O documentário O Retorno da Terra – Tupinambá dirigido por Daniela Alarcon e Fernanda Ligabue teve sua estreia, com debate entre as mesmas e a personagem Glicéria Tupinambá, no SESC – Unidade São Gonçalo, no dia 02 de maio de 2015. A exibição ocorreu com o encerramento do Curso Reflexões sobre a História Indígena e Africana, ministrado pela Prof.ª Rita Santos, doutoranda do Programa de Pós Graduação em Antropologia Social do Museu Nacional – PPGAS/MN/UFRJ e organizado por Katiane Silva do SESC-SG.

Da esquerda para direita:  Glicéria Tupinambá; Daniela Alarcom; Fernanda Ligabue; Katiane Silva e Rita Santos. Foto: Luciana Rodrigues/ Revista Biblioo

Da esquerda para direita: Glicéria Tupinambá; Daniela Alarcom; Fernanda Ligabue; Katiane Silva e Rita Santos.
Foto: Luciana Rodrigues/ Revista Biblioo

O filme retrata a retomada das terras tupinambás, localizadas na região Sul do Estado da Bahia, em 2010. Estas terras haviam sido tomadas por fazendeiros no auge da produção do cacau, com o coronelismo no Nordeste Brasileiro. Muitos fazendeiros não viviam mais na região, apenas exploravam as terras e seus descentes tornaram-se indivíduos influentes na localidade. Durante a retomada das terras em 2010, muitos índios da tribo foram presos e torturados, entre eles os índios Babau e Glicéria.

O Retorno da Terra – Tupinambá foi fruto de pesquisa de mestrado em Ciências Sociais pela Universidade de Brasília (UNB) de Daniela Alarcon, cuja dissertação intitulada: O retorno da terra: as retomadas na aldeia Tupinambá da Serra do Padeiro, sul da Bahia. Disponível para consulta no repositório da UNB. Daniela atualmente é doutoranda do PPGAS/MN/UFRJ.

O documentário é uma produção independente, contando com o apoio de uma ONG de São Paulo e da colaboração financeira de 500 pessoas. Com duração de 25 minutos, o documentário foi gravado em 5 dias e contou com depoimento de 18 habitantes Tupinambás. O filme será exibido na primeira semana de maio em vários lugares do Rio de Janeiro, depois percorrerá o Brasil e até mesmo países europeus.

Durante o debate, a antropóloga destacou que a história tenta apagar a memória dos indígenas e tem como aliado, para esse apagamento, à mídia. Comentou o quanto os tupinambás são organizados e desenvolvem estratégias de guerrilha, como se esconder na mata, enfrentar os ataques dos policiais e dos pistoleiros e que estes desenvolveram uma educação própria para seus habitantes.

Glicéria, professora indígena, retratou o quanto ela e o seu povo sofreram para a retomada da terra. Esta região encontrava sérios problemas ambientais, como a redução de nascentes dos rios e a extinção da fauna e da flora.  Com a retomada das terras, este se organizou. Eles fizeram um trabalho de educação e de recuperação ambiental, mesmo com pouco apoio da Educação e sem nenhum apoio do Instituto do Meio Ambiente (IBAMA).

Os tupinambás criaram escolas indígenas cujo estudo é diferenciado, pois preservam a identidade e ensinam as crianças o valor da tradição e do meio ambiente e dão responsabilidade aos jovens. A professora alertou que “a educação é fundamental para a nossa luta. A sabedoria é a educação. Evoluir não significa largar o seu passado e a sua tradição.” Ressaltou o baixo salário pago pelo governo aos professores e que a intenção deste é que as crianças indígenas frequentem uma escola comum, pois lá tentam apagar a história do seu povo, através da não valorização da memória oral, em detrimento a valorar a história contada apenas nos livros didáticos. Ela percebe que, nas escolas comuns, o dia do índio (19 de abril), há uma valorização do índio americano, com as pinturas e as roupas que são colocadas nas crianças, porém este dia deveria ser de reflexão real sobre a história indígena no Brasil.

O Retorno da Terra Foto: Daniela Alarcon

O Retorno da Terra
Foto: Daniela Alarcon

Com a retomada das terras, os tupinambás fizeram também um resgate da flora e perceberam que desta forma, os animais, que antes pareciam extintos, estão voltando para a mata. Atualmente são 22 comunidades indígenas com, aproximadamente, 220 famílias com 5 mil habitantes. Entre muitos dos seus conhecimentos transmitidos ao público, Glicéria destacou a importância de preservar o meio ambiente para não acabar com o mundo: “A vida é a água, a terra e o sol. O capitalismo é falido. A gente só quer o suficiente que Deus nos deu. Não devemos viver no tempo da loucura”.

Finalizo teste texto com uma frase da antropóloga Daniela, “As narrativas indígenas são apaixonantes.”

E faço o convite para que todos assistam ao documentário, clique aqui e confira.

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