Um prêmio para “um grande poeta na tradição do idioma inglês”. Foi assim que a Academia Sueca definiu o Prêmio Nobel de Literatura dado ao cantor e compositor americano Bob Dylan nesta quinta-feira.
No anúncio oficial, a porta-voz da Svenska Akademien afirmou que os jurados escolheram o músico de 75 anos como o premiado de 2016 por ele ter “criado novas expressões poéticas dentro da grande tradição da música americana”.
No entanto, a honraria dada a Dylan surpreendeu muitos não apenas pelo fato de o músico ter desbancado outros favoritos – entre eles o escritor japonês Haruki Murakami ou o famoso poeta sírio Adonis -, mas também porque pela primeira vez o prêmio máximo da literatura foi para um compositor de canções.
Dylan estava em listas que especulavam sobre os potenciais ganhadores do prêmio em 2016, mas muitos analistas acreditavam que a Academia Sueca não se aproximaria de um gênero popular como o folk rock.
“Claro que (Dylan) merece. Acaba de ganhar”, respondeu Sara Danius, secretária permanente da Academia, aos surpresos jornalistas em Estocolmo.
“É um grande poeta na tradição do idioma inglês (…) Há 54 anos ele se reinventa, constantemente criando uma nova identidade”, explicou.
O músico, autor de clássicos como Jokerman, Blowin’ in the Wind e Like a Rolling Stone, vai receber o prêmio de 8 milhões de coroas suecas (cerca de R$ 2,8 milhões) e uma medalha a ser entregue em uma cerimônia no dia 10 de dezembro.
‘Preferia Bowie’
O último americano a receber o prêmio Nobel de Literatura havia sido a escritora Toni Morrison, em 1993. Entre os outros, estão Sinclair Lewis que ganhou a honraria em 1930, William Faulkner, em 1949 e Ernest Hemingway, em 1954.
“Se uma pessoa quer começar a escutar ou ler (Dylan) deveria começar com Blonde on Blonde, o disco de 1966, que tem vários clássicos e é um exemplo extraordinário de seu jeito brilhante de fazer rimas, posicionar os refrãos e seu pensamento em imagens”, aconselhou Sara Danius.
A secretária permanente da Academia Sueca admitiu que não era muito fã do trabalho de Dylan, explicando que preferia o trabalho de David Bowie.
“Talvez fosse uma questão de geração – hoje eu adoro Bob Dylan.”
Quando questionada sobre a entrega do prêmio ao cantor e compositor significar uma ampliação radical dos critérios da Academia, Danius preferiu lembrar dos poetas gregos.
“Pode parecer que sim, mas, se olharmos para trás, bem para trás, descobrimos Homero e Safo, que escreveram textos poéticos ou peças que foram feitos para ser ouvidos, apresentados, frequentemente junto com instrumentos, e é a mesma coisa com Bob Dylan. Nós ainda lemos Homero e Safo e gostamos.”
“É a mesma coisa com Bob Dylan – ele pode ser lido e deve ser lido”, acrescentou.
Las Vegas
Colin Paterson, o correspondente da BBC para entretenimento, lembra que Dylan é a primeira pessoa a ganhar um prêmio Nobel no mesmo dia em que faz um show em Las Vegas, nos Estados Unidos.
Na sexta-feira passada, ele tocou junto com os Rolling Stones no Festival Desert Trip, na Califórnia.
Paterson ainda questiona o que levou a Academia Sueca a premiar um homem que apenas escreveu três livros e, em seguida, afirma que Dylan fez com que as letras de suas músicas fossem mais importantes que a melodia.
Para o correspondente da BBC, o resultado demonstra uma mudança real no prêmio que, em 112 anos de história, jamais tinha premiado um compositor.
“A decisão eleva letras de música a um patamar semelhante ao da literatura, poesia e dramaturgia. É um grande passo para longe do intelectualismo que se autoperpetua e o elitismo pelo qual o prêmio já foi criticado”, afirmou.
O nome verdadeiro de Bob Dylan é Robert Allen Zimmerman. Ele nasceu em 1941 e começou sua carreira musical em 1959, tocando em cafeterias do Estado americano de Minnesota.
Grande parte de suas músicas mais conhecidas são da década de 1960, quando ele se transformou em uma espécie de historiador informal dos tempos turbulentos nos Estados Unidos.
Blowin’ in the Wind e The Times They are A-Changin’ estão entre as canções que são verdadeiros hinos dos movimentos contra a guerra e pelos direitos civis
Dylan tem muitos álbuns que podem ser considerados clássicos, entre eles Highway 61 Revisited, de 1965, e Blood on the Tracks, de 1975, além de Blonde on Blonde, citado pela secretária permanente da Academia Sueca.
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