Por Silane Souza, do acritica.com.
Mesmo com inovações tecnológicas como a internet, muitos estudantes ainda preferem buscar informações na boa e velha biblioteca. Mas, para quem estuda no Centro de Manaus, essa tem sido uma tarefa difícil. Isso porque, enquanto a Biblioteca Pública municipal João Bosco Pantoja Evangelista funciona em local improvisado porque a sede, localizada na Praça do Congresso, está abandonada, a Biblioteca Pública Estadual, reformada em 2013, impõe uma série de medidas burocráticas que acabam afastando os estudantes.
Na Biblioteca Estadual, horário restrito de funcionamento e a exigência de comprovante de residência atualizado para uma simples consulta ao acervo dificultam a vida dos usuários. A reclamação é a mesma em todas as instituições de ensino que a reportagem visitou no centro histórico. Quem estuda naquela área reclama da dificuldade em fazer pesquisas além da internet e das bibliotecas das escolas e faculdades, que muitas vezes sequer contam com esse espaço.
“Hoje quase ninguém frequenta biblioteca, faz tudo pela internet e celular, digita o que quer e pronto: acha. E, quando alguém vai tentar fazer uma consulta na biblioteca pública, sempre se depara com alguma dificuldade. Aí fica difícil incentivar os alunos”, disse o estudante de enfermagem João Lucas dos Santos Lima, 25, que reclamou do atendimento ao público na Biblioteca Pública do Amazonas, localizada na rua Barroso, Centro.
Na opinião dele, as maiores dificuldades são a burocracia para acessar o acervo e o horário de funcionamento, que está restrito das 8h às 14h. Quem também reclama do funcionamento da biblioteca é a estudante do ensino médio Alice Amanda Santos Nobre, 15. Para ela, o local deveria ficar aberto, pelo menos, até as 18h. “Essa é a hora que os estudantes da manhã têm para fazer suas pesquisas, uma vez que o local fecha às 14h. Eu mesma preciso sempre emprestar livros que são difíceis de serem encontrados, só na biblioteca mesmo. Mas se ela está fechada…”.
Abandono
Se na Biblioteca Pública Estadual o problema é a burocracia, na municipal o que preocupa os frequentadores é o abandono. O prédio foi fechado em 2011 para uma reforma que, até hoje, não foi iniciada. Cercado por tapumes, o local acabou invadido por moradores de rua que o usam como abrigo. Enquanto isso, o acervo é mantido de forma provisória em uma casa no Largo São Sebastião, também no Centro.
Para a estudante de educação física Jessica Sá da Silva, 22, o abandono do prédio é um descaso não só com os estudantes, mas com a sociedade em geral. “Faz tanto tempo que a biblioteca foi fechada para reforma, mas as obras nunca saem. Muitas faculdades têm a sua própria biblioteca, o que facilita a vida dos alunos, mas nem todos os estudantes podem utilizar esses espaços, só aqueles que estudam lá. E os outros, que não têm essa possibilidade? E o resto da população?”.
Obras
A Fundação Municipal de Cultura, Turismo e Eventos (Manauscult) informou que a Biblioteca Municipal João Bosco Pantoja Evangelista está inclusa entre as obras contempladas pelo programa PAC Cidades Históricas, cujo andamento é acompanhado atualmente pela Secretaria Municipal de Infraestrutura (Seminf).
Informou ainda que, atualmente o projeto esta em fase de análise e atualização do orçamento junto ao Instituto do Patrimônio Histórico e Artístico Nacional (Iphan). O custo estimado da obra de restauração das fachadas, reforma dos espaços internos, instalações e cobertura e de aproximadamente R$ 3,9 milhões.
Enquanto isso, conforme a Manauscult, a biblioteca está em funcionamento normal, desde o fechamento do prédio para a obra, na rua Costa Azevedo, Largo de São Sebastião, Centro.
Horário reduzido e acervo virtual
Sobre a Biblioteca Pública Estadual, a Secretaria de Estado de Cultura (SEC) informou que o horário de funcionamento foi reduzido desde janeiro por conta das férias escolares e de um treinamento, realizado com os servidores, mas deverá voltar ao normal (8h às 18h de segunda a sexta) no dia 1° de março.
Em relação à exigência de comprovante de residência para consulta ao acervo, a pasta informou que, apesar de a funcionária que atendeu a reportagem de A Critica ter exigido o documento, o procedimento correto é exigí-lo apenas em casos de empréstimo das obras, medida permitida apenas para o acervo de literatura.
Conforme a SEC, a Biblioteca Pública do Amazonas possui um acervo de, aproximadamente, 350 mil volumes, entre livros, folhetos, jornais, periódicos, multimídia, teses, obras raras, obras especiais, projetos, plantas e mapas.
O acervo de literatura está disponível para empréstimo e os demais, para consulta local, para manutenção/preservação do acervo. E ainda possui um acervo com mais de 800 títulos digitalizados para consulta via biblioteca virtual, disponível no endereço eletrônico bv.am.gov.br
A pasta frisou que a Biblioteca Pública do Amazonas foi selecionada pelo Sistema Nacional de Bibliotecas Públicas (SNBP), via edital nacional do Ministério da Cultura, para ser beneficiada entre dez do Brasil a receber uma série de ações, cujo objetivo é de promover acessibilidade para pessoas com deficiência.Um dos méritos reconhecidos na seleção é o total compromisso do Governo do Estado na condução da política de inclusão no Amazonas.
Ao todo, 20 funcionários da biblioteca foram capacitados com o treinamento em Tecnologia Assistiva, durante a semana passada. No ano de 2015, foram realizados diversos treinamentos na área de inclusão social para funcionários dos demais espaços da Secretaria de Estado de Cultura, como os cursos “Libras”, “Princípios de Políticas Públicas e Programas de Livro e Leitura Acessíveis e Inclusivas” e de “Políticas Públicas de Livro e Leitura para Todos: Gestão, Implementação e Boas Práticas”, entre outros.
E nos dias 1º e 2 de março, a Biblioteca Pública do Amazonas participará do Seminário Internacional de Acessibilidade em Bibliotecas Públicas, na Universidade de São Paulo (USP).
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