Tendo visitado as muitas bibliotecas que visitei até hoje me ocorreu que o espaço arquitetônico delas é um grande influenciador do seu uso. Uma biblioteca preenchida de móveis da tok stok não a torna automaticamente um bem público de qualidade, concordo com o Ricardo. Mas ei, seria uma coincidência que todas as bibliotecas esteticamente incríveis sejam mais frequentadas? As feias que me desculpem, mas…
Bibliotecas são feitas de livros e pessoas, claro. Mas o que estou dizendo é o seguinte: bibliotecas que investiram em arquitetura e design, prevaleceram.
Aliando meu interesse pessoal em arquitetura e bibliotecas decidi criar um blog/site que irá compilar o que melhor temos de biblioteca no Brasil. Não sou arquiteto. Gosto é que nem bunda. Então o que eu faço é simplesmente reunir como um arquivo pessoal fotografias de bibliotecas que chamaram minha atenção. Pode ser a fotografia, pode ser a biblioteca. Preferencialmente, as duas coisas juntas.
arquiteturadebibliotecas.blogspot.com é o endereço
Em um momento futuro esgotarei meu conhecimento acumulado sobre as bibliotecas “interessantes” e contarei com a ajuda de colegas e usuários para alimentar o site. Não se trata apenas de evidenciar bibliotecas per se (o mapa do Murakami faz isso), mas sim evidenciar o que temos de melhor e como estamos servidos.
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Nesse trabalho de compilação de imagens cativantes das bibliotecas brasileiras, me impressionou a dificuldade que é encontrar fotografias dos espaços internos das bibliotecas.
Por que as bibliotecas não se deixam fotografar?
Muitas bibliotecas possuem normas que impedem fotografar seu espaço interno e acervo. Exceto fotografias que podem expor outros usuários que não consentem aparecer nas fotos ou danos que os flashes das máquinas podem exercer sobre os documentos, não consigo pensar em nada que justifique essas proibições. De todo modo, esses dois casos parecem ser do tipo em que o benefício trazido ultrapassa as perdas potenciais. Bastariam regras claras sobre a reprodução e uso das imagens do espaço; consentimento daqueles por ventura retratados; digitalização apropriada dos materiais, para salvaguarda e disseminação.
Bibliotecas são feitas de livros e pessoas, claro. Mas o que estou dizendo é o seguinte: fotografias de seus espaços físico e acervos, devidamente tornadas públicas na internet, são excelente método de marketing e divulgação para as bibliotecas.
Sei de muitas bibliotecas que têm medo de verem seus espaços expostos, para não mostrarem como precárias são. Mas não são essas bibliotecas que procuro aqui. São lindas e amplas e novas bibliotecas, com acolhedor desenho arquitetônico. E delas, pouquíssimas fotos estão disponíveis livremente na web, que creio eu, se dá graças à proibição de fotografar os espaços internos.
Meras fotografias não erradicam a privacidade da biblioteca e seus frequentadores. As bibliotecas brasileiras insistem em ser anti-internet e fazem de tudo para se esconder, como Diego brilhantemente escreveu.
Biblioteca Euclides da Cunha no Rio, Biblioteca Nacional do Rio e Biblioteca Nacional de Brasília, por exemplo, três das maiores representantes do conceito de biblioteca no Brasil e três das mais belas bibliotecas do país, ao que consta, não permitem que se fotografe seu espaço interno, sem autorização prévia da direção.
Colegas de trabalho, faço meu apelo: se estiver dentro da responsabilidade de vocês, sugiro que liberem integralmente a possibilidade de fotografia dos ambientes internos de suas bibliotecas. Não sejam anti-internet. Deixem que fotografem as bibliotecas e quem sabe elas terão uma chance de aparecer mais do que pratos de comida no instagram.
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Uma das grandes causas conhecidas pela qual os cidadãos brasileiros não frequentam bibliotecas é o simples desconhecimento: não sabem que as bibliotecas existem, não conhecem sua localização, o que elas oferecem e o que podem conseguir delas.
@fuckyeahmoreno estou encantada. nunca tinha visto algumas daquelas bibliotecas, não sabia que tinhamos bibliotecas daquele nivel
— Elani Régis (@elaniregis) Fevereiro 6, 2013
Criar uma consciência sobre os problemas é, sabidamente, uma coisa que os brancos gostam. O “awareness” dos americanos. Os brasileiros se apropriam muito bem dessa ideia de apontar e sofrer na pele os problemas, mas não fazer nada para resolve-los.
Resolvi que uma das intenções do blog de arquitetura de bibliotecas seria criar uma consciência sobre a existência das nossas belas bibliotecas. Caberá aos visitantes in loco, eu e você, definir se além de belas elas são boas e baratas.
Tem bibliotecas demais nesse Brasil. Tem bibliotecas demais sendo inauguradas. Prefeitos adoram inaugurar bibliotecas tanto quanto adoram ignora-las.
Resolver o problema do desconhecimento das bibliotecas é apenas uma questão de auto-consciência? Resolver o problema das bibliotecas é apenas uma questão de marketing?
Meu dilema é evidenciar as bibliotecas que são funcionais e plenas na vasta maioria das cidades brasileiras, sem soar governista, e o desafio é mostrar que usufruir esses espaços públicos nada mais é do que um direito e exercício de cidadania.
Em uma das muitas reflexões sobre o por que as bibliotecas importam, tentei desmistificar alguns dos argumentos chavões para o não frequentar das bibliotecas: não tem o livro que eu quero, fica longe de casa, o horário de funcionamento é ruim, etc.
O que levou a uma combinação lógica do status antropológico do brasileiro que não (re)conhece bibliotecas:
1) os ricos desconhecem porque não precisam
2) classe média não reconhece porque prefere livrarias
3) os pobres não conhecem
A classe média bunda mole brasileira (eu e você) prefere pagar triplicadamente (valor do produto, imposto sobre o produto, imposto de renda) para ter acesso ao serviço/bem, nesse caso, os livros. Lembrando que as bibliotecas públicas são financiadas pelo erário público.
Por alguma razão que eu não sei explicar, temos fé que livros e bibliotecas mudam e salvam pessoas (Mario Quintana? pois bem). Não sei explicar também porque muitos de meus amigos que foram educados como eu, são chefes de família como eu, pessoas de bem como eu, conseguem seguir adiante com suas vidas sem ter nunca frequentado uma biblioteca ou lido mais do que dois livros por ano desde que sairam do ensino médio (quando liam por obrigação). Essas pessoas estão bem empregadas, são capazes de articular uma conversação, traçar inferências lógicas, pagam seus impostos, e mesmo sem ter frequentado bibliotecas ao longo da vida ou terem sido leitores minimamente aceitos, não são a escória da sociedade. Para elas, a biblioteca nunca fez falta, nem fará. E não por isso precisam ser salvos, para mudar o mundo. Então, livros e bibliotecas importam?
Se importam a você, não sei dizer. A mim, importam. O que eu não aceito como desculpa é: não sabia que a biblioteca existia.
Então toma
visite: arquiteturadebibliotecas.blogspot.com
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