T. H. Huxley foi um biólogo e um dos principais cientistas ingleses do século XIX; é ele o autor do Teorema do Macaco Infinito. Segundo essa teoria, se fornecermos a um número infinito de macacos um numero infinito de máquinas de escrever, alguns, em algum lugar, acabariam criando uma obra prima: uma peça de Shakespeare, uma sinfonia de Mozart ou algo parecido. Mas na web 2.0, com computadores, pessoas e tempo finitos, estamos como cegos guiando cegos, caminhando para a elaboração de um documento único com todas as referências, links e depositário do “saber” humano. Agindo como os infinitos macacos da teoria Huxley, criamos, replicamos e compartilhamos (des) informações e ruídos para outros leitores, perpetuando um ciclo de desinformação e ignorância.

Bem vindo ao pior pesadelo de George Orwell: a democratização do Grande Irmão. Aqui o “Grande Irmão Zela por ti” ou “que está te observando” só precisa de uma conexão com a internet. A “ditadura das massas” que existe no século XXI não está produzindo obra prima nenhuma…

Nela, qualquer pessoa, até uma menina solitária e inocente de 10 anos, moradora de uma periferia qualquer, de algum canto do mundo pode registrar seus pensamentos, ganhar seguidores e conseguir melhorias para si ou para onde mora. A parte mais assustadora é que ela pode não ser solitária, inocente e nem ter 10 anos…

Nela não basta só existir, produzir, escrever, filmar, catalogar e exibir. Precisamos que o outro nos diga quem somos, e é ai que a ditadura das massas e dos medíocres domina. Isso porque o bom é fazer e ser igual, mesmo que seja ruim. Ousar é um tabu. Sob a lei do darwinismo digital, só sobrevivi e se perpetuam os que fazem barulho, os mais convincentes e os que têm mais dinheiro para divulgar sua mensagem.

É a biblioteca de Babel de Borges, com todos os horrores da sua biblioteca infinita, sem centro e sem lógica aparente. As massas tornaram-se autoridade até para afirmar o que é ou não verdadeiro; sites de busca não respondem o que é mais confiável; respondem simplesmente o que é mais acessado e digerido sobre aquele assunto, ou seja, o que é mais popular. Sites de falsas notícias se tornam virais e aparecem entre os oficiais. E quando nossos anseios individuais ficam na dependência da “sabedoria das massas”, nosso acesso à informação se torna menor, restringido nossa visão e a percepção ganha tons distorcidos. E mesmo que a “sabedoria das massas” exista, a história já provou que elas não são sábias. Escravidão, infanticídio, guerras, dominação sobre as mulheres, brigas entre torcidas, BBB e Michel Teló foram e ainda são populares entre as massas. E eu, assim como você, faço parte dela…

Lembro quando em 2004, nos corredores da UNIRIO, acessando um daqueles computadores fantásticos, perguntei a uma amiga se ela estava no Orkut. “Não!”, foi sua resposta. Ela tinha medo da quantidade de informação que eles guardavam. Acredito que hoje o medo passou. Além do perfil no Orkut abandonado, revi fotos de sua última viagem no facebook antes de terminar esse texto. Aviso ou não para ela que eles arquivam seus dados mesmo que ela apague a conta? Semana passada uma aluna pediu que adicionasse o irmão que acabou de nascer, isso mesmo! Mal nasceu e já tem perfil no face.

Tudo que escrevemos, comentamos e compartilhamos nas redes sociais online estar pouco a pouco apagando as linhas entre público e privado.

Na web 2.0 visível (web visível?) sim! Para a maioria dos usuários, a internet é somente o que os sites de busca encontram. Na pratica qualquer site, onde o dono deliberadamente optou para não ser indexado, faz parte da deep web, ou seja, para acessar um site da Deep Web, você precisa saber seu endereço, pois nunca irá chegar até ele através do resultado de uma busca.  Estudos indicam que a Deep Web tem de 400 a 550 vezes mais sites que a internet comum. Tal como o Iceberg, a parte visível da internet é muito pequena se comparada com a parte que não se pode ver, tornando, assim, impossível consumir, ler e ver tudo que já foi postado.  Praticamos uma forma perigosa de narcisismo digital. Conscientes ou não, procuramos e filtramos somente informação que espelha nossas opiniões e preconceitos, correspondentes que passam pelo nosso suposto senso crítico e que se assemelha as nossas versões distorcidas da realidade.

Numa conferência de 2006, Larry Page, co-fundador do Google, falou sobre o imaginário “mecanismo de busca supremo”: “O mecanismo de busca supremo compreenderia tudo no mundo. Compreenderia tudo que você lhe perguntasse e lhe devolveria a coisa exata imediatamente”. Com a última mudança na sua política de privacidade e termos de serviço para combinar dados de vários produtos, o Google caminha exatamente para isso: uma versão moderna do antigo Oráculo de Delfos, versão digital do deus judaico cristão onipresente, onipotente e online.

E os problemas que vivemos resultantes do arquivamento de nossos dados são ainda criancinhas. O que serão de nossas futuras pessoas, coexistindo com poderosos bancos de dados sobre cada compra, palavra escrita, preferência, gostos, relacionamentos, taras e desejos secretos arquivados? O que fazer numa era de vigilância digital total? Como tentar evitar isso?

Todo mundo sabe, contudo, mesmo quando pensamos em apagar nossas contas e pegadas online, não apagamos.

Assim, gastamos nosso ativo mais precioso, nosso tempo coletando fragmentos de informação online, num mundo onde o conhecimento deixou de ser poder, destronado pela informação. Calculamos quantas vidas precisaríamos para ver todas as 48 horas de vídeos que são colocados por minuto no youtube em um período de um ano. Felizmente, você e eu só temos uma vida e assim não precisamos ver tudo!

 Paraaaaaaaaaa nossaa alegriaaaaaaaaaaaa!

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