Chico de Paula: Hoje, dia 10 de dezembro de 2011, nós restamos aqui na Biblioteca Parque de Manguinhos. Eu estou com a bibliotecária Andréia Gonçalves. Andréia, hoje você contou aqui no Bibliocampi uma experiência fantástica sua que foi trabalhar na ONU, você poderia contar um pouco para os leitores da biblioo como é que foi essa experiência?
Andréia Gonçalves: Bom, trabalhar fora do Brasil já é uma experiência maravilho, que eu acho que abre muito campo de atuação e de conhecimento para qualquer profissional e trabalhar na ONU foi particularmente interessante pelo fato de você estar exposto a uma cultura tão diversa, trabalhando com pessoas de outros países, trabalhando em outro idioma e trabalhando num ambiente organizacional muito próprio, muito ético, muito calcado em valores nobres da nossa sociedade, tentando trabalhar para que o mundo seja mais útil, mais honesto, tenha espaço para todo mundo, tenha um desenvolvimento justo, saúde, etc… Então trabalhar como bibliotecário na ONU é te colocar tanto em contato com essas questões que são comuns ao mundo inteiro, como também ter oportunidade de ver como que a nossa atuação profissional tecnicamente difere ou casa com o que a gente aprende da prática funcional no Brasil.
C.P.: E em que medida a formação do bibliotecário é importante para galgar esse tipo de carreira?
A.G.: Bom, para trabalhar numa organização internacional como o ONU, primeiramente o profissional tem que ter uma formação acadêmica muito boa, muito sólida. Não digo mestrado e doutorado, mas ter feito uma boa faculdade, ter sido um bom aluno e principalmente ter aproveitado bem o conhecimento que adquiriu academicamente e ter uma boa experiência profissional também, talvez isso seja até mais importante, você ter feito coisas substantivas, cuja a experiência possa ser considerada para se trabalhar numa organização internacional.
C.P.: Você é o tipo da bibliotecário que caiu de paraquedas na Biblioteconomia ou você sonhou com essa carreira uma dia?
A.G.: Eu acho que a maioria de nós caiu de paraquedas, né? Eu só fui descobrir que eu queria fazer Biblioteconomia quando eu descobri que existia Biblioteconomia, mas no momento que eu li a descrição do curso no guia do estudante eu falei “é isso que eu quero ser!”.
C.P.: A sua experiência na ONU e as outras experiências profissionais que você teve na vida fizeram você enxergar o mundo de uma forma diferente? Especialmente em relação aos conflitos, você falou sobre a intervenção do ONU nos conflitos mundiais, isso ajudou você a entender melhor, a enxergar de outra forma?
A.G.: Sem dúvida, faz muita diferença porque eu acho que a gente comparando a experiência de viver aqui no Brasil, principalmente aqui no Rio de Janeiro, onde a violência é tão constante no nosso dia-a-dia, eu acho que a gente acaba ficando muito insensível a isso, ou tratando as coisas de forma muito natural quando na verdade essa não é a natureza do ser humano, ou não deveria ser. Quando você trabalha essas questões políticas e sociais num nível global, talvez a impressão que dê é que a gente vai ficar mais insensível ainda porque você acaba vendo que isso acontece no mundo inteiro, mas o trabalho das organizações como o ONU e principalmente das pessoas que trabalham na ONU, faz você perceber que existem saídas, existem soluções e que a solução muitas vezes não ta nas organizações, mas ta muitas vezes nas pessoas que trabalham nessas organizações, assim como as pessoas que vivem ao nosso redor são as que podem fazer diferença para esse tipo de situação.
C.P.: Um mundo melhor é possível?
A.G.: [risada] Sempre é né? Depende de cada um de nós.
C.P.: Que mensagem você daria para os profissionais, não só bibliotecárias, que pretendem trabalhar na ONU ou que pretendem ter uma carreira consolidada?
A.G.: Olha, não sei se isso serve como conselho, mas eu acho que uma experiência que eu tive que pode ser passada a diante é que para ser um bom profissional, você precisa gostar do que faz, você precisa ser apaixonado pelo que faz. È como alguém falou aqui no Bibliocampi “Isso aqui é um encontro de apaixonados, de gente que trabalha com o que gosta”. Esse é o primeiro passo para ser um bom profissional. Quando você trabalha com o que gosta você trabalha pela excelência, você vai além do que é exigido normalmente pelas pessoas e é isso que faz o diferencial. Então em qualquer área, não só para os bibliotecários, ir além do que te pedem, ir além do que é esperado, é o que faz aquele profissional ser especial.
C.P.: E por falar em Bilbiocampi, o que você achou hoje dessa experiência do Bibliocampi?
A.G.: O Bibliocampi é fantástico, eu adorei. Desde o primeiro momento que o Moreno convidou e falou da idéia, eu achei muito interessante porque realmente falta para a gente um espaço para conversar, para trocar idéias, para trocar experiências e que não seja um congresso formal, que não seja um lugar que você vai apresentar sua palestra depois tem as perguntas, as repostas… Não, aqui é muito mais informal, muito mais rápido, mais dinâmico e pessoas escolhidas a dedo, experiências que valem a pena. Tudo que foi relatado aqui hoje foi interessante.
C.P.: Para finalizar que eu sei que você ta com pressa, como é que você enxerga a situação do bibliotecário no mundo atual? O mundo atual tem dado importância maior a esse profissional ou a luta pelo reconhecimento ainda é muito grande?
A.G.: Essa é uma pergunta difícil, pela maneira como eu penso, talvez… não sei se vai agradar a todo mundo. Eu acho que o bibliotecário tem muita importância sim, tem um papel social muito importante, mas não pode se limitar a isso. Eu acho que o trabalho de reafirmação profissional vem muito da falta de valorização do próprio profissional, eu acho que a gente não tem que se ver só como bibliotecário, não pode ficar dentro dessa etiqueta o tempo todo. O trabalho que a gente tem que fazer é muito maior do que isso. Foi algo que eu tentei falar um pouco também na minha apresentação, de que existem vários outros papeis que a gente pode fazer, mas talvez porque a nossa formação, a própria formação do bibliotecário tem muito a ver com classificar as coisas, colocar as coisas em caixinhas. Talvez o próprio bibliotecário se coloque dentro de uma caixinha e não vê que existe muito mais espaço por fora que ele poderia estar ocupando. Então, eu sempre fui da turma que diz que ao invés de ficar reclamando que tão ocupando o seu espaço, via lá e ocupa. Espaço tem, importância tem, mas acho que vai de cada bibliotecário ocupar o seu espaço.
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