Conforme noticiado ontem (23) pelo jornal O Globo, o ex-governador do Rio de Janeiro, Sérgio Cabral, preso desde o final do ano passado por corrupção passiva, lavagem de dinheiro, entre outros crimes, está trabalhando na pequena biblioteca da Cadeia Pública José Frederico Marques, em Benfica, na Zona Norte do Rio.

Segundo a reportagem, Cabral é um dos 1.333 detentos, em meio a quase 51 mil, que conseguiram essa condição. “Jornalista por formação, o peemedebista colabora na organização e a distribuição de livros”, diz a matéria.

A reportagem destaca que na cadeia, em que há muito mais detentos do que vagas de trabalho, quando alguém é selecionado para uma atividade, diz-se que foi “classificado”.

Mas apesar das desconfianças de estar sendo beneficiado indevidamente (uma vez que a cada três dias trabalhados, o interno tem um dia de remição de pena), a Secretaria Estadual de Administração Penitenciária (Seap) disse ao O Globo que nem Cabral e nem os demais presos da Lava-Jato foram privilegiados.

“Com proximidade dos livros, o ex-governador tem lido muitos deles, mas seus advogados ainda não pediram que isso também seja contado para diminuir possíveis penas”, diz a matéria numa referência à recomendação do Conselho Nacional de Justiça (CNJ) que prevê que cada obra lida pode significar para o preso menos quatro dias na cadeia.

Aliás, não é de hoje que Cabral se vale da biblioteca como subterfúgio para gozar de privilégios. Como noticiou a revista IstoÉ em março deste ano, ainda quando estava preso em Bangu 8 (ele foi transferido para a Cadeia Pública em Benfica no final de maio), o ex-governador dormia na biblioteca por ser este o único espaço da unidade com aparelho de ar-condicionado.

“O Inspetor de Segurança de Administração Penitenciária e presidente do Sindicato dos Agentes Penitenciários do Estado do Rio (SINDAPERJ), Wilson Camilo Ribeiro, disse à ISTOÉ ter provas de que o ex-governador dorme todas as noites na biblioteca com ar refrigerado do presídio”, informou a reportagem que destacou outros privilégios dos quais Cabral estava se valendo como uso de internet e celular.

Outro caso

Cabral, a propósito, não é o primeiro político corrupto a se valer da figura da biblioteca como instrumento de privilégios no cumprimento de pena. Em 2014, José Dirceu, o ex-homem-forte do PT, foi contratado para organizar e cuidar da biblioteca de um escritório de advocacia em Brasília enquanto cumpria regime semiaberto.

Só que após fiscalização e protesto do Conselho Regional de Biblioteconomia de Brasília, ele foi “rebaixado” da função, passando a ser digitador de fichas no referido escritório.

“O Conselho de Biblioteconomia realizou fiscalização, motivado pelos inúmeros questionamentos recebidos sobre o trabalho exercido por José Dirceu, e não encontrou irregularidades ou exercício ilegal da profissão, já que as funções realizadas por José Dirceu são de digitação de fichas”, informou o Conselho a época.

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