Hoje me deparei com um comentário que dizia: “a cultura que eu vejo atualmente está muito longe de desenvolver qualquer indivíduo. Cultura sem ética, sem moral, sem respeito, cultura que não valoriza exposições, bibliotecas, museus etc.”

Bibliotecas e museus são os espaços mais lembrados quando pensamos em “espaços de cultura”, assim como exposições são a forma mais lembrada de “manifestação artístico-cultural”, mas não os únicos, disso não temos dúvida (espero).

Como bibliotecários, nosso papel não é julgar a cultura (nem a arte, que tantas vezes é confundida com cultura), mas lutar para que possa haver o debate sobre “o que é cultura” ou “o que é arte”, sem que haja censura, garantindo que haja livre circulação de ideias e informações para embasar os que querem se engajar no assunto.

Funk é cultura? Queer Museum é cultura? Leonardo da Vinci é cultura? Marcel Duschamp é cultura? Grafite é cultura? Não nos cabe responder, mas dar subsídios para que esse debate aconteça.

A ascensão de um pensamento retrógrado na política tem feito estragos no que concerne a esse assunto.

Recentemente vi uma postagem no Facebook que expunha comentários de pessoas que criticavam uma obra realizada a mais de quatro séculos do pintor Carlo Saraceni, associando o artista barroco a prática de pedofilia.

Poucos argumentos com nenhum embasamento, mas aquela certeza de um segmento da população que crê dominar todos os assuntos, junto a propaganda política do candidato que veio a ganhar as eleições presidenciais.

Marte e Vênus em uma Paisagem (1605-1610). Pintura em cobre de Carlo Saraceni (Museu de Arte de São Paulo, São Paulo). A obra acusada de promover pedofilia.

Saraceni é cultura? Pinturas barrocas são cultura?

Diz-se que um famoso escritor proferiu em algum momento que “os idiotas vão tomar conta do mundo; não pela capacidade, mas pela quantidade”.

Falando nisso, e Nelson Rodrigues, é cultura?

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