suprir o trabalho desse historiador da arte, precisamos de fontes: o arquivo e a biblioteca. Então nesse contexto está inserida a Biblioteca do MAM RJ. Aqui dentro a gente tem um grande acervo bibliográfico e de periódicos e o arquivo seria o conjunto de fontes primárias. Ao receber pesquisadores externos e funcionários, nós suprimos essas demandas tantos com a biblioteca quanto com os documentos do arquivo. Então onde nossos trabalhos se tocam? Na verdade, eu penso que o trabalho do bibliotecário prevê a sistematização de todo o acervo que vai gerar, junto a outros elementos, uma base intelectual para o trabalho do historiador.
Verônica Ferreira: Eu acho que o objetivo é suprir as necessidades do pesquisador. Ou seja, uma biblioteca existe para fornecer fontes de pesquisa para atender os usuários internos e externos. Então, como qualquer biblioteca especializada, que é o nosso caso, o trabalho é focado para atender essas demandas.
E.V.: Hoje, nóstemos um público bem específico porque nossa biblioteca esteve fechada por um certo período, mas o arquivo continuou funcionando e atendendo ao público. Então, o arquivo tem uma demanda bastante específica, aqui a gente tem fontes primárias, documentos de época, e o maior volume de solicitações são relacionadas ao período áureo do MAM RJ, que seriam as décadas de 50, 60 e 70. Como isso funciona? O arquivo atende pesquisador especializado, então você tem que estar na graduação ou na pós-graduação, ou ser um curador ou um pesquisador independente. Esses pesquisadores vão consultar essas fontes e vão gerar um sub-produto: uma dissertação, uma tese, um livro, um catálogo… Então o que a gente pensa desse funcionamento: ao fazer a pesquisa, você tem que ler os livros especializados sobre aquele assunto e, no dia em que aquilo não te suprir mais, você vai em busca das fontes primárias. Neste momento, você vai ter que tratá-las de certa forma para que isso gere algo que volte para sociedade, por exemplo: uma tese em PDF no banco de uma biblioteca online de uma universidade. Eu penso que a biblioteca, quando reabrir, vai ter um público bem mais amplo, porque uma pessoa que veio ao museu e gostou da obra de um artista, poderá entrar na biblioteca e procurar informações sobre aquele artista.
V.F.: Isso talvez represente ainda melhor onde a Arte e a Biblioteconomia se tocam. A partir do momento que você se interessa por um objeto artístico, você quer saber mais sobre ele e entende-lo melhor. Uma pessoa pode ir a uma exposição e depois querer saber mais sobre aquele artista, então ela pode vir até a biblioteca para pesquisar, tirar dúvidas ou entender mais.
E.V: E, às vezes, uma obra de arte pode não te sensibilizar e depois de entender em que contexto ela foi produzida ou baseada em que pensamento, tendo acesso a esse tipo de informação ou a um texto crítico ou a um tratamento histórico que a situe, você vai conseguir compreender melhor o que você viu. Ou até você procurar ver alguma obra, porque leu sobre ela e isso te despertou interesse dever fisicamente aquilo que alguém abordou textualmente.
V.F: Na verdade, as pessoas que visitam a exposições, se interessam por algumas obras e outras não as toca em nada, mas quando você vai estudar a vida do artista, você começa a entender o pensamento dele, porque ele fez aquilo e as coisas tomam um sentido e se fazem muito mais interessantes. Mas isso também é muito do interesse da pessoa.
E.V.: Eu acho extremamente interessante a reabertura da biblioteca porque o público que o arquivo atende é extremamente especializado e deve continuar sendo assim, mas nós vamos conseguir atender a um público infinitamente maior com a biblioteca, não importa qual a titulação dele, se ele está na graduação ou não, se é uma criança do pré-primário que vem com a mãe. A biblioteca vai atingir um público muito mais amplo.
E.S.: Essa procura dos freqüentadores do museu às bibliotecas ou dos usurários mesmo da biblioteca, você acha que ela tem sido muito afetada pelas novas tecnologias? Tanto no caso das biblioteca quanto da arte, isso tem aproximado ou afastado, já que agora nós temos o e-book e as visitas aos museus online.
E.V.: Eu acho que isso não tem afastado, mas essa é minha opinião particular.
V.F.: Mesmo com as visitas virtuais, esses projetos não captam toda a amplitude do que se expõe.
