Biblioo

Desenvolvimento de Coleções

A preocupação com o desenvolvimento dos acervos em bibliotecas é um fator que ganhou maior visibilidade a partir das décadas de 1950 e 1960, devido a um crescimento desenfreado de informações e coleções. O Desenvolvimento de Coleções (DC) é um processo de planejamento de acervos de forma seletiva, a partir das considerações de determinados fatores que visam cumprir o objetivo de atender uma determinada comunidade usuária com qualidade, relevância, eficiência financeira e economia, além de trabalhar de forma atualizada com o seu tempo.

Segundo Cunha & Cavalcanti, desenvolvimento de coleções é caracterizado como o “planejamento para aquisição de material bibliográfico de acordo com o interesse dos usuários”. Os autores ainda complementam o conceito incluindo nesse desenvolvimento uma avaliação sistêmica que observe o tamanho e a utilidade do acervo da biblioteca e que analisa a relação com os objetivos, tanto da biblioteca como dos seus usuários e a organização à qual esta unidade está subordinada. Essa relação de objetivos também é afirmada por Valdomiro Vergueiro que enxerga o DC como algo diretamente ligado aos objetivos específicos de cada tipo de biblioteca e cada biblioteca em si, além da comunidade a qual o acervo irá atender.

É relevante levar em consideração o fato de que as bibliotecas estão, quase sempre, subordinadas a uma entidade que é responsável pela manutenção das verbas destinadas à aquisição de novos itens. Talvez, quando usuários e administradores culturais descobrirem que as verbas aplicadas em bibliotecas e centros de documentação não estão sendo dispendidas aleatoriamente na aquisição de materiais inadequados, comecem a chegar maiores volumes de recursos financeiros às mãos dos bibliotecários, conforme nos ensina Vergueiro.

A partir dessa informação também é possível perceber a importância, não só de se conhecer os objetivos citados, mas também que a execução de um inteligente processo de DC pode ser vital para a vida de uma biblioteca e sua sobrevivência, justificando esses fatores por meio de uma comunidade satisfeita e verbas bem aproveitadas. É possível compreender quais são as etapas que envolvem o ciclo de DC a partir do: Estudo da Comunidade, Políticas de Seleção, Seleção, Aquisição, Desbastamento e Avaliação.

Para o estudo da comunidade, devem ser estudados os usuários – real e em potencial –, tem que ser feito um levantamento histórico, demográfico, geográfico, educativo, socioeconômico, de transporte, cultural e informacional, político e legal. Com isso, poderá verificar a necessidade informacional da comunidade, quando não apenas as etapas do desenvolvimento de coleções, mas também todo o planejamento do serviço bibliotecário, como processamento de material, serviços de referência, de marketing, balcão de informações utilitárias e culturais.

A seleção como atividade técnica e intelectual é fornecida por conhecimento e experiência, criticamente testada e acompanhando princípios gerais. Para as bibliotecas públicas, a seleção de materiais deverá ter em vista a própria diversificação da clientela; nas bibliotecas escolares, a seleção terá em vista os objetivos dos cursos oferecidos, o nível dos alunos e o aspecto pedagógico dos materiais; nas bibliotecas especializadas ou de empresas, o material deve estar relacionado diretamente com os objetivos da instituição mantenedora da biblioteca, a seleção deve estar dentro do interesse da empresa ou instituição.

Os catálogos e folhetos de editores, as resenhas dos materiais, as bibliografias e lista de livros recomendados são instrumentos para auxiliar na seleção. No caso de periódicos, em termos de recursos financeiros, é muito maior do que com a seleção de outros materiais, pois tem a questão de renovação. O bibliotecário, devido à fragilidade e não possuírem uma tradição de luta em favor da liberdade intelectual de seus usuários e a não estarem suficientemente organizados em associações, sindicatos ou federações, acabam sendo subordinados aos poderosos, que restringem o acesso às informações e a biblioteca passa a ser vítima de censura, seja ela legal ou governamental; pressão individual ou de grupo e autocensura.

Etapas importantes

A aquisição dos materiais pode ser realizada por compra – o bibliotecário, após o processo de seleção, efetua o processo de compra, mantém e controla os arquivos necessários (para a primeira e futura compra) e administra os recursos disponíveis para aquisição; por doação – sempre verificando se o material recebido está de acordo com o acervo, e se não se trata de material muito antigo; por fim, a permuta – ocorre principalmente em bibliotecas universitárias.

O desbastamento ocorre com: o descarte – retira total e definitivamente da coleção; o remanejamento – deslocamento para locais de menor acesso, onde os materiais são acomodados compactamente a fim de que ocupem o menor espaço possível e a conservação – retirada do material para recuperá-lo fisicamente. Em ultimo lugar, ocorre a avaliação de coleções, que é a etapa menos efetuada em bibliotecas, devido a falta de tempo dos bibliotecários e falta de conhecimento adequado em relação a avaliação.

Decidida a inclusão desta etapa, deve-se utilizar a melhor metodologia. Entre elas, um dos trabalhos mais famosos é o de Frederic W. Lancaster, que as classifica em metodologias quantitativas, qualitativas e fatores de uso. As quantitativas utilizam-se de dados estatísticos que podem abranger o tamanho total da coleção ou sua divisão por tipos de materiais, áreas de assunto, data de publicação ou idioma; as qualitativas englobam métodos que vão enfocar o conteúdo da coleção e sobre eles, lançar um julgamento de valores, diagnosticando sua boa ou má qualidade e os fatores de uso que incluem os registro de circulação, procura-se avaliar a adequação do acervo à comunidade que deve servir e definir se a coleção atende satisfatoriamente a demanda.

O esquema do DC deve estar contido em um documento que servirá como guia para a alocação de todos os recursos necessários. Este documento é denominado de Política de Desenvolvimento de Coleções. A elaboração desse guia tem por função auxiliar a integração e o funcionamento do ciclo de DC de forma produtiva e sistêmica, além de promover uma visualização mais detalhada de cada etapa e de pontos relevantes destacados pela instituição que contém a biblioteca. Esse documento, depois de pronto, orienta a todos os bibliotecários responsáveis pelas etapas, acima descritas, para o desenvolvimento de um determinado acervo.

Colaboraram: Maria Sueli Liberato, Nancy Bersan de Araújo, Tais Priscila da Silva Ramos e Jaqueline Rios Ramos.

Comentários

Comentários