O presidente dos EUA, Donald Trump, poderia ter se salvado um pouco do embaraço da última semana se consultasse sua biblioteca local em vez da Fox News antes de mencionar sobre ataques terroristas na Suécia. Por todo o país, os bibliotecários intervêm para verificar os fatos e autenticar o conteúdo da web em uma tentativa de combater a divulgação de falsas notícias.
Não que ele se sentiria bem-vindo, já que a categoria se colocou na vanguarda da resistência de suas políticas sobre refugiados e imigração, de acordo com Elizabeth Flock da PBS Newshour. A intervenção segue as ordens executivas do presidente proibindo imigrantes de sete países predominantemente muçulmanos e ameaçando retirar financiamento federal de cidades que desafiam a proibição.
O movimento reflete o papel fundamental que as bibliotecas desempenham na vida de novos americanos, com mais de metade visitando as instituições pelo menos uma vez por semana, de acordo com o Instituto de Museus e Serviços de Biblioteca , um ponto feito pela American Library Association (ALA) no fim do mês passado quando condenou a proibição da imigração.
“As 120.000 bibliotecas públicas, acadêmicas, escolares e especiais de nossa nação servem a todos os membros da comunidade, incluindo pessoas de cor, imigrantes, pessoas com deficiência e os mais vulneráveis em nossas comunidades, oferecendo serviços e recursos educacionais que transformam as comunidades, abrem mentes e promovem a inclusão e diversidade”, disse em um comunicado que incentivou seus 57 mil membros a se manifestarem contra a administração.
Os bibliotecários escolares foram os primeiros contra o novo presidente e seus seguidores, contra atacando a até então chamada “falsa notícia”, ainda que ferramentas de informação promovam conteúdo examinado por pesquisadores em sites e hospedando discussões e palestras sobre pensamento crítico. Relatos de que a nova administração tinha limitado o fluxo de informações de alguns departamentos também foi condenado como censura pelo Escritório da ALA para Liberdade Intelectual.
Mas os bibliotecários intensificaram suas atividades desde que as ordens executivas foram emitidas no mês passado. Em Nebraska, a diretora-assistente da biblioteca, Rebecca McCorkindale, criou um cartaz usando o slogan “Bibliotecas para Todos”, que foi usado para apoiar campanhas por todo os EUA. A biblioteca do condado de Hennepin, em Minnesota, que serve a grandes comunidades somali e espanhola, ofereceu uma resposta típica: juntou-se à campanha “Todos são bem-vindos aqui”, numa tentativa de tranquilizar os habitantes locais.
Bernie Farrell, coordenador de programas e serviços para jovens, disse: “Queremos que eles se sintam bem-vindos. Queremos que se sintam seguros. Queremos que eles sintam que se eles fizerem perguntas sobre qualquer tópico, vamos dar-lhes informações relevantes e úteis ou referências relevantes e úteis.” Bibliotecários em Cambridge, Massachusetts, seguiram outros declarando suas bibliotecas espaços santuário em que os imigrantes ilegais podem procurar proteção, aconselhamento e ajuda sem medo ou julgamento.
No Oregon, uma biblioteca no condado de Multnomah, tem promovido livros infantis sobre refugiados e imigrantes, enquanto outras bibliotecas venderam emblemas com o slogan “Todos são bem-vindos”. Na Pensilvânia, um boneco Yemeni-Americano muçulmano foi disponibilizado nos terminais de atendimento. A bibliotecária de Massachusetts, Elizabeth McKinstry, disse à PBS Newshour: “Nós somos recursos enormes para os recém-chegados neste país, seja para conexão com este país, recursos legais, preparação para testes, testes de cidadania, serviços como contação de histórias ou ajuda com o dever de casa. Estamos lá para as pessoas mais vulneráveis em nossas comunidades, pessoas do outro lado da divisa digital ou linguística.”
Matthew Haugen, um bibliotecário da Universidade de Columbia, tem coordenado grande parte da campanha e criou a conta do Twitter “LibrariesResist”. A conta e o hashtag associado realçam campanhas locais, compartilham fontes e explicam como as bibliotecas podem ser usadas como santuários. Entre os materiais disponíveis, de acordo com o site de Livros Públicos, estão uma lista de leitura “Pare Trump” e um plano de estudos Trump – um curso que “explora a ascensão de Donald Trump como um produto da linhagem americana de racismo, sexismo, nativismo e imperialismo”.
Texto publicado originalmente no The Guardian sob o título original “US libraries join struggle to resist the Trump administration.” Tradução de: Rafael Gomes.
Foto do topo: Brendan Smialowski / AFP / Getty Images
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