Começo este texto com um esclarecimento. Não resolvi escrever sobre este tema mediante os escândalos que assolaram a FIFA na última semana de maio, escândalos esses que resultaram na prisão de sete dirigentes altamente influentes, que têm direito de voto – por exemplo – na escolha de países sede de uma Copa do mundo, dentre os quais, o ex-presidente da CBF, José Maria Marín, e outros sul-americanos que participavam do congresso da entidade que escolheria, ao final, o novo presidente da entidade. Desde março do corrente, eu queria escrever sobre Copa do Mundo, mais especificamente a última edição, que foi aqui em nosso país.

A Copa do Mundo de futebol sempre foi um momento muito especial para mim, juntamente com os jogos olímpicos. A Copa que tenho viva na lembrança até hoje foi a realizada nos Estados Unidos, no ano de 1994. De lá pra cá, não perdi uma edição deste maravilhoso campeonato, que reúne os melhores jogadores de futebol do mundo, e que proporciona aos brasileiros uma unidade que não experimentamos no nosso cotidiano. As pessoas que gostam de futebol, como eu, podem ter uma maior compreensão do que estou relatando aqui. Sempre esperamos pela Copa do Mundo de futebol.

Bom, o fato de gostar de futebol – assistir é bem verdade, pois não jogo nada –, não faz de mim um cego, perante as transformações ruins que vêm acontecendo nos bastidores do esporte, e que se reflete de forma maiúscula nos gramados. Até hoje me lembro da famigerada final da Copa do Mundo da França, entre o Brasil e os donos da casa, no ano de 1998.

O Brasil era o time mais bem preparado técnica e psicologicamente para vencer aquele mundial, mas perdeu para a França, numa partida apática, e cheia de teorias conspiratórias. Há quem diga que o Brasil vendeu a Copa, num esquema que envolvia a Nike, FIFA, CBF, CFF, dentre outras entidades. É bem verdade que o comentarista da TV Bandeirantes, e ex-jogador de futebol, Edmundo, já ameaçou falar alguma coisa referente a essa Copa, mas, repito, até hoje tudo isso não passa de teorias.

Bom, uma vez defendido o amor pelo futebol, e relatado um pouco da história de um mundial, entro de fato no objetivo direto deste texto, qual seja: o legado da Copa no Brasil.

Quem não se lembra das inúmeras manifestações que aconteceram em várias cidades do país, no ano de 2013? Eu, particularmente, participei de quase todas na cidade do Rio de Janeiro. Elas começaram para derrubar o criminoso aumento das tarifas de pesagens do transporte público, mas ganharam consistência e volume quando outras reinvindicações passaram a figurar nas pautas: fim da corrupção, mais recursos para a saúde e educação, mudanças no sistema eleitoral, dentre outros. Nessas reivindicações surgiram várias palavras de ordem, dentre elas a famosa: “Não Vai Ter Copa!”

A população brasileira – se não toda, uma significativa parcela –, chegou ao limite da passividade e resolveu gritar que não aguentava mais pagar altos impostos, e não ter serviços básicos, de obrigação do Estado, com dignidade. O “movimento” Não Vai Ter Copa – chamarei assim –, foi crescendo à medida que as obras para a Copa requeriam mais dinheiro do que o previsto inicialmente.

O abandono dos estádios na África do Sul, país sede da então última Copa do Mundo de futebol fez crescer uma discussão sobre os nossos estádios que estavam sendo construídos e/ou reformados, que antes se limitava à crítica esportiva quanto mais. Por essas coisas relatadas acima, e outras que não chegaram a opinião pública de forma ampliada, crescia o coro nas manifestações: Não Vai Ter Copa!

Quando foi anunciado que a Copa do Mundo de 2014 seria no Brasil – se não me engano por volta de 2008/2009 –, muitas promessas foram feitas a reboque: melhorias nas cidades sedes, transportes de primeiro mundo, infraestrutura de ponta, melhorias aqui, melhorias ali, e assim os anos se passaram, e o que temos hoje, doze meses depois do mundial? Em uma leitura rápida em sites, blogs, jornais, revistas, etc. da mídia especializada, pude perceber que o assunto é o mesmo, com poucas discordâncias.

