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Bibliotecas escolares

Por John C. Schinker. Tradução de Moreno Barros.

À medida que as escolas evoluem para atender as necessidades dos alunos da próxima geração, o papel da biblioteca se torna cada vez mais incerto. Se o modelo de livros didáticos e professores como a fonte de todo o conhecimento está desatualizado, então a ideia de um centro de mídia na escola que contêm todos os recursos didáticos que os alunos possam precisar é igualmente obsoleta. A noção de que mesmo as bibliotecas escolares mais bem providas poderiam rivalizar com a riqueza de recursos disponíveis instantaneamente no smartphone de um estudante é um absurdo. No entanto, as escolas não parecem estar pulverizando suas bibliotecas, e com razão. Nós ainda precisamos delas por perto. Elas ainda são relevantes. Elas continuam a desempenhar um papel fundamental no processo de ensino e aprendizagem que ocorre em nossas escolas.

Alimentar o amor pela leitura

O ensino fundamental é basicamente sobre leitura. Nós ensinamos aritmética, ciências, estudos sociais e um monte de outras coisas, mas na verdade, tudo gira em torno da leitura. Até que esses alunos sejam alfabetizados, vai ser difícil ensinar-lhes muita coisa. Nas primeiras séries elementares, a biblioteca ajuda a abrir as portas para os mundos infinitos capturados nas páginas dos livros. Desejamos que nossos filhos sejam leitores. Precisamos que nossos filhos amem a leitura. É bom que os livros tenham uma mensagem positiva ou ensinem algo útil. Mas, principalmente, precisamos de livros para convencer as crianças de que os livros são impressionantes. Na minha família, muitas vezes é difícil tirar as crianças para longe dos livros. O amor pelos livros melhora o seu nível de leitura, aumenta seu vocabulário e expande a sua consciência cultural. Ao longo do caminho, elas ocasionalmente aprendem algum conteúdo, também.

Ensinar competência informacional

Lá na idade das trevas, quando eu ia para a escola, aprendi sobre a Classificação Decimal Dewey e o catálogo de fichas. Eu poderia dizer que eles não tinham muito a nos ensinar sobre a biblioteca, porque introduziram essas coisas na terceira série, e depois fizeram isso repetidamente a cada vez que eu ia à biblioteca até quando estava prestes a me formar. Eu aprendi a odiar o sistema de Dewey, mas de qualquer forma eu compreendia aquele sistema perfeitamente. No mundo de hoje, porém, temos um monte de coisas para ensinar a nossos filhos a respeito da informação. A primeira, e talvez menos óbvia, é como encontrá-la. Como se vê, uma simples busca no Google nem sempre é a melhor opção. Há outros lugares para procurar diferentes tipos de informação. Existem estratégias de busca que podem economizar muito seu tempo. E com o número de pesquisas que fazemos em um dia típico, provavelmente vale a pena investir um pouco de energia para economizar algum tempo em cada pesquisa.

Após a pesquisa, os alunos têm o problema da filtragem. Dois milhões de resultados de busca não ajudam ninguém. Como é que vamos encontrar os melhores recursos – as peças mais relevantes – para as nossas necessidades? Em uma época de abundância de informação, este é um problema enorme.

Uma vez que os estudantes encontrem as informações, eles trêm que avaliar sua confiabilidade. Todos nós sabemos que há coisas na Internet que não são verdadeiras. Mas este é também o caso com o conteúdo de livros e revistas, os jornais, os chamados programas de TV “imparciais e equilibrados”, e basicamente sobre qualquer outro tipo de informação que encontramos. Nossos alunos têm de levar em consideração o ponto de vista, a motivação e viés do autor. Eles têm que ser capazes de determinar se um determinado recurso é confiável o suficiente para seus propósitos, e esse processo tem tanto de arte como de ciência.

Finalmente, uma vez que a informação relevante foi encontrada ou vetada, os alunos precisam de ajuda para cita-la e usá-la. Como os direitos autorais afetam o que podemos fazer com o trabalho de outra pessoa? Como é que podemos conceder aos outros o crédito e evitar acusações de plágio? Como é que vamos levar as ideias dos outros e adicionar-lhes para criar algo novo de uma forma legal e ética?

Fornecer recursos compartilhados

Bibliotecas sempre foram sobre compartilhamento. Não podemos nos dar ao luxo de comprar todos os livros que queremos ler. E a maioria dos livros não nos serve para muita coisa, depois de lidos. Faz muito mais sentido recolher os livros em um só lugar e compartilhá-los. É claro que as editoras odeiam essa ideia. À medida que avançamos no caminho digital, elas irão aprender com as feridas da batalha de seus irmãos nas indústrias de música e de cinema. Parece haver algum bom progresso nessa frente, mas a batalha continua. Especificamente, temos de encontrar maneiras razoáveis para compartilhar recursos eletrônicos entre as pessoas que não têm um único dispositivo dedicado em que eles consomem a mídia.

