Vivemos num país tropical; com uma natureza exuberante e bem peculiar. A fauna e flora unidas fazem do Brasil um país privilegiado, como poucos no mundo. Nossas frutas são apreciadas em todo o planeta: açaí, kiwi, seriguela, cupuaçu, umbu, sapoti… Trazendo curiosos e estudiosos ao nosso solo. Todavia, não há fruta mais popular do que a famosa banana. Sim, estamos falando daquela fruta amarela, fácil para descascar, rica em potássio, e muito saborosa: banana!

Recentemente, pelo campeonato espanhol, um torcedor mentecapto do Villarreal (já identificado e que atende pelo nome de David Campayo Lleo), lançou uma banana na direção do jogador brasileiro Daniel Alves, defensor do Barcelona. Ao se preparar para a cobrança do tiro de canto (escanteio), Daniel pegou a banana e a comeu. Pronto, essa atitude do jogador gerou muitas manifestações na Espanha e pelo Brasil. No mesmo dia, vários celebridades brasileiras como Ivete Sangalo, Cláudia Leite, Dinho Ouro Preto, Luciano Huck, Angélica, Neymar Jr., e tantos outros (senti falta das celebridades negras, por que será?!), juntaram-se com uma legião de anônimos para dizerem juntos que #SomosTodosMacacos. Não meus caros, não somos macacos!

Tal como os macacos, o ser humano pertence à espécie denominada primatas, e como tal possui características peculiares dessa espécie. Entretanto, há diferenças consideráveis, e Cláudio Vicentino e Gianpaolo Dorigo no livro História para o Ensino Médio nos dizem que: “os primeiros hominídeos, primatas que possuíam algumas características humanas, surgiram na África há mais de 4 milhões de anos. Os primeiros, do gênero Australopithecus, diferenciavam-se de outros primatas pela dentição semelhante à do homem atual, andar bípede e postura ereta”(grifo meu). Numa boa, respeito os que acreditam na teoria da evolução, criada e propagada por Darwin, mas eu não creio que o ser humano é um macaco evoluído.

Durante a semana seguinte a do episódio na Espanha, muitas formas de lucrar dinheiro apareceram. O oportunista Luciano Huck lançou uma camisa vendida por nada menos do que R$ 69,90. A camisa trazia a estampa de uma banana descascada pela metade, acompanhada da infeliz frase que ganhou as redes sociais, jornais impressos e televisivos: #SomosTodosMacaco, somos iguais. Não se pode esquecer que o publicitário que cuida da carreira/imagem do Jogador Neymar Junior também embarcou na onda da igualdade, e fez uma fotografia do jogador com uma criança segurando ambos uma banana; só que a do garoto era de pelúcia e quase do tamanho dele.

Ao ver toda a agitação que esse assunto causou nas redes sociais, eu fiz a minha manifestação a respeito. Não corroborei com os milhares de cidadãos (em sua maioria negros) que postavam fotos e mais fotos comendo, beijando, exaltando uma banana, e a famigerada frase #SomosTodosMacacos. Antes, confesso que ao ver essas coisas eu me senti mal, por mim e por tantos outros que lutaram pelos direitos dos negros, que derramaram seu sangue, que brigaram, chegando às vias de fato, por não aceitarem a alcunha de macacos. Não pude concordar com todo este Panis et Circenses, em que o circenses prevalecia a olhos vistos.

