Os resultados das últimas pesquisas divulgadas pelo IBOPE e DATAFOLHA geraram, nos setores mais progressistas da sociedade, grandes preocupações e dúvidas quanto à lisura desses dois institutos em virtude de os mesmos já terem sido acusados de manipulação de dados em outras eleições. Não custa recordar o inesquecível Leonel Brizola que, nas eleições de 1982, desmentiu todas as previsões da Rede Globo e do IBOPE, vencendo seu oponente com larga diferença de votos enquanto a Globo declarava diariamente que este seria derrotado.
A história se repete: as estratégias do candidato da extrema direita Jair Bolsonaro, sustentadas pelos institutos de pesquisas e por parte da mídia que lhe apoia, têm como propósito confundir o eleitor com matérias mentirosas (as famosas fake news) para fragilizar a candidatura de Haddad, seu maior adversário no atual cenário político eleitoral. E lembre-se de que o que está em jogo neste momento é a socialização da informação como instrumento para garantir o mínimo de ética na política e, ainda, que a informação cumpra seu papel de informar e veicular a verdade.
É muito recorrente se ouvir dizer que vivemos a Era da Informação, tão bem profetizada pelo sociólogo Manuel Castells no final do Século XX. No entanto, nós, estudiosos do fenômeno, sabemos que este favoreceu o status quo e, também, como as informações são manipuladas para favorecer a permanência do pacto antirrepublicano e dos modelos hegemônicos de exclusão.
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Em um belíssimo prefácio escrito pelo professor Fernando Ilharco, no livro A Informação, do também professor Fernando Malheiros (2006), aquele traz uma contribuição importante para refletir o momento vivido no Brasil. O citado autor enfatiza que a revolução da informação pode ser compreendida a partir de três ordens: a realidade precede a informação; a informação separa-se da realidade; e a informação precede a realidade.
Podemos, sim, observar como essas ordens são claramente delineadas no atual cenário eleitoral brasileiro. Vejamos a primeira: a fala, as declarações ao vivo e a cores do candidato da extrema direita denotam o seu real caráter e o vazio de propostas para o país. Suas declarações racistas e propostas de privatização dos bens públicos, até mesmo o petróleo (maior patrimônio nacional), parecem não comover essa parcela de brasileiros.
Sua proposta de aumentar os impostos para os que ganham menos também não consegue fazer efeito naqueles que são assalariados. Suas declarações não fazem nenhum efeito na grande imprensa, que deliberadamente o elegeu como único canal para derrotar o Partido dos Trabalhadores, o qual, na visão dos adeptos do candidato do PSL, é um grupo político que deve ser destroçado.
Em resumo, a realidade das suas declarações não tem contribuído para alterar a visão do eleitorado, que ficou cego para as conquistas dos brasileiros durante os governos petistas.
Quando a informação separa-se da realidade, segunda ordem indicada por Fernando Ilhardo, o que se vê é um completo descolamento dos dados da realidade brasileira, que mostram uma imensa desigualdade, tendo em vista que, segundo o Relatório da Oxfam – ONG Inglesa –, publicado pela Revista Carta Capital em setembro de 2017, no Brasil, 5% dos mais ricos detêm 95% da riqueza brasileira.
Os dados apresentados por essa instituição são fartamente comprovados em nossas pesquisas e nas de vários cientistas políticos em diversas universidades e, no entanto, não repercutem e não são tratados como referência para alterar os indicadores sociais. O candidato da extrema direita, quando diz que irá privatizar todas as empresas públicas, inclusive as universidades, bem como nivelar o imposto de renda de pobres e ricos, está contribuindo para ampliar ainda mais a pobreza e a miséria do País.
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O último ponto apresentado pelo professor Fernando Ilharco é o de que a informação precede a realidade. Em outras palavras, poderíamos antecipar o mal que uma possível vitória desse candidato traria para o Brasil. Ressaltemos que é papel da ciência antever o futuro por meio de previsões fundamentadas em estudos, falas, depoimentos e imagens da realidade e que esta precisa ser verdadeiramente interpretada à luz da ciência.
Desse modo, podemos afirmar que as declarações do candidato Bolsonaro, largamente veiculadas na imprensa e nas redes sociais, vão além de sua homofobia e do seu machismo, que tanto nos agride enquanto mulheres. Suas declarações destroem qualquer possibilidade de justiça social, pois fortalecem uma elite que há séculos se prevalece das benesses do Estado, criando formas e estratégias para manter-se a partir de privilégios.
É essa mesma elite que nega o direito de o trabalhador se aposentar, de a empregada doméstica ter carteira assinada, de o pobre entrar na universidade pública, de o negro ascender socialmente e de os indígenas terem seu próprio território. Nega ainda ao pobre o direito à leitura e à informação por meio de uma rede de bibliotecas públicas, com livros que possam contribuir para a construção da consciência crítica no País.
A candidatura de Bolsonaro representa, assim, o atraso econômico-social, conforme evidenciou o empresário Ricardo Semler (ex-professor visitante de Harvard), pois retira dos brasileiros a esperança do direito ao trabalho digno, nega às mulheres a possibilidade de se libertarem dos maridos agressores, nega ao deficiente a dignidade de viver em um país que aos poucos vinha lhes incluindo socialmente.
Neste momento, em que os conservadorismos se exacerbam, a incitação ao ódio e a real ameaça à perda de direitos sociais conquistados historicamente, cabe a todos nós lutar para que a informação combata as fake news e para que a contrainformação não prevaleça nessa luta desigual e injusta. Temos poucas horas! Vamos desconstruir a onda vampiresca que quer nos abater e dizimar o legado de lutas da classe trabalhadora! #EleNão!
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