Os Países Bálticos, localizados no nordeste da Europa, demonstram bem como as bibliotecas e a Internet podem formar uma simbiose altamente frutífera e como o conhecimento, que é tradicionalmente reunido nas bibliotecas, juntamente com os dados históricos e a memória preservada nos arquivos, pode ser melhor acessível ao público.
A Letônia, por exemplo, com pouco menos de dois milhões de habitantes, oferece condições perfeitas para configurar e gerenciar facilmente a infraestrutura digital nestes espaços. Tanto é assim que o país está atraindo mais e mais startups devido à sua digitalização avançada – incluindo a preservação digital exemplar de sua herança cultural.
A Biblioteca Nacional local, que fica em Riga, por exemplo, tem sido um farol da modernidade desde sua fundação. A estrutura projetada por Gunnar Birkerts é considerada uma das maiores novas construções de biblioteca do mundo. O majestoso edifício criado pelo arquiteto letão-americano oferece espaço para manuscritos, livros, jornais e revistas, num um total de quatro milhões de objetos.
Mas ainda mais importante do que este arquivo de material impresso são os recursos digitais expansivos da biblioteca. Todas as 801 bibliotecas públicas da Letônia estão conectadas em uma enorme rede de intranet, cuja infraestrutura tornou-se uma algo indispensável à vida de muitas pessoas, que podem usá-lo em todo o país com um único cartão de biblioteca.
Através dos 7.150 terminais públicos nas bibliotecas, as buscas podem ser iniciadas nos vários bancos de dados. Por exemplo, pessoas de pequenas cidades remotas podem verificar se vale a pena ir a um determinado museu, já que quase 20% dos cerca de 6 milhões de objetos do Museu Nacional da Letônia estão listados no catálogo.
Além disso, os usuários podem fazer login no sistema de bibliotecas a partir de seus computadores domésticos para acessar materiais protegidos por direitos autorais.
A ponta de lança da inovação digital da Letónia é o Centro de Sistemas de Informação da Cultura. Como parte do Ministério da Cultura local, este tem por objetivo abrir ao público as jóias do património cultural diversificado do país. As bibliotecas e arquivos são, assim, fundidos em um arquivo digital e um sistema de informação.
Se alguém quiser descobrir onde seu avô nasceu, por exemplo, ele não precisará mais sacudir a poeira dos livros antigos. Em vez disso, eles podem consultar este material de casa, a partir de seus computadores, consultar mapas digitalmente ou visualizar documentos de treinamento e outros itens.
Segundo Janis Ziedins, gerente de projetos da instituição, a ideia é unificar tudo. “Ajudamos o máximo que podemos. Damos infraestrutura para bibliotecas e museus, arquivos e administração”, revela. Grande parte do financiamento necessário provém do Fundo Europeu de Desenvolvimento Regional (FEDER).
A Letônia possui uma das redes de Internet mais rápidas do mundo, possibilitando que o uso de material digital de filmes e material de arquivo fotográfico, ou de um arquivo nacional de documentos pessoais, seja utilizado por usuários comuns. O arquivo de áudio e vídeo digitalizado (DIVA) permite que as pessoas assistam filmes letões em seus sofás por meio de acesso à biblioteca digital ou baixem e-books por tempo limitado em seus tablets, ou mesmo peguem tablets em prestados da biblioteca.
A Biblioteca Nacional da Lituânia (outro dos Países Bálticos), em Vilnius, fundada em 1919, há muito tempo se dedica à digitalização de seus arquivos. Quando o prédio clássico foi reaberto ao público em setembro de 2016 após a reconstrução, o diretor Renaldas Gudauskas acelerou sua transformação digital.
Como parte da biblioteca virtual europeia intitulada “Europeana”, a Biblioteca Nacional disponibilizou o património científico e cultural da Lituânia ao público.
A biblioteca pública de Vilnius desenvolveu um programa que tenta fortalecer as crianças de famílias socialmente desfavorecidas. Mais do que simplesmente oferecer livros ou quadrinhos, os desenvolvedores de software lituanos também criaram jogos que funcionam como plataformas de comunicação para crianças.
Dentro da plataforma, no máximo seis crianças podem se encontrar digitalmente e falar sobre seus problemas usando um avatar projetado pelas próprias crianças. Um psicólogo treinado os acompanha – virtualmente e na vida real na sala adjacente da biblioteca. O programa foi reconhecido e copiado internacionalmente.
Mesmo regiões remotas do pequeno país estão ligadas em uma rede de bibliotecas digitais. Plunge, uma cidade de cerca de 20 mil habitantes do interior do país, recebeu em 2016 um prêmio pelo “projeto turístico de sucesso” de sua biblioteca, que inclui hologramas que as pessoas podem ver de casa.
Localizado em um pequeno “palazzo vecchio” em um belo parque, a biblioteca marcou muitas das pedras, árvores e outras plantas na área com QR Codes que permitem que os transeuntes acessem informações adicionais. O grupo alvo é claro: jovens.
*Tradução e adaptação do original “The digitized future: How libraries are pioneering a cultural transformation”, publicado pelo DW, por Chico de Paula
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