O negro no Brasil sempre foi tido como membro de uma subcategoria. Quando não escravizado (nos primeiros séculos da nação), foi relegado aos piores lugares para morar, a subempregos, além de ser marginalizado e obrigado a carregar um estigma social deveras pesado. Qual o negro neste país, que passando por um momento de discussão com outros indivíduos de tez mais clara, não ouviu de forma pejorativa uma frase do tipo: “vai seu macaco, volta pra selva?!”. Quantos meninos e meninas sofrem agressões verbais nas escolas e em outros lugares, ouvindo exatamente isso: “seu/sua macaco(a)?!”. Neusa Santos Souza no livro “Torna-se Negro” nos traz um relato do “Correia” que diz assim: “Na  Bahia, fiz uma peça onde eu tinha uma fala assim: ‘Eu sou o presidente do sindicato…’ A reação do público foi me chamar de macaco, veado, jogar casca de laranja… O negro não tem direito ao poder, nem mesmo num palco, representando um papel…”. Por tudo isso, e por não acreditar na evolução das espécies (repito), Não Somos Macacos!

Confesso que a campanha da igualdade dos artistas brasileiros, #SomosTodosMacacos quase me comoveu, mas a hipocrisia e oportunismo dos mesmos não permitiu que um sentimento nobre como a comoção, por exemplo, chegasse em mim. Se é para protestar contra o preconceito e a injustiça, precisa ser por tudo então. Vejamos. No ano de 2011 durante uma partida entre Vôlei Futuro x Seda/Cruzeiro, válida pela Superliga de vôlei masculino, o atacante do Vôlei Futuro Michael foi hostilizado pela torcida adversária só por ter uma condição sexual diferente da maioria, ou seja, o profissional era gay. Tal atitude fez com que o time do Seda/Cruzeiro fosse penalizado com a perda do mando de campo, e o mais interessante, fez com que os companheiros de clube do jogador hostilizado entrassem no jogo seguinte vestindo camisas rosas. Para ficar ainda no campo da homofobia, o jogador de futebol Richaryson foi igualmente hostilizado por parte da torcida do seu próprio time (São Paulo), por conta de um vídeo em que ele canta com uma amiga; entenderam que ele era gay por isso. Não vi ninguém, absolutamente ninguém fazer camisas, pintar-se de rosa, e nem postar fotos com a frase: #SomosTodosBichas e/ou Gays. Não vi essa mobilização dos artistas brasileiros quando a dona de casa Cláudia Silva Ferreira, moradora de uma favela em Madureira, zona norte da cidade do Rio de Janeiro, foi arrastada e morta numa viatura da Polícia Militar do estado do Rio de Janeiro; cadê o #SomosTodosCláudia?! Também não vi a grande mobilização pelo sequestro, tortura, morte e ocultação de cadáver do pedreiro Amarildo dos Santos; será que #SomosTodosAmarildo?! Pode ser que eu me engane, mas não lembro do #SomosTodosMaré quando o BOPE entrou na comunidade, ceifando a vida de 13 pessoas para vingar a morte de um capitão; talvez a comoção tenha mudado de bairro naquela época, e estava representada nas flores e velas colocadas em memória dos manequins da Tulon no Leblon.

Bom, como bem sabemos (e não é oculto a ninguém), vivemos em um país deveras preconceituoso e muy racista. Sempre ouvimos que não há preconceito por aqui, que somos uma nação miscigenada, com várias raças, credos e etnias, e que aqui não há preconceito e/ou racismo. No discurso é lindo, digno de loas, mas a realidade é bem diferente. Temos um alto índice de mortes causadas pela homofobia (os números não são certos devido ao despreparo da polícia em entender que se trata de um crime), pela intolerância religiosa, machismo, e pelo genocídio de jovens, homens, moradores de favelas (ou áreas ditas de risco), e principalmente negros. Com esses dados fica difícil manter o discurso de que não somos uma nação racista e preconceituosa.

Vivemos no tempo do modismo, em que qualquer coisa que se faça, dependendo de quem a faça, vira uma febre, devido a facilidade que se tem para divulgar as coisas. Estamos no tempo das postagens, compartilhamentos, ‘curtidas’ numa velocidade absurdamente alta, mas infelizmente de coisas fúteis e efêmeras. Até concordo com a música que diz: ‘’Yes, nós temos bananas, bananas pra dar e vender…’’, mas não me confunda com macacos por favor, meu nome é outro!

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