“[…] talvez não haja na nossa infância dias que tenhamos vivido tão plenamente  como aqueles […] que passamos na companhia de um livro preferido. […] Depois que a última página era lida, o livro tinha acabado. Era preciso parar a corrida desvairada dos olhos e da voz que seguia sem ruído, para apenas tomar fôlego, num suspiro profundo. […] Queríamos tanto que o livro continuasse, e, se fosse impossível, obter outras informações sobre todos os personagens, saber agora alguma coisa de suas vidas, empenhar a nossa em coisas que não fossem totalmente estranhas ao amor que eles nos haviam inspirado e de cujo objeto de repente sentíamos falta, não ter amado em vão, por uma hora, seres que amanhã não seriam mais que um nome numa página esquecida, num livro sem relação com a vida e sobre cujo valor nos enganamos totalmente […].

PROUST, Marcel. Sobre a leitura. Campinas: Pontes, 1989.Tradução: Carlos Vogt. p. 9, 22‐24. (Fragmento).

Meus primeiros contatos com a literatura foram dessa forma: eu lia e quando virava a pagina me lamentava da leitura ter sido rápida demais. Acontece que eu cresci e agora tenho plena consciência das minhas filias e fobias, talvez por isso a maturidade na leitura esteja sendo obtida agora.

Continuo implacável na minha luta contra o que chamo obesidade informacional. E escrevi sobre isso também aqui.

Fora ter cortado a TV, as minhas ultimas decisões foram:

  • Desinstalei os aplicativos do Facebook e zap-zap do celular;
  • Evito entrar em bancas de jornal e ler até a capa dos principais veículos de notícias;
  • Acesso o e-mail no computador através do link do e-mail e não mais do portal;
  • Luto constantemente para evitar ler propaganda como banner, catálogos de lojas e outdoor nas ruas.

Essas foram algumas das minhas decisões, não desejo que ninguém seja igual a mim, por isso preciso muito de feedback sobre esse assunto. Ou será que só eu sofro com essa demanda absurda de leitura?

Se não conseguimos desenvolver mecanismos de coleta e transformar esses dados e fatos em informação, de nada vale termos acesso a miríades de fontes desses dados. Ao contrário, é possível que essa enxurrada de não-informação que temos acesso ou recebemos diariamente, acabe dificultando ainda mais nossa tarefa de transformar tudo isso em informação útil e depois em conhecimento aplicado.

Não creio que exista “solução técnica” para evitar a desinformação ou uma garantia de escapar a uma intoxicação, a um rumor. Fatos engraçados e memes pulam na tela, como evitar o loop desinformativo na rede. Situações que você entra para pesquisar determinado tema, mas é distraído por outros assuntos e fica horas navegando e se esquece do tema inicial são frequentes.

O que existe como solução é: foco, atitudes, competências e uma cultura informacional a adquirir com a ajuda de regras usadas pelo jornalismo de investigação e pela investigação científica.

  • Para que ou com qual finalidade vou ler isso?
  • Conhecer e verificar as fontes
  • Confrontá-las
  • Verificar os fatos evocados
  • Etc.

A importância da avaliação da informação em relação a esta poluição informacional – o risco da desinformação, a falta de fiabilidade, a mediocridade da informação – são alguns dos desafios que devemos resolver. As poluições informacionais apresentadas por superabundância; mediocridade da informação; abusos e efeitos perversos da publicidade; contaminação da informação e me afastando delas, pretendo evitar:

  • Perda do espírito crítico (preguiça intelectual diante da facilidade de acesso);
  • Risco de relativismo total (colocar todos os tipos de informação e todas as fontes no mesmo plano);
  • Ilusão de informação, confundindo-a com conhecimento, com cultura.

Existe muito que estudar e aprender ainda, os desafios da avaliação da informação são desafios educativos, de formação intelectual, de desenvolvimento do espírito crítico e da capacidade de julgamento dos indivíduos. O que você sugere?

Para saber mais:

DAVENPORT, Thomas H. – “Ecologia da informação: por que só a tecnologia não basta para o sucesso na era da informação”, São Paulo: Futura, 1998.

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