Rodolfo Targino (Che): Professor, como surgiu a ideia de criar um grupo de pesquisa sobre bibliotecas públicas?
Alberto Calil: Surgiu no ultimo Fórum de Bibliotecas Públicas realizado em Maceió, com a professora Elisa Machado, atual coordenadora do Sistema Nacional de Bibliotecas Públicas (SNBP), que à época já o era, e professora também, daqui da Escola de Biblioteconomia da Universidade Federal do Estado do Rio de Janeiro (UNIRIO). Com ela desde então, temos conversado sobre a possibilidade de encontrar algumas estratégias para fomentar a pesquisa no campo da Biblioteconomia pública do país. A formação do grupo também se alia a criação do mestrado profissional em Biblioteconomia, pois apontou para nós esta necessidade dos professores constituírem os seus grupos de pesquisa. Como temos um grupo de professores com interesse e projetos voltados para o campo da Biblioteconomia pública e toda esta articulação com o fórum de bibliotecas públicas, nós pensamos na institucionalização deste grupo de pesquisa, que foi criado e institucionalizado este ano. Está sob minha liderança e da professora Elisa Machado, e com a participação de alguns professores como Danielle Achilles, Deize Sabbag e alunos que porventura estão ligados aos nossos projetos.
R. T.: E nesta estrutura do professor, que além de dar aula, tem que orientar, além de todas as avaliações da Capes, enfim, como é que é nesta estrutura para um professor também administrar um grupo de pesquisa?
A. C.: Eu acho que faz parte do processo, a atividade de um professor na universidade não está apenas vinculada ao ensino, ou a sala de aula, melhor dizendo, ela se desdobra em uma série de outras atividades. Nos já conhecemos o famoso tripé da universidade, ensino, pesquisa e extensão, e eu diria Gestão, pois parte de nos acaba se envolvendo com a gestão em algum momento de nossa carreira. E eu diria que nós temos de aprender a sambar para dar conta de todas estas atividades, em alguns momentos dando mais atenção a algumas destas facetas, outros menos atenção, mas eu penso que dentro do nosso fazer enquanto professores, a pesquisa é parte direta e está estritamente ligada com a prática de ensino, pois acredito que seja através das atividades de pesquisa, que nós retro- alimentamos as nossas práticas, e também formamos outros pesquisadores ou formamos alunos, ou melhor, aproximamos estes alunos, da possibilidade da construção de um trabalho a partir do método científico, que eles poderão aproveitar, quer para um mestrado ou doutorado, ou mesmo pela opção de um mercado de trabalho, pois percebemos, por exemplo, que enquanto bibliotecários, muitas vezes temos que elaborar um projeto para apresentação a direção de uma instituição e muitas vezes nos não sabemos disso, e a prática de pesquisa nos oferece esse cabedal.
R. T.: Quais serão as ações futuras e como será o envolvimento de alunos nas atividades do grupo?
A. C.: Uma das principais ações tem sido mesmo esta parceria com o SNBP, principalmente com relação a organização do Fórum Brasileiro de Bibliotecas Públicas. Este ano o fórum estará em sua terceira edição e acontecerá como evento paralelo ao XXV Congresso Brasileiro de Biblioteconomia, Documentação e Ciência da Informação (CBBD), em Florianópolis. A primeira grande parceria será este diálogo com o sistema e com a organização do fórum. Então o grupo de pesquisa está juntamente com o sistema, responsável pela organização do fórum e em particular da comissão científica e com todas as temáticas que serão tratadas durante o fórum. E a posteriori, como qualquer grupo de pesquisa, temos em mente propor atividades visando grupos de estudos na área na temática dos projetos que cada um dos professores vem desenvolvendo com seus alunos. E temos por meta também a criação de um ambiente virtual, com o qual nós poderemos colocar temas relativos às nossas pesquisas, e de alguma forma levar este conteúdo que estamos tratando na academia e publicizar ele um pouco mais.
R. T.: Principalmente, com o surgimento da Ciência da Informação (CI), a impressão que se tem é que alguns temas como bibliotecas públicas, cultura, com o passar do tempo foram apagados. Agora temos a impressão que estes temas estão sendo retomados na Biblioteconomia e também na CI. Como você avalia isso?
A. C.: Acredito que este retorno é uma tentativa positiva. Percebemos que, justamente como você colocou que estes temas ficaram esquecidos durante muito tempo, ou melhor, alguns egressos dos cursos de Biblioteconomia tinham vontade e desejos de desenvolver alguns temas voltados ao campo de bibliotecas públicas e escolares, ou das ações culturais de bibliotecas, eles ficavam perdidos, ou ainda ficam, e vão buscar outros programas de pós-graduação para desenvolver seus projetos. Não que os programas de pós-graduação em CI não deem conta, mas talvez muitos destes egressos não conseguiam enxergar o espaço dentro destes programas. Atualmente nós temos algumas alternativas, como a própria criação do mestrado em biblioteconomia, apesar de profissional, uma das linhas de pesquisa procura dar conta deste espaço. E percebemos que alguns pesquisadores vêm tentando levantar esta bandeira, e este será justamente o grande tema da mesa do dia 7 de julho no fórum de bibliotecas públicas. Estamos convidando em uma das mesas, e serão dois trabalhos falando justamente sobre, a incidência da temática biblioteconomia pública na produção em biblioteconomia e CI, e outro trabalho falando sobre a incidência do tema cultural nesta mesma produção. Estamos tentando retomar uma história que precisa voltar a ser contada.
