RIO – Como confirmação de que o caminho para o acesso ao conhecimento científico aberto é a resposta para a divulgação da ciência, o Portal de publicações científicas SciELO Brasil ocupa o primeiro lugar no ranking mundial entre os portais de periódicos científicos. Um dos indicadores utilizados pelo ranking é o número de artigos nos formatos PDF, DOC e PS, extraídos dos principais buscadores na Internet, denominados rich files, e o número de artigos recentes publicados no Google Scholar (uma ferramenta do sistema de busca que permite pesquisar em trabalhos acadêmicos) entre 2006 e 2010. Ou seja, não basta que a revista seja indexada nos buscadores, ela precisa ser de livre acesso, e, para tal, ela precisa participar da iniciativa do acesso aberto.

O movimento do acesso livre é uma iniciativa que tem sido abraçado pela comunidade científica brasileira e mundial, buscando não só a comunicação da ciência, mas também a visibilidade para o país. Estamos passando por muitas revoluções no universo das publicações científicas, onde pesquisadores se manifestam contra as grandes editoras de periódicos científicos como forma de repressão contra os abusos no preço dos downloads. Essa iniciativa vai de encontro a este modelo oligopolizado que se apoia numa certificação da ciência que mais limita do que disponibiliza o conhecimento

O movimento tem se articulado através de muitas iniciativas e uma delas é o surgimento gradual de Repositórios institucionais principalmente em universidades, que tem como objetivo disponibilizar a produção científica dos pesquisadores da instituição de maneira que se garanta o acesso livre a essa produção. Esse tipo de iniciativa dentro das universidades pode trazer inúmeros benefícios, como afirma a professora Simone Weitzel: “A universidade vai ter visibilidade, organização da sua produção cientifica, memória institucional. São muitos benefícios e isso até pode tornar a universidade internacional, as pessoas conseguem em um só lugar conhecer a nossa produção, porque fazemos muito e as pessoas não conhecem”

O modelo inicial de repositórios de universidades pretendia que os depósitos feitos fossem de artigos escritos pelos pesquisadores e submetidos a periódicos científicos tradicionais. Uma vez que o artigo fosse aprovado, ele se tornaria indisponível para o acesso às pessoas ou instituições que não pudessem arcar com os custos da assinatura desse periódico. Para remediar essa situação, o próprio pesquisador faria o deposito do pré-print desse artigo (ou seja, sua primeira versão) no repositório institucional. No Brasil, não há muitos casos de sucesso desse tipo de repositório, mas, com o tempo, novos modelos foram surgindo. Atualmente, as iniciativas mais comuns são aquelas que utilizam o software de repositórios para a publicação de literatura cinzenta: monografias, dissertações, teses e até relatórios de pesquisa.

Cada nível de cada uma destas instituições, políticas locais, discutidas e aceitas pelas respectivas comunidades, regulam o depósito da produção científica dos pesquisadores da instituição. Existe uma certificação, mas não excludente ou limitante. Nos Repositórios institucionais, essa certificação ocorre após a publicação e não antes, como nas editoras científicas, onde o artigo é revisado e criticado por um grupo de experts/referees para afirmar ou não a qualidade do artigo. Assim, o autor utiliza repositórios institucionais ou outros especializados para disponibilizar resumos ou textos completos de seus trabalhos. Se, por um lado, não sofrerá restrições de referees, haverá sempre um grupo de voluntários que auxiliam na crítica dos seus originais.

Essa dinâmica de repositórios possibilita a cooperação e a colaboração, que são a base da gestão do conhecimentoem rede. Ocompartilhamento e a troca de conhecimentos geram uma nova dimensão para inovação. “Isso facilitaria esse fluxo de informação mais direto e, por consequência, traria mais benefícios para a sociedade porque o desenvolvimento científico seria mais veloz.”, afirma Simone Weitzel.

O conhecimento está onde o pesquisador está. Se o pesquisador decide armazenar seu trabalho num Repositório institucional ou num periódico de acesso aberto, ele mesmo confia nesse instrumento como fonte de informação científica e atribui a ele esse grau de confiabilidade e credibilidade. Seria assim um “critério de autoridade” para Repositórios institucionais. Como afirma Sayão, os Repositórios institucionais trazem agora para universidades e instituições de pesquisa a oportunidade de se fortalecerem institucionalmente a partir da visibilidade de sua produção acadêmica organizada e disponível, como um retrato fiel de sua instituição, a partir de seu repositório institucional. E o SciELO Brasil como um repositório científico cumpriu com o seu objetivo de dar essa visibilidade ao país ocupando o primeiro lugar entre os Top Portais de Acesso Aberto no ranking elaborado pelo Conselho Superior de Investigação Científica (CSIC) da Espanha.

Caminhamos para o inevitável. O acesso aberto deixa de ser uma necessidade para virar uma obrigação para a difusão e desenvolvimento da ciência. Grandes editoras de periódicos científicos precisarão se adaptar ou formular novas propostas para sobreviverem a esse novo círculo da comunicação científica. Em novos tempos de e-books e “faça você mesmo”, não só as editoras de periódicos científicos precisarão se reinventar, mas também as editoras de livros. Mas esse é outro assunto para outra discussão.

Clique aqui e leia integralmente a entrevista de Simone Weitzel que compôs essa matéria.

 

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