E.V.: O meu pensamento em relação a esse ponto é bastante positivo, porque as instituições culturais e museus, os quais as pessoas não tem acesso, podem ser vistos por causa dessas novas tecnologias. Então, isto é extremamente positivo. Se você gosta do Van Gogh, você pode conhecer o Museu Van Gogh sem pegar um avião. Do mesmo jeito que uma pessoa que não está no Rio de Janeiro e quer conhecer o MAM RJ, pode ter o mínimo de informações sobre o Museu pelo site, sem precisar vir ao Rio de Janeiro, então acho que o ganho é infinitamente maior. E, também, se você entra em um site de um museu, você se interessa pelo que você viu e é possível ir até lá, isso aumenta o seu interesse em realmente sair de casa e ir conhecê-lo ao vivo e a cores. Isto não substitui a visita, acho que serve para aumentar o seu interesse e te motivar.
V.F.: Até porque as pessoas tem esse interesse de ver o original ao vivo. Ter acesso a imagem de uma obra talvez não baste, isso não é o que o artista tocou, o que ele realmente fez. Por isso, eu acho que realmente uma coisa não substitui a outra.
E.V.: Quando você vê uma pintura e quando você vê a reprodução de uma pintura existe uma grande diferença. Então quando uma pessoa vê a foto de uma pintura no site, ela sabe que o impacto que ela vai sofrer perante a pintura vai ser muito maior no museu. E com a arte contemporânea isso se acentua muito mais, porque a pintura você, pelo menos, tem um clique frontal, porém, em uma obra relacional, por exemplo uma obra que envolva sons, sensação e cheiro, , só é possível ter uma experiência visual na tela do computador, em contraposição a uma experiência sensorial muito maior na presença da obra. Essas novas tecnologias servem para gerar um interesse maior e fazer com que a pessoa venha ao museu.
E.S.: A parte sensorial que é um dos argumentos das pessoas que são muito resistentes a utilização do e-book, ela é muito mais intensa no caso da arte.
E.V.: A internetnão vai substituir o museu, masvai possibilitar um estímulo maior para a pessoa vir ao museu.
E.S.: Você falaram sobre a reabertura da Biblioteca, eu queria saber um pouco mais sobre o projeto e o trabalho que tá sendo feito para que essa reabertura aconteça.
E.V.: Inicialmente, a Biblioteca esteve fechada por 10 anos e o primeiro passo que se deu foi quando em2010, a antiga curadora Rosana Pereira de Freitas selecionou a Verônica. Quando a Verônica entrou, nós trabalhamos sem um projeto para um edital da Secretaria de Estado da Cultura, no qual nós solicitamos a nossa primeira necessidade que era o mobiliário específico. A Verônica trabalhou em um plano de reabertura e a primeira etapa deste plano era ter mobiliário específico para o acervo da Biblioteca. A antiga curadora trabalhou no texto deste projeto, a metragem linear de estantes já havia sido levantada em um projeto anterior que eu tinha feito e a Verônica fez os orçamentos.Eu era pesquisadora na época. Fomos contemplados e este foi o primeiro grande passo. Então, com o auxílio da Secretaria de Estado de Cultura, que nos contemplou no edital de 2010, conseguimos comprar por volta de cinquenta estantes, um carrinho de biblioteca, dois guarda-volumes e um armário duas portas.
V.F.: Foram, mais precisamente, cinquenta e uma estantes dupla-face, quatro face-simples, um carrinho de biblioteca, bibliocantos, um armário em aço, e dois guarda-volumes. Este era o mobiliário básico para acondicionar o acervo de forma adequada e os equipamentos que se faziam necessários para as atividades rotineiras da Biblioteca.
E.V.: Como a Biblioteca esteve fechada, o acervo foi acondicionado em estantes de três metros de altura. Então nós precisávamos de mobiliário que tivesse uma altura correta.
V.F.: Antes de sermos contemplados com o edital de 2010 da Secretaria de Estado de Cultura, o acervo estava apenas armazenado. Visando a reabertura da Biblioteca, o mais adequado seria adquirir um mobiliário correto para sua salvaguarda e que permitisse um acesso mais fácil a ele.
E.V.: A Rosana saiu no ano de 2011 e eu assumi a curadoria, então nós revimos o planejamento elaborado pela Verônica. Nada foi cortado só foram reordenadas algumas etapas e nós resolvemos tentar pelo segundo ano consecutivo o mesmo edital da Secretaria de Estado de Cultura. Solicitamos, no segundo ano, o projeto de automação da Biblioteca, com o software de gerenciamento da Biblioteca e equipe, pelo prazo do projeto, para ajudar a Verônica a inserir parte do nosso acervo no software. E, de novo, a SEC nos contemplou. Existem ainda algumas outras etapas, que nós esperamos que a SEC continue nos auxiliando. Essas duas etapas são extremamente importantes e são caras. Elas só foram realizadas graças aos incentivos recebidos pelos editais contemplados pela SEC. Para nós, foi um benefício muito importante.