Emília Sandrinelli: Você podia falar um pouco sobre os projetos de pesquisa que o grupo tem desenvolvido atualmente?
A.C.: Atualmente estou com um projeto que envolve mediações sociotécnicas, um dos projetos que estamos trabalhando com o uso e apropriação das mídias sociais pelas bibliotecas públicas estaduais. Nesse projeto o nosso recorte é uma biblioteca pública em cada estado, estamos procurando observar de que forma estas bibliotecas vem se apropriando destas mídias sociais. Nós temos a professora Daniele Achilles com o projeto que trata da missão da biblioteca pública, sobretudo a do município do Rio de Janeiro. A professora Deise Sabbag vem trabalhando nesta pesquisa que eu mencionei, em relação a incidência do tema biblioteconomia pública, e bibliotecas públicas do país, a qual eu estou envolvido, e a professora Elisa Machado por conta das atividades dela no SNBP, está mais envolvida na parte de gestão de seus projetos, em virtude do cargo que ela ocupa. Esta semana nós convidamos a professora, Patrícia Vargas, que é também membro do corpo docente do mestrado em Biblioteconomia, o projeto dela é sobre multiculturalismo em bibliotecas públicas. Atualmente são estes os pesquisadores que vem compondo o grupo.
E. S: O que os alunos de graduação que se interessarem pelo tema devem fazer para participar do grupo? Como é a seleção?
A. C.: A Dinâmica é a mesma de todo e qualquer projeto de pesquisa. No nosso caso procuramos lançar um edital para inscrição destes alunos. Aqui na UNIRIO temos duas modalidades de bolsa de pesquisa, uma de iniciação científica e outra de monitoria. O aluno recebe uma bolsa, com carga horária 20 horas semanais de trabalho no projeto. Para o caso destes bolsistas, eles não podem ter nenhum vínculo empregatício, nem mesmo estágio. E para aqueles que têm estágios ou outro vínculo e queira participar dos projetos, eles podem se ligar ao projeto na condição de bolsista de iniciação científica em caráter voluntário, que vai ter as mesmas obrigações, vai participar da mesma forma. Eu posso dizer, por exemplo, do meu projeto, é aberto um edital, selecionando os bolsistas para participação. Outros pesquisadores que porventura se interessem pelo tema, ou estudantes que tenham interesse pelo tema, como eu falei anteriormente, pretendemos a partir do segundo semestre, realizar reuniões, que não sabemos se serão mensais ou quinzenais, mas voltadas para o estudo de alguns temas que possam reunir todos os projetos e possamos começar uma discussão em torno disso.
R. T.: Vocês estão criando um grupo de pesquisa sobre bibliotecas públicas, mas nós estamos numa conjuntura, aqui na cidade do Rio de Janeiro, em que temos a Biblioteca pública estadual fechada desde 2008 para reformas. Também temos a Biblioteca Nacional passando por um momento de crise. Em termos de pesquisa, o que o grupo pode contribuir para dar visibilidade e até mesmo reverter essa situação?
A.C.: Acredito que o primeiro movimento é exatamente este que foi comentado anteriormente. É preciso tornar visível a biblioteca pública neste país. A biblioteca precisa começar, de fato, fazer parte da vida do cidadão. Ocupar um espaço que ela tem potencial para ocupar. A pesquisa no campo da Biblioteconomia pública pode vir a colaborar com isso, quer seja tornando a biblioteca, de alguma forma visível, quer seja fomentando a discussão sobre políticas públicas para bibliotecas no país. Fazendo o nosso papel de pesquisador, de professores numa universidade pública. Esse é um dos caminhos que podemos atuar neste universo.
R. T.: Existem algumas discussões na área de biblioteconomia, um clamor em relação a ter um bibliotecário na presidência da Biblioteca Nacional. Nós entrevistamos o professor Muniz Sodré, fizemos uma pergunta em relação a isso, e ele relatou que no momento não vê um bibliotecário com essa aptidão, de gerir, esse cargo, por ser intelectual e político. Hoje, você vê algum bibliotecário que possa ter estas características?
A. C.: Eu vejo que isso tem relação com a nossa participação política. Acredito que a ocupação destas posições chaves, junto a o governo brasileiro, quer seja na Fundação Biblioteca Nacional, quer seja nos órgãos de fomento como Capes, CNPQ, IBICT, o lugar esta lá, e cabe a nós buscarmos estes lugares, então acredito que isso tem relação com a nossa participação política, que diz respeito a nossa profissão. Eu não saberia dizer se existe uma personagem, mas acho que é possível, e é factível, seria desejável que nós nos movimentássemos para ocupação destes cargos. Se nós fizéssemos este movimento, nós bibliotecários, naturalmente passaríamos a ocupar estas posições na sociedade.
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