Por Roberta Pennafort , O Estado de S.
RIO – Aos 42 anos, Sérgio Roberto Eleotério não tem casa nem emprego. No entanto, é dono de uma carteirinha da Biblioteca Parque Estadual (BPE), no centro do Rio, que frequenta semanalmente. Lá, assiste a filmes em cabines e usa o chamado “espaço do ócio” para descansar.
Eleotério mora em hotel pago pela prefeitura a moradores de rua, perto do prédio amplo da BPE, aberto há sete meses na Avenida Presidente Vargas. “Eu me sinto bem-vindo. Quando não arrumo bico para fazer, estou aqui. Vejo filmes de terror, ação e de guerra.” São cerca de mil frequentadores diários, com pico de até 4 mil. O movimento triplicou em relação ao que era registrado na antiga biblioteca pública que funcionou ali, degradada e defasada, até 2008.
As antigas instalações passaram por obras que custaram R$ 71 milhões e duraram quatro anos. A instituição foi criada em 1873 por d. Pedro II, em outro endereço, e remodelada pelo antropólogo Darcy Ribeiro nos anos 1980. O período em que ficou fechada foi tão longo que o carioca esqueceu que ali havia uma biblioteca.
Integração
Agora, o espaço está sendo redescoberto. A proposta é ambiciosa: integrar diferentes camadas sociais em torno da literatura e de múltiplas artes (abriga teatro, exposições, oficinas e computadores com acesso à internet) e se firmar como matriz de uma rede de bibliotecas do Estado.
São 15 mil metros quadrados e 200 mil itens em acervo, entre livros e quadrinhos, além de 3 milhões de músicas digitalizadas e 20 mil filmes. O slogan “uma biblioteca que tem de tudo, até livro” cabe bem: as peças teatrais, encontros com autores, shows e atividades voltadas às crianças têm lotado o espaço.
Segundo a superintendente da leitura e do conhecimento da Secretaria Estadual de Cultura do Rio, Vera Schroeder, a expectativa foi superada logo no primeiro mês. “Recebemos de população de rua a doutorandos. Tem quem venha só pelo ar-condicionado e bebedouro. Vimos uma senhora tirar documento de identidade só para poder fazer a carteirinha.”
Vera explica que a localização central permite que a biblioteca receba visitantes de toda a cidade, além de turistas. Mas ainda há desafios a serem superados. “Existe o estigma de que, por ser um lugar público, não terá qualidade e que um lugar bacana é só para a burguesia.”
Em um passeio pelos três andares, é possível avistar alunos em excursão, aposentados lendo revistas e jornais, donas de casa procurando best-sellers e curiosos descobrindo o poeta Waly Salomão (1943-2003), tema de uma exposição.
Visitantes
O estudante Vinicius Machado, de 23 anos, foi atrás da tranquilidade para terminar a monografia do curso de Design da Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ). “É um lugar impressionante. Acho legal o atendimento ser igualmente bom para todos.”
Preparando-se para a prova do mestrado em Literatura da PUC-Rio, Fernanda Tatagiba, de 30 anos, tem ido ao local duas vezes por semana. “Biblioteca, em geral, é um lugar claustrofóbico e empoeirado. Essa é a melhor que eu conheço. Já vim a saraus de poesia e fiz um curso de dramaturgia.”
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