V.F.: Esse projeto engloba não só o software de gerenciamento, e uma equipe de estagiários, mas também equipamentos informáticos para dar suporte às atividades e mobiliário para estes equipamentos. Depois que o projeto terminar, os computadores adquiridos permanecerão na sala de pesquisa para utilização dos usuários.
E.V.: A idéia é finalizar este projeto, provavelmente em agosto, prestar contas e novamente tentar o edital da SEC, pois nós temos mais etapas para frente e a próxima será a de higienização.
V.F.: Nós tivemos que optar por fazer este projeto de automação antes da higienização.
E.V.: Foram algumas questões específicas do nosso acervo, que eram: existe uma estimativa da quantidade de publicações do nosso acervo, só que é apenas uma estimativa, não tinha como a Verônica saber exatamente a quantidade.
V.F.: Não saber a quantidade exata, gera um impacto no orçamento do projeto de higienização. Todavia, é importante que o profissional trabalhe com um material já higienizado, por uma questão de preservação de sua saúde. Por isso, nosso auxiliar de biblioteca realiza uma limpeza mecânica básica de todas as obras, antes que o profissional e os estagiários realizem o processamento técnico das mesmas.
E.V.: O nosso auxiliar trabalhou o ano de 2011, basicamente, na higienização destes livros e, para nós, é extremamente importante saber exatamente o que é o nosso acervo, para podermos quantificá-lo e saber quanto é o orçamento de higienização para este acervo. Nos não podíamos pedir um serviço de higienização sem saber exatamente o que nos temos, pois isso gera impacto no orçamento.
V.F.: Até porque nesta década que a Biblioteca esteve fechada foram recebidas, por exemplo, diversas publicações triplicadas que não vão entrar no nosso acervo.
E.V.: E isso tudo vai ser identificado agora. Nós consideramos esta etapa de extrema importância para conhecer o nosso acervo e ser capaz de quantificá-lo, para então escrever um projeto, com dados exatos, para higienização. No ano que vem nos temos o objetivo de captar verba em prol da higienização dos livros. Depois disso, sendo extremamente otimista, nos pretendemos ganhar outro edital em prol de preparar a sala para os usuários, adquirindo mobiliário específico para a sala de pesquisa.
V.F.: Então temos ainda esta etapa de aquisição de mobiliário para a sala de pesquisa e a etapa de processamento técnico do restante das publicações. Isso gera uma previsão de reabertura de 4 anos.
E.V.: Na verdade, a previsão não se dá em anos, e sim em etapas realizadas. As duas etapas que conseguimos concluir foram em anos seguidos graças a Secretaria de Estado de Cultura. Se nos próximos dois anos nós formos contemplados com mais duas etapas, realmente em quatro anos o trabalho estará finalizado, se nós não conseguirmos ter este auxílio financeiro isso vai demorar. Então, nós temos ainda duas etapas a realizar antes da reabertura, o que pode levar dois anos, no mínimo, ou quatro, ou seis, ou oito. Por isso não conseguimos estimar em anos e sim em trabalhos realizados.
V.F.: Em etapas realizadas.
E.V.: Depois da reabertura da Biblioteca existe mais uma etapa que seria identificar as publicações que necessitam de re-encadernação ou restauro, contudo nós podemos realizá-la com a Biblioteca já aberta e este material já estaria previamente separado. É um trabalho que pode ser feito com a Biblioteca já em funcionamento.
V.F.: Hoje, na verdade, os estagiários já separam as publicações que necessitam de reparos, o que já adianta uma próxima etapa.
E.V.: E esse é nosso plano de reabertura. A gente tem duas etapas, uma realizada completamente e a outra está em andamento, temos duas ainda a serem feitas antes da reabertura e a última a gente pretende fazer com a Biblioteca já aberta.
E.S.: Falando sobre as obras raras, obras especiais, quais os critérios que vocês adotaram aqui? Quais conceitos das duas áreas vocês levaram em consideração para desenvolver esse conceito de obra rara ou obra especial?
V.F.: Antigamente, a Biblioteca tinha esses conceitos pré-estabelecidos e isso se perdeu ao longo dos anos. Hoje eu não tenho um documento para analisar e saber o que a bibliotecária da época pensava sobre aquilo. Na verdade, muitas informações sobre a Biblioteca se perderam durante esta década que ela esteve fechada e hoje eu tento reconstruir a partir do que eu encontro. Então, eu não posso te dizer os critérios que a gente adotou e sim os critérios que a gente tenta estabelecer e discute diariamente, para agora sim estabelecer uma política.
