Desde os bancos das salas de aula do Curso de Biblioteconomia da Universidade Federal do Ceará (UFC), quando ingressou em 1985, Fernando Braga Ferreira tinha o sonho de exercer a profissão de bibliotecário, e com isso, ter a oportunidade de contribuir de alguma maneira com a formação dos colegas bibliotecários e bibliotecárias.
Concluiu o Bacharelado em Biblioteconomia pela UFC em 1990. Iniciou sua trajetória profissional trabalhando em projetos temporários na área e sempre carregava consigo a ideia de criar uma empresa com o foco voltado a simular rotinas pertinentes aos serviços biblioteconômicos e uma biblioteca com condições de atender graduandos em Biblioteconomia no intuito de proporcionar experiências e vivências profissionais.
Parte do sonho se concretizou treze anos depois de ingressar na graduação de Biblioteconomia da UFC, em 1998, formalizou a empresa que intitulou como Acesso Assessoria Documental. O objetivo do empreendimento era vendas de produtos para bibliotecas e serviços tanto na área de Arquivologia como também em Biblioteconomia.
Até então, somente parte do sonho estava sendo realizado por ainda não ter conseguido montar uma biblioteca. Precisou de mais uma década para que as coisas começassem a dar sinais que estava próximo a realizar seu anseio. Aos poucos, Fernando Braga foi convidando colegas no intuito de se reciclarem através de capacitações com pequena carga horária, cursos precatórios, de português, Ged, entre outros. Com a experiência dos cursos, surgiu a motivação em criar um seguimento especializado na área de Educação.
Com o novo seguimento seria necessário criar uma biblioteca para servir de suporte aos alunos, e com isso, ser um diferencial entre as escolas de cursos tradicionais para capacitações de profissionais. No ano de 2015, Fernando fundou a segunda empresa, a Acesso Educação, que se especializou em cursos de pós-graduações na área de Arquivologia e Biblioteconomia. Em paralelo foi desenvolvendo o projeto para a criação da biblioteca, começou a pedir aos colegas de profissão que tinham o interesse de doar seus acervos pessoais da área de Biblioteconomia para iniciar a formação do acervo. “Eu argumentava que a pessoa iria fazer uma boa ação, pois iria contribuir com a classe, pois tínhamos a possibilidade de criação na cidade de mais uma biblioteca com acervo especializado na área”, revelou Fernando Braga.
Doações da área de Biblioteconomia recebidas por Fernando Braga.
A criação da biblioteca comunitária Chico Parafuso
A medida que recebia as doações pensou em montar uma biblioteca especializada como uma espécie de laboratório e percebeu que não poderia restringir o acervo somente com foco voltado para área de Biblioteconomia, necessitava de um acervo mais generalizado que tivesse condições de atender atender aos bairros de Amadeu Furtado, Parquelândia e adjacências, próximos a região central de Fortaleza. Em 2018, a biblioteca comunitária foi criada e intitulada de Chico Parafuso. Atualmente se encontra sediada na Rua Abílio Martins, número 900, no bairro Amadeu Furtado.
Fernando Braga em atividade de Estágio Supervisionado na Chico Parafuso
A escolha do nome da biblioteca foi uma maneira encontrada por Fernando Braga para homenagear seu pai, Francisco Qualtemar Ferreira, popularmente conhecido como Chico Parafuso. “Foi a forma que encontrei de homenagear meu pai pelo exemplo de ser humano, de pai e de trabalhador. Criou a família com seis filhos e mesmo com Ensino Médio incompleto gostava muito de ler, sua leitura de cabeceira era a Revista Seleções”, conta Fernando.
O acervo da biblioteca conta com cerca de 4 mil volumes, com 90% informatizado e com consulta, reserva e renovação de empréstimo online. O acervo ainda abrange áreas como Jornalismo, Arquivologia, Biblioteconomia, Literatura Brasileira e Estrangeira, Romances, Poesias, Artes, entre outros. Toda coleção foi formada com algumas doações e pequenas compras realizadas por Fernando Braga.
Além de oferecer a comunidade o acesso aos livros e à leitura, também oferece cursos de capacitações com intuito de contribuir para comunidade ou interessados em aprender trabalhar em bibliotecas. É o caso de cursos de Auxiliar de Biblioteca, de Acessibilidade e também do Bibilivre. Também são realizadas oficinas de contações de histórias, sempre de forma gratuita ou com doação de mantimentos que são destinados para instituições de caridade da localidade.
Curso de auxiliar de biblioteca destinado para a comunidade geral
Em termos de serviços, a biblioteca comunitária Chico Parafuso oferece espaço para estudos, uso de internet e também serviços de emissão de boletos. “Tínhamos planejado para este ano, auxiliar no preenchimento do imposto de Renda, mas desde o ano passado estamos funcionando de forma bem reduzida e sempre adotando os protocolos sanitários e por várias vezes, tivemos decretos nos obrigando a fechar”, conta Fernando, as limitações no atendimento em virtude da pandemia.
A biblioteca também oferece aos alunos de graduação em Biblioteconomia da UFC, de Administração da Faculdade Terra Nordeste (FATENE), a oportunidade de realizar estágio curricular. Uma ótima troca de aprendizado, de formação e de compartilhar conhecimento e cultura com as comunidades locais.
Lei Aldir Blanc contemplou dois projetos da Chico Parafuso
Com o intuito de atender ações emergenciais destinadas ao setor cultural durante o estado de calamidade, em função da Covid-19, foi aprovada em 03 de setembro de 2020 durante sessão plenária na Assembleia Legislativa do Ceará, a Lei Audir Blanc. A proposta é uma adequação do Estado à Lei Federal 14.017 que destinou ao todo, R$ 71 milhões destinados para ações de transferência de renda para os trabalhadores e trabalhadoras da cultura; realização dos editais, prêmios, chamadas públicas e aquisição de bens e serviços com vistas ao fomento das artes e da cultura no Ceará; e R$ 67 milhões para execução dos municípios cearenses para ações de subsídios aos espaços culturais e artísticos, como também realização de editais.
A biblioteca Chico Parafuso foi contemplada com dois projetos da Lei Aldir Blanc, o que proporcionou a realização de cursos de manutenção e prevenção na biblioteca e atividades culturais. Também foram realizadas atividades em escolas próximas a Chico Parafuso, no intuito de divulgar e promover a profissão de bibliotecário (a), o incentivo à leitura e os serviços utilitários que são disponibilizados a comunidade de forma gratuita. Devido a pandemia e em atendimentos aos protocolos sanitários, os encontros nas escolas estão interrompidos.
Atividades lúdica e cultural realizadas com crianças da região
Fernando Braga está três anos a frente desse projeto e se emociona ao lembrar da trajetória até criar e desenvolver a biblioteca. “Isso me emociona e me concede força para continuar. Mostrar que uma biblioteca não é um espaço com estantes e livros e sim, um espaço vivo com possibilidades de contribuir com as pessoas tanto em suas formações, em suas vidas pessoais e profissionais e que requer um profissional qualificado com noção de gestão administrativa, pessoal e social. É muito gratificante saber que as atividades da biblioteca Chico Parafuso contribui para formação de colegas e da sociedade de uma forma em geral”.
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