Além disso, as bibliotecas são espaços para recursos compartilhados para além dos livros. Em todas as escolas que eu trabalhei, as bibliotecas eram os primeiros locais a receberem computadores e acesso à Internet. Elas também foram os primeiros a ter scanners, impressoras coloridas, câmeras digitais e outros recursos que não poderiam ser fornecidos a todos. Mais tarde, elas entraram no negócio de projetar dados e, em alguns casos, elas emprestam laptops para professores e alunos. À medida que avançamos, a biblioteca vai continuar a ser o lugar para ir em busca de recursos compartilhados. Talvez elas terão impressoras 3D e roteadores CNC. Talvez elas terão equipamentos e instalações de produção de vídeo. Elas provavelmente também vão ter recursos não-tecnológicos que os professores e os alunos podem usar. Nos casos em que faz sentido compartilhar, nossas bibliotecas são o lugar para estar.

Ajudar na curadoria

Você usa favoritos em seu navegador? Eu costumava. Eu costumava perdê-los. Cada computador que eu usei tinha seu próprio conjunto, e eu esquecia de movê-los de um computador para outro, ou um disco rígido deixaria de funcionar e eu os perdia, ou eu mudava de browser e tinha que lidar com um novo conjunto de bookmarks . Então, eu finalmente migrei para o Delicious uma década atrás ou pouco mais. Este serviço fantástico armazena os meus favoritos na nuvem. Isso significa que não importa em qual computador estou usando, os meus favoritos estão sempre a apenas um clique de distância.

Só que eu nunca usava o serviço. Eu não salvo mais as coisas, porque eu percebi que eu nunca realmente volto a olhar para os meus favoritos. Se eu precisar de alguma coisa, é só procurá-la. 

Mas se eu estivesse tentando colaborar em um projeto, isso deixaria todos loucos. Se eu fosse um professor de quarta série, e nós estivéssemos tentando trabalhar em conjunto na coleta de recursos para estudos científicos e sociais, a minha abordagem de procurar coisas o tempo todo realmente não serviria.

Como professores, se quisermos afastar os livros didáticos dizendo-nos o que e como ensinar todos os dias do ano letivo, vamos ter de realizar a curadoria de nossos próprios recursos. Temos que organizar os links e conteúdos de forma que nos permitam compartilhá-los facilmente e usá-los sem tentar constantemente encontrar coisas.

Quem é o especialista, em nossas escolas, na organização de recursos de informação para que as pessoas possam encontrá-los? Esses seriam os nossos mestres da classificação decimal de Dewey. Eu não acho que devemos dar um número de classificação para todos os recursos web que encontramos, mas os nossos especialistas em mídia certamente podem nos ajudar a colocar essa informação em um formato organizado que todos podem usar. E nós precisamos de sua ajuda agora mais do que nunca.

Espaço para colaboração acadêmica e descoberta

Às vezes, vou ao Starbucks para trabalhar. Não é porque eu preciso de um lugar tranquilo. Meu escritório é certamente muito mais silencioso do que um café. Não é porque eu preciso de café. Eu posso fazer melhor café em casa do que o Starbucks faz. O que eu preciso é de uma cadeira confortável em um lugar que é ocupado, mas sem distração. Eu preciso de atividade em torno de mim, mas não a atividade que é interessante o suficiente para eu prestar atenção. Eu preciso de um ambiente longe das interrupções do escritório e das distrações do computador. Eu preciso de um lugar para ler, pensar ou escrever. E para mim, a Starbucks se encaixa no projeto.

Recentemente, a Biblioteca Parque Estadual tornou-se este espaço também. Vou ocasionalmente lá com um laptop e uma xícara de chá. Não é tão ocupado, mas o ambiente é similar.

Nossos alunos precisam de um lugar para trabalhar. Eles precisam de um lugar que não é tão formal e desconfortável como a sala de aula. Eles precisam de um lugar onde eles podem trabalhar em conjunto, se necessário. Precisam de um lugar onde eles podem relaxar um pouco e ser produtivos. Nossas bibliotecas poderiam se tornar estes lugares. Cadeiras confortáveis. Mesas para quatro. Áreas separadas com pequenos cantos e recantos para permitir que as pessoas encontrem um local, isolados e ao mesmo tempo juntos, para fazer as coisas. É um lugar onde o barulho é inadequado, mas onde o silêncio é igualmente inadequado. Talvez haja alguma música. Felizmente, existem algumas janelas que deixam a luz entrar. Há um carregador para o meu telefone e uma tomada para o meu laptop. E eu posso sentar lá e fazer algum trabalho. Eu nem mesmo me importo sobre o café.

Conforme nos afastamos dos livros impressos, e à medida que migramos para um mundo onde a informação não é mais escassa, temos que repensar o nosso conceito de biblioteca escolar. Elas ainda desempenham um papel indispensável em nossas escolas. Nós apenas temos que ser bem intencionados sobre o planejamento de sua transformação.

Tradução do orginial: 5 reasons we still need school libraries.

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