Como é de conhecimento, no dia 1º de maio comemora-se o dia do trabalho em vários países. Este dia foi decretado em 1925, no Brasil, pelo presidente Artur Bernardes. No governo de Getúlio Vargas através do decreto-lei nº 5.452, de 1º de maio de 1943 sobre a Consolidação das Leis Trabalhistas (CLT), os trabalhadores brasileiros passaram a ter seus direitos garantidos por lei.

O Brasil levou três séculos sob a condição de colônia de Portugal, mais um século como império do mesmo e um pouco mais de um século como República. É um país considerado novo no qual, embora os trabalhadores tenham adquirido seus direitos, nem sempre estes são respeitados. De vez em quando são noticiados trabalhadores ‘escravos’ em fazendas, crianças e estrangeiros que são utilizados como mão de obra barata. Como na reportagem “Maioria dos trabalhadores resgatados em trabalho escravo é do Maranhão” (06/10/2013 – por Mariana Tokarnia). Abaixo uma charge que está circulando na Internet sobre o trabalho escravo:

Luciana Pereira Rodrigues - Trabalhadores brasileiros do campo e da cidade - imagem1

Charge publicada no Jornal Atenção, n.5, jornal dos movimentos populares de Campinas/SP
Fonte: http://quadrinhosecharges.blogspot.com.br/2013/02/trabalho-escravo.html

Porém, é do início deste século XX que surgem as primeiras formas de organização dos trabalhadores no Brasil em movimentos sociais como greves e manifestações e, também, do engajamento de militantes (com influência de italianos, espanhóis e portugueses que vinham como imigrantes para trabalhar no país).

A história e a memória dos trabalhadores brasileiros

Este século também é marcado pelo crescimento exponencial de documentos e de informação que circulam cada vez mais rápido. Tais documentos que, muitas vezes, encontram-se dispersos, abandonados e que não são de conhecimento da sociedade, pois foram guardados por particulares.

A situação descrita acima foi apresentada no 3º Seminário Internacional o Mundo dos Trabalhadores e seus Arquivos, cujo tema era ‘Direito à Memória e à Verdade’ (16 a 20 de setembro de 2013, no Arquivo Nacional, RJ, em parceria com a CUT, Central Única dos Trabalhadores), onde representantes de diversas instituições estavam presentes em prol da temática e contavam suas experiências de vida, de seus acervos e de suas pesquisas com vistas a preservar a história e a memória dos trabalhadores.

Conforme noticiou o site da CUT, “esta edição reuniu cerca de 140 pessoas de todo o Brasil e convidados internacionais (Argentina, Uruguai, Bolívia, México e Itália), entre dirigentes sindicais, funcionários e pesquisadores de instituições que preservam o acervo dos trabalhadores e dos movimentos sociais, estudantes, professores, arquivistas, bibliotecários e historiadores”.

Os acervos da classe trabalhadora encontram-se dispersos, pois, em sua maioria, são documentos de militantes e acervos de professores universitários. Segundo Michael Hall (historiador marxista estadunidense), tais fontes encontram-se “aparentemente perdidas”, porém com o tempo irão aparecer.

A tendência é que tais acervos cresçam, pois novas profissões estão surgindo e alguns ofícios vão se tornando mais escassos ou deixando de existir, como, por exemplo, do de amolador de facas e datilógrafo. Também pelo crescimento de pesquisadores interessados (embora ainda seja timidamente este aumento) e, consequentemente, de arquivos ou centros de documentação comprometidos com a história e a memória da classe trabalhadora. Como é de conhecimento dos profissionais da informação e dos pesquisadores, certos tipos de fontes documentais estão ficando mais raros ou mudando de suporte (como cartas, telegramas e as fotografias que estão saindo da mídia impressa para a digital).

No artigo Entre memória e história: a problemática dos lugares (1993), Pierre Nora (historiador francês) publicou: “[…] não há memória espontânea, é preciso criar arquivos, […] notoriar atas, porque estas operações não são naturais”, apresenta aos profissionais da informação, a dúvida: o que está sendo guardado realmente é o mais significativo. Cabe a estes receber tais documentos, processá-los a fim de colocar à disposição da sociedade e preservá-los, pois estes possuem caráter comprobatório que servem para a pesquisa histórica. O uso destes é sempre um ato de preservação (para os profissionais que trabalham nos acervos) e de interpretação (para os pesquisadores que atribuem valor).

Função social dos acervos

Durante o seminário foi mencionada a questão do trabalho informal que tem como característica a ausência de documentos e, com isso, de arquivos. Segundo os debatedores, o governo brasileiro possui apenas estatísticas sobre o conjunto destes trabalhadores, que se tornam, cada vez mais, marginalizados.

Como bibliotecária-documentalista, ficaram alguns questionamentos: Que profissionais estão atuando em acervos sindicais e dos movimentos sociais? E quantos profissionais da informação, mais especificamente, os bibliotecários atuam nestes acervos no Brasil?.

Segundo Rodolfo Porrini (professor da Universidade d’la República em Montivedeu), apesar da vida cultural em seu país ser valorizada por todos, a maioria dos órgãos sindicais não possuem profissionais da informação e apenas um órgão possui uma bibliotecária.

No artigo Arquivos pessoais e arquivos institucionais: para um entendimento arquivístico comum na formação da memória em um mundo pós-moderno (1998, publicado na Revista Estudos Históricos/FGV), Terry Cook (arquivista canadense) escreveu: “Quem estamos nós, como arquivistas, memorizando agora? E quem hoje, marginalizamos e excluímos da memória social por nossas ações e omissões?”

Tais indagações não só servem para os arquivistas, mas para todos, desde os titulares dos acervos, os profissionais da informação como também para os pesquisadores e mostram a função social destes acervos para a história nacional dos trabalhadores que têm, além dos seus direitos trabalhistas, o direito à memória e à verdade. E um país torna-se realmente democrático, quando se permite que trabalhadores tenham voz e passado.

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