Por Victor Longo do Huffpost Brasil
“Atuar como demonstrativa em pesquisa, coleta e tratamento da informação, em disseminação de conhecimento e na oferta de cultura, educação e lazer, promovendo inclusão social e fortalecimento da cidadania”.
A missão da famosa Biblioteca Demonstrativa de Brasília (BDB) ainda está estampada em seu site, mas contrasta com a situação de descaso na vida real. Conhecida por ser o único local para registro de direitos autorais da capital brasileira, a biblioteca permanece fechada para reforma há dois anos, deixando sem amparo os seus cerca de 250 mil usuários anuais.
A cargo da Diretoria de Livro, Leitura, Literatura e Bibliotecas do Ministério da Cultura (MinC), a Demonstrativa – como é conhecida – foi fechada em maio de 2014. Desde então, o prazo para a finalização das obras tem sido adiado sucessivas vezes.
A promessa do MinC é que o local seja aberto novamente no segundo semestre, mas segundo relatos de moradores locais, não há pessoas trabalhando no canteiro de obras. O ministério assinou um contrato de cerca de R$ 800 mil com uma empresa privada para a execução da obra, mas em vez das melhorias esperadas pela população, o que se vê é um verdadeiro elefante branco na avenida W3 Sul, onde a biblioteca se localiza.
“Essa é uma situação que foi se agravando, pouco a pouco, desde a década de 1990, quando comecei a frequentar o local”, conta o bacharel em Direito e usuário associado à BDB Marcelo de Lima, 31 anos. “As mesas e cadeiras quebradas, envelhecidas ou sem manutenção, o arcondicionado sem funcionar desde os anos 2000, problemas na parte elétrica, o forro do teto despencando e completamente assimétrico”, descreve.
Soma-se à lista computadores antigos e muitos quebrados, banheiros danificados, etc. A lista de problemas é tão longa quanto a espera pela reabertura do local. Marcelo submeteu uma representação no Ministério da Cultura e no Ministério Público Federal alertando para a gravidade da situação e reiterando a expectativa de uma solução breve mas, até então, não recebeu qualquer resposta.
Biblioteca já está sem funcionar há dois anos, mas aviso permanece na parede
Enquanto os 700 usuários diários da biblioteca ficam sem um local para estudar, sem acesso ao acervo e ao serviço de registro autoral de obras, a BDB tem sido envolvida em imbróglios que vão desde a mudanças na gestão, até a investigação do atraso em obras por parte do Ministério Público.
Fundada em 1970, a biblioteca foi, por muito tempo, subordinada a uma fundação localizada no Rio de Janeiro, o que dificultava a gestão e acabava limitando o repasse de recursos. Havia a expectativa de que, em 2014, o Ministério da Cultura assumiria a BDB e isso resolveria os problemas. Desde então, o MinC assinou contratos emergenciais para reformar o local, mas esses contratos, que pela legislação existente são improrrogáveis, foram prorrogados sucessivas vezes.
O caso da BDB não é o único de má gestão e descaso com bibliotecas no Distrito Federal e país afora, mas tem se tornado marcante devido à demora e à visibilidade nacional do órgão. Nesses dois anos, a capital perdeu uma das maiores referências de bibliotecas e, com isso, as diferentes atividades que ela abrigava — serviços, projetos musicais, grupos de apoio a mulheres e reforço estudantil.
A situação no DF torna-se ainda mais grave com a interdição de outros locais de estudo para a população como o Espaço Cultural Renato Russo, na 508 Sul. Interditado desde 2013 pelas condições precárias, o espaço é gerido pelo governo local e é utilizado principalmente para exposições artísticas e eventos culturais, mas também por leitores, já que inclui uma biblioteca de gibis, conhecida como Gibiteca.
Pelas leitoras e leitores, escritoras e escritores, compositores, artistas, estudantes e literatos da capital do país, em respeito à produção cultural, à memória e à pesquisa, uma solução imediata precisa ser apresentada para a situação. E que com ela, venham boas explicações.
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