Tentam nos negar colocar o pão na mesa, a esperança, o presente e a vida. Arquitetam amarras para a devastação do nosso país. Enquanto recusam vacinas, promovem propositalmente um caos sanitário, insegurança alimentar e educacional. Nos negam os livros e liberam as armas de taxação de impostos.  Aos mais pobres tentam retirar todas as formas de existência e resistência.

Em documento recém-divulgado, a Receita Federal colocou os livros entre itens sujeitos à incidência da Contribuição sobre Bens e Serviços (CBS), na primeira etapa de uma reforma tributária que vem sendo discutida neste governo. Com essa proposta, os livros podem sofrer uma taxação de 12%.

Campanha “A periferia lê, da Rede LiteraSampa. Foto: divulgação

As camadas populares são sedentas para acessar os livros e a leitura, como aponta a pesquisa Retratos da Leitura no Brasil, divulgada em 2020, que indicou os mais de 27 milhões de pessoas das classes C, D e E que gostariam de ler mais e não podem fazer isso devido ao seu baixo poder aquisitivo.

Além disso, diversas iniciativas de promoção da leitura e do livro, sejam coletivas ou individuais, têm formado leitores e garantido o acesso ao livro nas periferias. Dentre essas ações, as bibliotecas comunitárias revelam, com seu trabalho, que as periferias leem e têm interesse pelo livro.  Se as camadas mais pobres não leem mais é por descaso do Estado, que dificulta o acesso dos mais pobres ao livro, à leitura, às bibliotecas e ao conhecimento.

Silvana Miranda, Sônia Miranda e Sandra Miranda integrantes da RNBC e da Tecendo uma Rede de Leitura, promotoras do livro e da leitura. Foto: divulgação

A pesquisa “Bibliotecas Comunitárias no Brasil: Impacto na formação de leitores” (clique aqui para acessar) identificou que as bibliotecas comunitárias são criadas e mantidas pela sociedade civil, com a finalidade de garantir e ampliar o acesso ao livro e à leitura em determinadas comunidades, seus frequentadores – em boa parte – participam ativamente do processo de gestão e planejamento destes espaços. 

A amostra para o estudo incluiu 143 bibliotecas, sendo 92 integrantes da Rede Nacional de Bibliotecas Comunitárias (RNBC) e as outras 51 sem vínculo com a rede. Foi constatado que 66,5% desses espaços foram criados por coletivos, grupos de pessoas do território e movimentos sociais. Além disso, 86,7% dessas bibliotecas estão localizadas em zonas periféricas de áreas urbanas em regiões de elevados índices de pobreza, violência e exclusão de serviços públicos. Do restante, 12,6 % estão em zonas rurais e apenas 7% em áreas ribeirinhas.

Pequeno leitor da Biblioteca Varanda Literária da Rede Tecendo Uma Rede de Leitura. Foto: divulgação

Foi constatado também que essas bibliotecas são acessíveis e envolvidas com suas comunidades, seus espaços são pensados para assegurar práticas de leitura compartilhada e têm acervos que priorizam o letramento literário. Outro ponto revelado foi que as pessoas que têm acesso e frequentam essas bibliotecas gostam de ler, sabem da sua importância e têm interesse pela leitura.

O estudo foi coordenado pelo Centro de Cultura Luiz Freire (CCLF) de Olinda (PE) juntamente com o Grupo de Pesquisa Bibliotecas Públicas do Brasil, da Universidade Federal do Estado do Rio (UNIRIO), e o Centro de Estudos de Educação e Linguagem da Universidade Federal de Pernambuco (UFPE), com o apoio da Rede Nacional de Bibliotecas Comunitárias (RNBC).

A RNBC atua em nove estados com 115 Bibliotecas Comunitárias. Em 2019, a rede teve um total de atendimento com as suas 11 redes locais de 40 mil pessoas e mais de 26 mil empréstimos de livros. Uma das redes integrantes da RNBC é a Rede de Bibliotecas Comunitárias “Tecendo uma Rede de Leitura”, atuante em Duque de Caxias, na Baixada Fluminense, que com um acervo de mais de 17 mil livros atua com 7 bibliotecas nesta região, desde 2013.

Imagem da camapnha “A periferia lê”. Foto: divulgação

As bibliotecas dessa rede compartilham experiências e atividades, trabalhando em conjunto para ampliar o direito à leitura, formar leitores e contribuir para a formação e implantação de políticas públicas de acesso ao livro e à leitura.

As ações de fomento à leitura e democratização do livro de bibliotecas da Rede Nacional, e tantas outras iniciativas espalhadas pelo Brasil, demonstram que as regiões periféricas leem e têm interesse pelo livro.  Se as camadas mais pobres não leem mais é por descaso do estado, que dificulta o acesso destas pessoas ao livro, à leitura, às bibliotecas e ao conhecimento.

A gente não quer só comida

A gente quer comida, diversão e arte

A gente quer saída por toda parte

(Titãs – Comida)

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