Você entra em uma biblioteca e, claro, vê livros, materiais de referência, jornais, revistas e todos os tipos de impressão. Pode também ver quadrinhos, mangás e outras literaturas menos tradicionais. Hoje em dia, encontramos filmes, televisão, música, computadores com internet e outras mídias digitais. Mas videogames?

Bibliotecas emprestam videogames, e já há um bom tempo. Podem até achar que videogames não tem nada a ver com instituições públicas. Alguns artigos na internet dizem que os leitores vão se contorcer quando souberem que isso está acontecendo. No entanto, bibliotecas e bibliotecários surpreendentemente apoiam a prática.

A American Library Association (Associação Americana de Bibliotecas) apoia o videogame, colocando-o em uma classe semelhante à dos jogos de tabuleiro. A associação deixa claro sobre quando crianças devem jogar videogames nas bibliotecas: “Videogames nas bibliotecas encorajam jovens usuários a interagirem uns com os outros, trocar experiências, inclusive com adultos, e desenvolver novas estratégias de jogo e de aprendizado”.

Videogames são formas de fazer crianças – e adultos – a aprenderem a interagir socialmente. “Aprender novas regras, aprender novos símbolos, ler os textos nos jogos de RPGs tem tanto valor educacional quanto ler um livro. É diferente, mas ainda é válido. Um com certeza não substitui o outro”, diz Emily Reeve, uma bibliotecária de Denver.

“Jogar em bibliotecas, seja sentado em um computador com um jogo online, seja reunido com os amigos com um jogo de tabuleiro, é uma experiência social, especialmente para crianças”, ela diz para GamesBeat.

Bibliotecas são espaços públicos

Bibliotecas modernas, segundo ela, estão virando mais um espaço público do que meramente espaço para livros. O conceito do que é a biblioteca continua evoluindo, com café dentro de bibliotecas, espaços jovens, programas antecipados de competência informacional e coleções de novas mídias. Videogrames são uma extensão lógica disso, com os pais interagindo com seus filhos na escolha dos jogos e pedindo ajuda para a equipe da biblioteca. “É interesse das bibliotecas encontrar as necessidades da comunidade e criar uma relação com seus membros”, diz Reeve.

“Bibliotecas vivem em um momento em que devem decidir se incluem mídias populares em suas coleções”, escreve Brian Mayer em Libray Gamer. “Dessa forma, o desenvolvimento de coleções inclui mais do que os usuários querem, agregando os desejos da comunidade.” Assim como novas mídias, os esforços iniciais trazem consigo preocupações – ou mesmo medo, levando algumas bibliotecas a conter a ideia dos videogames.

“Jogos merecem seu lugar entre as outras mídias culturais significativas do nosso tempo, junto com televisão e quadrinhos,” diz o Dr. Guy Berthiaume, CEO da Bibliothèque ET Archives nationales Du Québec (BAnQ). Em uma postagem em CultMontreal, ele diz que fornecer videogames pode ajudar jovens a entenderem que as bibliotecas também são abertas para eles.

Reeve concorda e vai além, dizendo que bibliotecas públicas existem para atenderem às necessidades de sua comunidade. “Assim como fornecer acesso à internet permite aos usuários acesso a mais informações, fornecer acesso a outras mídias permite aos usuários acesso a outros materiais para aumentar a sua capacidade literária,” afirma. “É apenas outro formato, outra maneira de engajar pessoas seja como puro entretenimento ou não.”

Orçamentos, direitos autorais, a verdadeira questão

E quanto aos direitos autorais? Emprestar jogos para um usuário de cada vez parece não violar o contrato de licença (end-user license agreements – EULA), afirma Reeve. “Pelo que entendo, bibliotecas podem circular jogos como qualquer outro item com o argumento de que os jogos são comprados legalmente e usados por uma pessoa de cada vez. Bibliotecas e bibliotecários não são responsáveis se os itens são reproduzidos ilegalmente, da mesma forma que qualquer outra mídia poderia ser.”

Exibições públicas de jogos multiplayer (múltiplos jogadores), como Guitar Hero, da Activision, ou Madden, da Electronic Arts, precisam de uma licença especial ou acordos adicionais, de acordo com o artigo na School Library Journal.

“Uma biblioteca que procura sediar um evento desses deveria entrar em contato com a empresa para um acordo à parte,” afirma John Reseberg, diretor sênior da EA Corporate Communications. “No entanto, não é nenhum problema – cuidamos de cada pedido individualmente, mas um acontecimento desse tipo seria normalmente aprovado, desde que não houvesse dinheiro envolvido.”

Finalmente, fornecer jogos de videogames não é diferente de filmes, jogos de tabuleiro ou outros itens de recreação que não sejam livros. Poderia até atrair novos usuários que talvez não visitassem a biblioteca pública ou requerer o cadastro. “As empresas seguiram a tendência da jogabilidade e proporcionaram guias de jogos e algumas até desenvolveram ficções baseadas em universos de jogos específicos,” afirma Reeve. “Se as bibliotecas estão dispostas a ter esses itens, as pessoas vão querer saber o que são. É lógico que o simples ato de trazer pessoas para dentro das bibliotecas faz com que pensem em livros ou filmes e outros itens ou serviços que podem ser interessantes.”

Se sua biblioteca tem jogos de videogame para serem emprestados, isso já deve estar contido no orçamento. Parece que enquanto a maioria dos bibliotecários e acadêmicos não tem problema com bibliotecas emprestando jogos de videogames de forma geral, os orçamentos para bibliotecas públicas continuam diminuindo. Incluir uma coleção de jogos significativa para uma biblioteca já com o orçamento estourado poderia ser um mau negócio. Segundo Reeve, “Com o orçamento instável das bibliotecas públicas nos últimos anos, seria irresponsabilidade começar a desenvolver a coleção sem fundos seguros e contínuos.” As coleções devem incluir jogos novos e eles precisam funcionar nos sistemas que os usuários possuem em casa; as coleções precisam ter jogos que funcionem sem defeito, pois a substituição custa caro.

Esse texto foi traduzido de: Video games and libraries are a good mix

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