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Antonio Carlos dos Santos Oliveira, meteorologista e museólogo

Por Renato Grandelle, do O Globo.

“Tenho 44 anos e trabalhei na Infraero entre 1994 e 2014. Depois, fui cedido para o Museu Nacional de Belas Artes. Meu plano é desenvolver um equipamento que use boletins meteorológicos para proteger a estrutura de museus e de suas obras. No futuro, o trabalho pode ser levado a 2 mil museus”

Conte algo que não sei.

Os museus precisam de meteorologistas para monitorar os climas interno e externo. Por enquanto, sou o único profissional dedicado a isso no Rio. Uma pequena elevação da umidade faz a tinta cair de quadros, estraga papéis antigos do acervo e aumenta a proliferação de fungos.

Da Infraero para o museu, qual foi o percurso?

Fiz concurso em 1992 e entrei como técnico. Lá foi desenvolvido um software que aplicava informações meteorológicas em 67 aeroportos. Mas já fazia consultorias para o MNBA, surgiu a chance de vir de vez. Tem mais a ver comigo do que ver aviões.

Como surgiu a ideia do software museológico?

Há 20 anos, na escola técnica, lidava com um equipamento que media temperatura e umidade. Resolvi me especializar e fiz mestrado em arquitetura — para entender como funciona um prédio e seu entorno — , e climatologia, que explica sua interação com calor, chuvas etc.

Explique o funcionamento.

A base são boletins meteorológicos. Há sensores pelo museu que mostram como ele pode ser afetado pelo clima da rua. Por exemplo, uma janela aberta traz radiação solar, que descola a camada de tinta. Em casos assim, acionamos a brigada de segurança. A meta é levar a uma rede de mais de 2 mil museus.

Qual é a temperatura ideal para um museu?

Teoricamente, 20 graus Celsius, mas só vou ter certeza no fim do ano. Buscamos um grau de eficiência energética que não comprometa as obras, não custe muito e não cause desconforto. Por exemplo, pra manter um ar condicionado durante o dia em uma galeria, gasta-se até R$ 60 mil por mês. Dá para fazer por menos? O lugar tem que ser agradável, as pessoas devem circulam com tranquilidade. Não adianta baixar demais a temperatura. Museu não é lanchonete, onde você compra hambúrguer e sai correndo para não esfriar.

Já atuou em que exposições?

Enquanto desenvolvia o software, fui chamado para fazer o monitoramento de uma exposição do Comitê Olímpico Brasileiro. A partir daí, ajudei nas exposições, aqui, de Monet, Salvador Dalí e de obras do Museu do Prado e do Vaticano.

O MNBA fica na Avenida Rio Branco, numa ilha de calor, com pouca arborização e muitos prédios. Isso prejudica as obras de arte?

Sim. E os quadros podem ser comprometidos pelas obras da rua. Agora temos a obra do VLT do outro lado da calçada. Não sei como o museu vai reagir à diminuição de carros trepidando, a uma mudança no fluxo de pessoas. O museu é um ser vivo. Ele respira, absorve a umidade durante as chuvas. E esta respiração deve ser mantida da forma mais constante possível, ou ele sofrerá de asfixia. É um dos sobreviventes entre os prédios construídos há mais de 100 anos na Rio Branco.

Os preparativos para as Olimpíadas colocam em evidência o Museu de Arte do Rio e a construção do Museu do Amanhã. E as outras instalações da cidade?

Há vários prédios no Rio nos quais falta a devida atenção. O museu ainda não é visto como um local em que, além de servir à cultura, também tem um papel didático, contribui para a educação da população. O holofote para estes museus está apagado. Sou meteorologista, climatologista e arquiteto. Não precisa ser também educador para saber disso.

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