Atenção! Você bibliotecário(a) já passou por situações inusitadas quando recebe um acervo de um doador, acervo esse que dizem ser de suma importância para a instituição? Em doze anos de profissão, já fui testemunha ocular de muitas quinquilharias que as famílias do doador, na maioria dos casos, recém falecido, querem se desfazer imediatamente. Normalmente, costumam entrar em contato com alguém da instituição, aquele(a) pessoa considerado(a) amigo(a) da família de longa data e sem que o(a) bibliotecário(a) seja comunicado(a), orquestram toda a doação, desde o transporte até a chegada ao setor.
E você, meu ou minha caro(a) bibliotecário(a), é o último a saber. Na verdade, só sabe quando todo aquele material, multiplicado em inúmeras caixas de papelão, repletos de traças e outros bichinhos que adoram umidade, adentram a biblioteca. Você, que é todo(a) organizado(a), que aprendeu ao longo de seus quatro anos de formação, sobre a importância da política de formação e desenvolvimento de coleções, se vê em uma situação inusitada, sem saber o que fazer e como agir.
Nessas circunstâncias, apesar de toda a literatura especializada ressaltar que uma doação só deve ser recebida por uma biblioteca levando-se em consideração a sua política de desenvolvimento de coleções, na maioria dos casos não é isso que ocorre. Um dos pontos dessa política aponta que o doador deve relacionar todo o conteúdo a ser doado para que o bibliotecário(a) confira se é pertinente ou não o recebimento do material. Porém, na prática, isto não ocorre.
Assim, infinitas caixas não param de chegar à biblioteca, sem que você conheça o conteúdo das mesmas. Quando você, caro(a) bibliotecário(a), se vê diante dessa situação, o desespero e a angústia tomam conta, num primeiro momento. Vontade de chorar e sair correndo não falta, mas, como somos fortes e resilientes, o jeito é encarar…
Você começa a abrir as caixas, na esperança de encontrar grandes tesouros, afinal, “a esperança é a última que morre”. De fato, você até encontra livros muito bacanas e que contemplam a missão da biblioteca, porém, numa percentagem abaixo do esperado. Objetos muito inusitados são encontrados. E dentre as quinquilharias e bugigangas, destacamos:
- kits de aquarelas cujas tintas encontram-se totalmente ressecadas;
- Talões de cheques sem validade;
- Passaportes;
- Livros/revistas com folhas recortadas;
- Mobiliário despencado;
- Por fim, os campeões das quinquilharias – os exames médicos, como raios-X, tomografias, exames de sangue.
Precisamos deixar e tornar claros que as bibliotecas não são depósitos de bens inservíveis de casas particulares. Elas são espaços de guarda da memória de uma instituição e/ou personalidade, sendo o seu acervo devidamente construído de acordo com a missão daquela instituição, com os objetivos e a política de formação e desenvolvimento de coleções de cada biblioteca.
Todo o acervo é devidamente organizado, ou seja, catalogado, classificado e preservado, servindo de legado para as futuras gerações. As bibliotecas não são lixeiras! E você, caro(a) leitor(a), já passou por alguma situação semelhante? Que itens do “arco da velha” já chegaram em suas bibliotecas, sem que houvesse algum tipo de serventia?
Abraços!!!
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