Biblioo

A escolha de Sofia

Estamos no segundo número da revista Biblioo, que foi lançada exclusivamente no formato digital (suporte eletrônico), justamente num momento em que o mercado editorial de periódicos tende a priorizar mais investimentos financeiros e logísticos no acesso on line. Com isso, são recorrentes debates sobre o melhor suporte (eletrônico e em papel) para uso e o possível encerramento das publicações impressas.

As novas tecnologias de informação e comunicação estão inseridas intrínseca e extrinsecamente na sociedade atual e sua serventia é aprimorada a todo instante, alicerçando-se cada vez mais os hábitos e costumes em dispositivos high-tech pessoais, como os e-books readers (aparelhos eletrônicos portáteis de leitura). Os atributos interativos agregados a estes dispositivos e as características hipertextuais próprias do formato digital contribuem para uma adoção entusiasmada por parte dos usuários-leitores, que, quando contrapõem essas propriedades à leitura estática, relegam o formato analógico (suporte em papel) a segundo plano.

Vantagens e desvantagens

Preferências à parte, o fato é que o suporte eletrônico possui singularidades tanto quanto o suporte em papel e, como quase tudo na vida, contém pontos positivos e negativos. O eletrônico tem dentre suas principais vantagens a mobilidade – possibilidade de ter uma coleção completa de textos em um único aparelho e acessar, em qualquer lugar, outros textos instantaneamente pela Internet – e o baixo custo – por reduzir custos operacionais comuns à edição física, como impressão, distribuidor e livrarias/terceiros, o preço final do texto digital diminui – , e as desvantagens ficam por conta da baixa longevidade das mídias eletrônicas – embora haja constantes avanços tecnológicos, são ainda muito instáveis e efêmeras, pois também a indústria investe mais na capacidade de armazenamento do que na estabilidade da mídia – e da dependência de energia elétrica – necessidade de sempre estar atento ao nível de consumo da bateria para uma possível recarga. Já o papel possui como principais vantagens a durabilidade – pode durar mais de 100 anos, dependendo do acondicionamento físico e da qualidade da matéria-prima – e a dispensabilidade energética –  praticidade de ler sem a necessidade de recarga elétrica – , tendo o impacto ambiental – as conseqüências negativas causadas pelo desmatamento florestal da produção de papel – como principal desvantagem.

Implicações ambientais

Na atual conjuntura contemporânea, afloram programas de cunho ecologicamente correto, que são suplantadas pelas novas tecnologias, e a necessidade de instituições e sociedade se enquadrarem nisso, atribuindo, pelo aspecto comportamental, a consciência ambiental a uma convenção social. Assim, o papel vem sendo muitas vezes satanizado por ter uma imagem ligada ao desmatamento desenfreado das florestas. É inegável que a produção industrial de papel causa conseqüências negativas ao meio-ambiente, mas isso não quer dizer, necessariamente, que em contrapartida o suporte eletrônico não tenha também nenhum malefício ambiental, pois este gera um lixo tecnológico que precisa ser cuidadosamente tratado e reciclado.

A questão é que iniciativas ecológicas poderiam ter uma utilidade pública maior, mas o problema é que isso às vezes acaba sendo usado de forma oportunista, tornando-se uma faceta do capitalismo, denominado em inglês de greenwashing propaganda publicitária enganosa que visa a associar uma imagem ecológica sustentável ao produto da empresa para ludibriar e, com isso, fidelizar o consumidor. Logo, é importante frisar que não adianta simplesmente elencar os malefícios desse ou daquele material, mas sim procurar alternativas que possibilitem o uso sensato e consciente perante o meio-ambiente, destacando-se iniciativas proveitosas, como as certificações florestais emitidas pela FSC – Forest Stewardship Council / Conselho de Manejo Florestal –, que atestam, por exemplo, que um papel certificado é proveniente de um processo produtivo responsável sob os aspectos ecológicos, econômicos e sociais, bem como a produção de baterias ecotecnologicas que visam ser mais eficientes tecnicamente e menos agressivas ecologicamente.

Leitura prazeroza para além do suporte

O suporte eletrônico veio para facilitar e não para dificultar e é natural que não seja unânime, em que algumas pessoas se deliciam explorando os seus recursos interativos e outras não se sentem confortadas e nem adaptadas lendo diretamente da tela, e é por isso que o suporte em papel não se encerrará tão cedo por contemplar as necessidades institucionais e individuais da sociedade. Sendo assim, independentemente de ser um entusiasta ou refratário em relação à tecnologia, o importante é que o usuário-leitor desfrute de uma leitura prazerosa à sua maneira, seja com um livro de cabeceira ou um tablet arrojado.

Comentários

Comentários