Por Marisa Lajolo na Carta Capital

Todos os anos, uma pesquisa revela ao País dados quantitativos do universo dos livros. Intitulada Produção e Vendas do Setor Editorial Brasileiro, de responsabilidade da Câmara Brasileira do Livro (CBL) e do Sindicato Nacional dos Editores de Livros (SNEL) é desenvolvida pela Fundação Instituto de Pesquisas Econômicas (Fipe) da USP. Entidades todas da maior representatividade, não é mesmo? A versão mais recente da pesquisa está disponível em www.cbl.org.br.

Por meio dos dados fornecidos pelos produtores de livros (os editores) os pesquisadores levantam inúmeras informações relativas a 2013 muito interessantes. Informações que ensinam muito.

Exemplos, incrédulo leitor?

Cá vão eles: quantos títulos foram produzidos no Brasil no ano passado? A pesquisa informa que foram produzidos 62.235 títulos. Uma leitora mais curiosa quer informações que vão mais fundo: desses mais de 70 mil títulos, quantos são títulos novos e quantos são reimpressões? A pesquisa responde na bucha: 21.085 são novos e 41.150 são reimpressões.

Satisfeitos, senhoras e senhores interrogativos?

Os números sobem muito quando se indaga quantos exemplares foram produzidos neste mesmo ano. Você sabe quantos? Muitos: 467.835.900!

Como se vê, estamos agora na casa dos milhões, na realidade, quase meio bilhão! E desse mundaréu de livros, quase a metade é de livros didáticos: 217.269.303. Como o MEC registra 50.042.446 alunos matriculados em 2013 na Educação Básica, a pesquisa sugere que temos uma proporção equilibrada entre livros e leitores. Correto?

Continuando: se aos mais de 200 milhões de livros didáticos somarmos os 59.585.188 de exemplares de livros de literatura infantil e juvenil produzidos no mesmo ano de 2013, a proporção fica ainda mais animadora: quase 280 milhões de livros são produzidos para uma população escolar de pouco mais de 50 milhões de estudantes.

Esses números conduzem a outros. Afinal, números são números, vivem sempre enfileirados, um depois do outro, não é? Os próximos números vêm de outra conta.

A Bienal Internacional do Livro, realizada em agosto de 2014, em São Paulo, recebeu por volta de 720 mil visitantes. E, das centenas de eventos que ocorreram durante os dez dias que ela durou, um chamou a atenção: a sessão de autógrafos da escritora norte-americana Cassandra Clare bombou e ganhou manchetes.

Seus leitores fizeram filas quilométricas para conseguir um autógrafo. E, ao final das duas sessões de autógrafos – a primeira das quais com direito a um certo empurra-empurra –, Cassandra Clare tinha assinado por volta de 1,8 mil livros.

Gente, 1,8 mil livros! É muito livro.

E como é que dizem que os jovens não leem? Será mesmo que não leem?

A questão tem tudo a ver conosco, que formamos leitores.

Em todas as sessões de debates a que assisti, durante a Bienal, as questões da plateia – majoritariamente representada por jovens estudantes – mostravam leitores atentos. Mais que atentos, leitores interessados nos bastidores dos livros, nas expectativas do escritor, no relato das próprias experiências de leitura.

Fui andando pelos corredores, meio tropeçando na multidão, entrando num e noutro estande, folheando aqui e ali um livro, revirando um volume de capa chamativa para ler a quarta capa, observando cartazes, vendo o que tinham nas mãos as pessoas que formavam imensas filas nos caixas dos estandes.

O que tinham os jovens em mãos?

No geral, tratava-se de livros do gênero chamado fantasia. Isto é, livros nos quais anjos, demônios, vampiros & similares, – uma incontável população de seres impossivelmente sobrenaturais – entram em contato com seres humanos.

Seres humanos como grande número daqueles que percorriam a Bienal, em duplas, em grupos, em excursões, solo. Jovens muito jovens, às vezes cobertos de tatuagens, cheios de piercings, alguns de cabelo colorido. Talvez como nossos alunos. Como eles são, ou como eles gostariam de ser. Ou como serão em pouco tempo. Quem vai saber, não é?

O que se sabe – e o que se precisa mesmo saber – é que a moçada está lendo. E gostando de ler. Gostando de ler livros grossos, com enredos que se desenrolam em muitos planos simultâneos. Histórias com mais personagens do que muita gente acharia que nossos alunos são capazes de seguir sem se perderem.

E sabe o quê?

Esses jovens mostram que fizemos nossa lição de casa. Formamos esses moços e moças que congestionavam os corredores da Bienal atrás de seus escritores preferidos, brasileiros e estrangeiros.

Retomando, para encerrar, a abertura dessas maltraçadas: os generosos números da produção brasileira de livros impressos só se tornaram possíveis porque, em cada sala de aula, professores como você levam os alunos aos livros e à leitura.

Beleza!

E neste mês de outubro em que se celebra o Dia do Professor, sintamo-nos todos celebrados nos olhos brilhantes com que nossos alunos devoram os livros que os ensinamos a amar!

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