E.V.: E eu penso que se no final das cinco etapas a gente conseguir ter estabelecido nossos critérios, dois anos pra frente, se surgir alguma outra questão, ela vai ser rediscutida e pode ser mudado. Eu não acredito no engessamento desses critérios, ainda mais quando você está falando de livro de arte, pois a arte está todo dia transformando-se e tudo que envolve o mundo das artes tem que se transformar junto. Então, hoje a gente pode dizer para você quais são as nossas discussões e o que nós consideramos que venham a se tornar critérios, mas isso pode mudar.
V.F.: Hoje nos não temos um livro de 1808, então esse critério de data que muitas bibliotecas adotam nós não possuímos. No entanto, temos, por exemplo, publicações que se tornaram especiais porque tem a ilustrações de determinado artista.
E.V.: O nosso foco é arte moderna e contemporânea, então cronologia não necessariamente vai ser um critério para tornar uma obra rara. Eu penso da seguinte forma, a obra rara deve ter relevância histórica. ,Em seguida, os livros mais raros seriam aqueles que tiveram uma tiragem extremamente reduzida e que o público especializado não consegue ter acesso a eles dentro das outras grandes bibliotecas, porém eu tenho aqui dentro e eu posso disponibilizar para pesquisa. Um exemplo: revistas e publicações que foram feitas por artistas e, com uma verba mínima, fizeram uma tiragem mínima e isso sequer teve uma distribuição que pudesse atingir o grande público, mas os pesquisadores especializados sabem que essa obra existe e não conseguem chegar até ela de jeito nenhum, pois não existem em bibliotecasem geral. Mas se eu tenho uma obra dessas aqui dentro porque esses artistas, quando tinham uns 25 anos de idade, estavam produzindo aqui dentro,eu considero estauma obra rara. Porque, para pesquisar, você tem que ir na casa do artista e pedir para olhar o exemplar que ele possui, e esta é uma publicação da década de 50, ou seja, com certeza eu tenho livros publicados antes da década de 50 que tiveram uma tiragem muito maior, tiveram uma distribuição ampla e se um pesquisador entrar em um sebo online ele consegue comprar. A gente tem revistas aqui dentro, especializadas em arte, que se uma pessoa buscar em quatro bibliotecas também especializadas em artes, como nós, aqui no centro da cidade, ela não vai achar. Então, no nosso caso, o critério não está atrelado à data mais antiga de publicação, mas, talvez, a relevância histórica atrelada à dificuldade do público especializado ter acesso, que também está relacionada à tiragem.
V.F.: E isso é apenas um dos critérios.
E.V.: Mas a relevância histórica não é como matemática, é algo para ser discutido. Quando a Verônica me pergunta e eu respondo relevância histórica, isso não é algo fixo, não tem uma linha de corte exata. Então, é um trabalho conjunto, no qual também se toca o trabalho do bibliotecário com o historiador da arte. Todos os casos vão ser discutidos individualmente.
V.F.: E no MAM RJ, nós resolvemos, apenas por uma questão de nomenclatura, adotar não “obras raras”, mas “obras especiais”. A antiga bibliotecária também adotava a sigla PE (Publicação Especial) antes do número de chamada de determinadas publicações e para identificar, por exemplo, a que estava autografada pelo artista. Estes livros autografados, eram entendidos como especiais pelo critério da unicidade.
E.V.: Nós temos catálogos de exposições coletivas, nos quais todos os artistas assinaram e deram para a biblioteca do Museu. Esta é uma obra especial. Então, a questão do autógrafo no catálogo pode torná-la uma obra especial também. É outro critério. Uma questão que existe no arquivo que torna um documento especial é que alguns documentos o artista pintou à mão. Por exemplo, um postal, ou um cartão, feito à mão para uma outra pessoa e está conosco. Então aquele documento possui um valor diferenciado de todos os outros.
E.S.: Vocês já falaram um pouco sobre isso, mas queria que vocês falassem mais sobre como a biblioteca e o museu estão ligados no que tange a atender os funcionários e os frequentadores do museu. Como você pretende que isso seja feito na reabertura?