Um dos maiores problemas depois da Copa, para o Brasil, se refere à manutenção das 12 modernas arenas que serviram de palco para os 64 jogos do mundial no ano passado. Dessas doze, quatro pelo menos só trazem prejuízos monumentais a quem as administram, são elas: Arenas das Dunas em Natal; Estádio Mané Garrinha/Nacional em Brasília; Arena Pantanal em Cuiabá e Arena Amazônia, situada em Manaus.

No início do texto escrevi que gosto de futebol e, como tal, acompanho os campeonatos que rolam no Brasil e em outros países. Sendo assim, já ouvi falar de times que não têm tanta expressão no cenário nacional, mas que antigamente – quando se jogava pela camisa, como dizem – tiverem participações em campeonatos nacionais. Bom, acredito que nem todo mundo já ouviu falar dos times: ABC e América de Natal, não é?! Pois esses são os dois times mais conhecidos fora do RN que posso trazer como informação. Ora, sendo assim, tinha necessidade de se construir um estádio novo naquela cidade, com capacidade para mais de 40 mil espectadores, sendo que nem sete mil frequentam os jogos? E o time Nacional do AM; CRAC, Luverdense e Mixto do MT; Gama e Brasiliense do DF, já ouviu falar?! Eu já, mas nem todo mundo acompanha futebol, não é mesmo? Pois bem, as torcidas desses times que vão aos estádios, não encheriam, juntas, o lendários Mário Filho no Rio – Maracanã. A média de público em jogos desses times não passa dos 10 mil espectadores.

Manter os estádios novos custa caro, e muito. Só o Beira Rio, estádio do Internacional de Porto Alegre, não onera em demasia o clube, em contra partida, todas as outras 11 arenas trazem prejuízos milionário. Se os estádios estão dando dores de cabeça, o que dizer das obras que não terminaram e as que nem saíram do papel?! O pacote de obras de mobilidade anunciado no bojo da Copa, foi em todo ou parcialmente modificado, ou seja: muitas obras foram retiradas da lista de prioridade por conta da competição, e jamais irão acontecer. Uma série de obras inacabada como o monotrilho em Cuiabá, o VLT em Brasília, dentre outros, e as ampliações nos aeroportos das doze cidades sedes, podem ter suas conclusões no primeiro trimestre de 2016, e – pasmem-se –, em 2017. Isso mesmo, obras que eram para a Copa do Mundo de 2014, podem ficar prontas apenas em 2017.

O país do futebol viveu momentos únicos no mês de junho e início de julho do último ano; mais de 900 mil turistas vieram para assistirem daqui, a Copa do Mundo de futebol. Claro que nem tudo foi ruim com a Copa; setores hoteleiros e do comércio em geral nunca lucraram tanto em baixa temporada. Todavia, o legado para a população – e é sobre isso que trato neste texto –, ficou muito aquém do que fora prometido.

O futebol passa por mudanças, o cenário nacional não vai lá muito bem. A cartolagem ainda dita as regras fora dos gramados e, consequentemente, influenciam no desempenho dos times que, cá pra nós, estão capengas das pernas, dentro e fora do campo. Claro que isso não poderia deixar de se transparecer na nossa seleção principal, que de forma patética e humilhante, deixou a competição mais importante do calendário futebolístico, de joelhos diante da Alemanha.

Talvez muitas das nossas perguntas sobre o futebol sejam respondidas com as investigações que os dirigentes da FIFA, inclusive o seu moribundo presidente J. Blater, estão sofrendo por parte da Suíça, e do FBI. Talvez comece uma campanha de moralização do futebol, esporte sem dúvida mais popularizado no mundo, e que atrai milhões de corações apaixonados e fanáticos. Espero que eu possa voltar a ver jogos espetaculares, campeonatos idôneos, dirigentes honestos, festas nos estádios. Enquanto isso permeia meus pensamentos, não posso perder a veia humorística/sarcástica que também trago: enquanto você lia este texto, gol da Alemanha!

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