Por Afonso Borges em O Globo
Como você escolhe livros em uma livraria? A famosa compra de impulso? Chega a uma livraria, de preferência imensa, e fica ali garimpando títulos, namorando capas, puxando pela memória o que já leu, gostaria de ler, ou apenas sonhou ler? Afinal, não é a livraria a casa dos sonhos dos leitores? A casa onde você pode encontrar um livro que lhe dará respostas, ou abrirá uma nova porta, ou lhe entregará o bilhete para a próxima viagem? Não. A resposta é, lamentável e definitivamente, não.
A livraria não é mais a casa da sabedoria, dos bons livros. Foi-se o tempo. Antes de ir a uma livraria, procure saber quais autores você quer ler. Qual assunto lhe agrada, qual romance te encanta. Por quê? Porque as livrarias se tornaram supermercados. Todos os livros que vocês veem nas gôndolas, bancadas, estantes ou vitrines estão ali porque as editoras pagaram para ali estarem. Cada centímetro da sua visão, ao entrar em uma livraria, tem um preço. É espaço vendido para as editoras, que se tornam reféns da estratégia.
O que você deve fazer, portanto? Desconfiar, conferir, ir atrás. Mas, se o bom livro não está mais exposto, na vitrine, o que fazer? O segredo hoje chama-se repertório. Isso mesmo: repertório. Minha sugestão de repertório? Os ótimos e maravilhosos autores brasileiros, que nem sempre estão na vitrine. Quer uma lista rápida? Milton Hatoum, Antônio Torres, Jaime Prado Gouvêa, Evandro Affonso Ferreira, Sergio Sant’Anna, Bernardo Carvalho, Carlos Herculano Lopes, Marina Colasanti, Affonso Romano, Adélia Prado e Dalton Trevisan. Sem falar dos mortos, como Oswaldo França Júnior, Roberto Drummond, Wander Piroli, Moacyr Scliar e Affonso Ávila. E o que estou cometendo de injustiça ao omitir tantos e tantos outros… mas não importa. O que vale é o seguinte: tenha sempre um repertório de bons autores para ler.
Escolha também os latino-americanos, desde os clássicos Cortázar e Gabriel García Márquez, até os novíssimos, como o argentino Leopoldo Brizuela e o colombiano Santiago Gamboa. A minha dica é simples: antes de ir ao supermercado, ops, à livraria, pesquise, pergunte, peça indicações de autores e livros. Aí, sim, vá lá, passear, distrair os olhos e ouvir do vendedor, estupefato, aquela frase: O quê? Aí você repete, de espacito: eu quero ler “O altar das montanhas de Minas”, o único romance de Jaime Prado Gouvêa, editado pela Record. Portanto, defenda-se, consumidor: antes de ir a uma livraria, tenha repertório. O velho e bom livreiro, com suas indicações, morreu.
*Afonso Borges é escritor e gestor cultural
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