Chegamos em março e nas comemorações do dia do bibliotecário. Estão chovendo homenagens, programações e postagens sobre a importância da profissão. Uma dessas homenagens foi feita recentemente pelo Ministério da Cultura (MinC) em seu Facebook e altamente criticada pelos meus colegas.
Quando vi a tal postagem pensei “bacana, estão falando sobre nós”. Mas a maioria não pensou como eu. Vi muitas críticas sobre a propaganda do MinC e diversos colegas dizendo que “não é disso que precisamos”, “queremos visibilidade o ano todo”, “queremos mais investimentos”, “queremos um bibliotecário em cada biblioteca”, “essa propaganda rotula a profissão” e por aí vai.
Fiquei confusa quanto as reclamações e comecei a pensar sobre isso tudo e decidi fazer uma lista. A lista das expectativas.
Antes de qualquer coisa: eu também quero tudo isso. Mas acho que temos um longo caminho a ser percorrido e nós estamos sem o mapa.
Enfim, vamos a lista. O que queremos?
– Mais bibliotecas (públicas e escolares)
– Mais investimentos
– Melhorias nas unidades já existentes
– Visibilidade o ano todo
– Um bibliotecário em cada biblioteca
Basicamente o essencial é esse. Claro que precisamos de muito mais, mas se colocarmos algumas “categorias principais”, são mais ou menos essas. E aí eu tenho algumas perguntas que vou discutir em partes.
Isso mudará tudo? Assim nós teremos mais leitores? Todos irão frequentar assiduamente esses espaços? Os bibliotecários serão respeitados e todos na sociedade irão reconhecer nosso valor? Eu acho que não.
Ter recurso não significa ter leitor. Ser conhecido não significa ser respeitado
De que adianta ter tudo, se as pessoas continuam não sabendo para que serve um bibliotecário? Esse tem que ser nosso principal ponto. Da identificação vem o espaço.
E quem pode explicar para todos quem somos? O governo? O MinC? A Biblioteca Nacional?
De quem é a responsabilidade pela valorização da profissão? Dos outros? Só?
O que nós estamos fazendo por nós mesmos? E por que a maioria transfere as responsabilidades de absolutamente tudo para as mãos de outras pessoas?
Claro que os grandes poderes têm suas responsabilidades, mas é tudo só deles?
Eu acho que o pessoal anda meio mimado.
Nós vivemos uma crise de identidade. Não sabemos exatamente quem somos, para que servimos, onde nos encaixamos. O mundo está mudando rapidamente e as necessidades também, e com isso nossa profissão sofreu muitas mudanças que nem nós entendemos ainda. É uma crise bibliotecária.
Negar é bobagem, é fato que estamos passando por tempos difíceis e não estamos nos encaixando tão bem quanto antes. Mas o que estamos fazendo? Reclamando bastante.
E fora isso tenho visto muito pouco. Poucos querem abraçar a causa, as responsabilidades e tentar um trabalho diferenciado, tentar a divulgação, tentar explicar que nós também sabemos nos adaptar às novas necessidades.
Com certeza precisamos cobrar e muito dos governos, mas não fazer só isso. Precisamos ter independência. Precisamos ter força de vontade e iniciativa. Precisamos mostrar para a população tudo que nós somos capazes e o quanto eles perdem sem nosso trabalho. As pessoas precisam saber que nós podemos melhorar diretamente a vida de cada um, com cultura, com prestação de serviços, com conhecimento e com lazer.
Mas quem está realmente fazendo isso ao invés de reclamar e só cobrar?
Acho fácil sentar aqui no meu Facebook e odiar o mundo que não me valoriza. Reclamar para meus colegas de trabalho que está tudo muito ruim. Falar para minha família que está impossível assim. E não fazer nada além disso.
Acho fácil pedir para o CRB/CFB e quem mais puder para mandar tirar uma piadinha que fizeram da profissão do ar, porque não pode. Pedir fiscalização da postagem da revista porque não citou o bibliotecário na biblioteca. É isso então? Ficar reclamando de tudo e todos, ficar fiscalizando qualquer bobagem sem importância que sai na mídia achando que isso vai desvalorizar uma profissão que já é desvalorizada pelo desinteresse dos próprios profissionais?
A ignorância e o mau gosto sempre existirão, mas a gente precisa mesmo se preocupar com isso? Será que não temos coisas mais importantes que demandam nossa atenção? Muitos dizem que tudo isso nos diminui, tira nossa seriedade, nossa credibilidade. Bom, não tira a minha. Eu sei bem que tipo de profissional que eu sou e não me ofendo com piadinhas. Me ofendo com pessoas que querem que eu quebre um galho, que eu trabalhe de graça e com oportunismo.
A valorização e divulgação só são citadas em postagens polêmicas e para criticar e cobrar que não está como deveria ser. E no resto do tempo, onde estão essas discussões, essas ações?
E daí que a propaganda do MinC não foi o que você queria? É propaganda! Nós precisamos aproveitar esse marketing a nosso favor! Propaganda gera interesse, gera mercado, gera oportunidade de discussão. Vamos então compartilhar isso, dizer “olha só, essa é minha profissão, no meu dia a dia eu faço x, y e z”. Pensem quantos colegas temos fazendo os serviços mais variados, se todos compartilhassem uma publicação contando o que faz no seu dia a dia, que variedade de relatos e diversidade que teríamos! Que informação e divulgação mais preciosa!
Há um ano eu falo quinzenalmente sobre biblioteconomia para o grande público em um canal do YouTube. É um trabalho de formiguinha e que faço sozinha. É uma luta pela nossa profissão. É divulgação para a valorização. E eu vou continuar fazendo.
Eu optei por criar conteúdo, por dividir conhecimento de um jeito simples, rápido, fácil e de graça para qualquer um.
E você está fazendo o que? Que tipo de profissional é você? Para que você serve?
Para “disseminar a informação”? E se ninguém te procurar? E se ninguém precisar da sua ajuda? A informação não é algo que está numa prateleira que só o bibliotecário alcança, para ele pegar e distribuir. Nós já passamos dessa fase.
Acho que está na hora de pararmos de repetir frases feitas.
Então pergunto novamente, o que você está fazendo? E que tipo de profissional é você?
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