E.V.: Como a biblioteca assiste os próprios funcionários… Vou te dar um exemplo prático: se quiserem estudar sobre um determinado artista ou sobre uma obra, a pessoa vem na Pesquisa e Documentação, pede material específico sobre esse artista e este se acha na biblioteca. A Então, em um museu, existem várias formas que podemos assistir aos funcionários nos trabalhos de cada área. O design é quem produz o projeto museográfico das exposições. Fotos de exposição de um artista, pode ser um acervo visual para que ele possa pensar em algo novo ou algo que já venha dentro de uma linha de raciocínio. Isso então vai acrescentar ao funcionário, acrescentar no que ele vai produzir dentro da área dele. As nossas maiores demandas com a Biblioteca fechada, na verdade, são para a museologia.
V.F.: No momento atendemos exclusivamente as demandas internas, não o público externo.
E.V.: Como a biblioteca está fechada, não atendemos púublico externo. Nossas maiores demandas, no momento, vem da museologia e do pesquisador da nossa área: Pesquisa e Documentação.
V.F.: Futuramente, o objetivo é atender a todos os tipos de usuários, ou seja, desde uma criança até um pesquisador especializado. Nós pensamos na Biblioteca não como arquivo que atende especificamente, pessoas que estão produzindo, mas também um público geral. A Biblioteca vai ampliar o atendimento.
E.S.: O último ponto que eu queria abordar é: qual é a visão de vocês sobre o incentivo à leitura e à arte. A própria reabertura da biblioteca é um grande passo nesse sentido, né?
E.V.: A própria reabertura da Biblioteca é um grande passo nesse sentido. Por ocasião de um projeto que o departamento de Pesquisa e Documentação propôs no ano de 2010, publicamoso livro “Reynaldo Roels Jr.: crítica reunida”. Fomos contemplados por um edital chamado “Conexão Artes Visuais MinC / Funarte / Petrobras” , e graças à FUNARTE conseguimos publicar este livro com boa tiragem. O Reynaldo Roels Jr. foi curador do MAM RJ e veio a falecer um ano antes da publicação do livro. Nossa ex-curadora Rosana Pereira de Freitas tinha vontade de fazer uma reunião dos textos dele, uma seleção e, da seleção, um livro. Trabalhamos nesse projeto, fomos contemplados pela FUNARTE e conseguimos fazer o livro. Por ocasião deste livro, ela colocou a Verônica para produzir uma lista de bibliotecas especializadas em artes no país. A Verônica produziu, trabalhou alguns meses focada só nesta tarefa e conseguiu fazer um grande levantamento para que o nosso livro fosse enviado para estas bibliotecas. Este levantamento foi utilizado para a distribuição do livro e, depois de realizado, o arquivo foi disponibilizado para a REDARTE RJ para criar futuras propostas que eu não poderia explicar. A Verônica faz parte da REDARTE RJ e foi o meio através do qual eles tiveram conhecimento do trabalho e vieram nos solicitar o levantamento. Nós disponibilizamos o arquivo para que a REDARTE RJ pudesse dar a continuidade que achar importante. Então eu acho que mesmo hoje, com a Biblioteca fechada, pequenas ações que desenvolvemos podem gerar grandes ações. Pequenos trabalhos quando você cede para alguém que quer complementar podem gerar algo muito maior. Quando eu permuto um livro com uma biblioteca especializada eu faço com que ele atinja um outro público. Quando eu faço uma doação para uma biblioteca comunitária, como a gente faz, o livro vai a maiores distâncias atender a outros leitores. E a gente pretende dentro de três etapas reabrir uma biblioteca, isso tudo está relacionado à arte e à leitura. Quando nós propomos um projeto em um edital da Secretaria do Estado de Cultura em prol da nossa Biblioteca e ela nos contempla, isso é incentivo da Secretaria do Estado de Cultura em prol da leitura. Eu penso que temos diferentes ações em diferentes graus visando este incentivo.
V.F.: O objetivo da listagem que iniciei dela era reunir as bibliotecas de arte do país, principalmente as que possuíam acervo de arte moderna e contemporânea, para doar o livro que havíamos produzido. A REDARTE RJ viu nesta listagem o início do que hoje se tornou o projeto do “Guia de Bibliotecas Brasileiras em Arte”, no qual estamos trabalhando e pretendemos aumentar cada vez mais, não apenas com bibliotecas especializadas em arte moderna e contemporânea, mas bibliotecas de arte no geral. Essa foi uma pequena ação que acabou gerando um grande projeto com uma proposta muito interessante.
E.V.: Eu acho que o mais importante dessa última questão é falar do incentivo à arte e leitura no nosso âmbito de ação. E esses são os incentivos que foram reais e que a gente pode contribuir começando…
E.S.: Depois da biblioteca em funcionamento vai haver muito mais possibilidades de isso ser feito aqui.
E.V.: Sim, com certeza.
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